domingo, 29 de março de 2009

Estupro Psicológico

PS: os nomes citados são, em sua maioria, fictícios, para não gerarem processos mais tarde.

Lembrando-me do meu longínquo passado, tive a brilhante ideia de postar aqui algumas de minhas peripécias e aventuras de colegial (àqueles a que essa palavra remete Sexy Hot e saias vermelhas, por favor saiam agora).

Então, um dia, chegou uma colega nova. Ela era estranha e do Uruguai, mal falava. Nome? Marina Victoria. Logo fez uma amiga, Edilana, uma gordinha muito simpática, que fez 90% dos meus trabalhos no segundo ano (e rodou por causa disso, coitada). De qualquer forma, a colega nova era meio cheia de si, embora introspectiva, e isso era um bom motivo para sacaneá-la.

Junto de meus companheiros with-no-notion, que na época eram cúmplices inabaláveis de bobagens que, hoje, faríamos 40x pior, resolvemos colar papéis com temas comprometedores. "Sou gay" e "Me chute" já não eram suficientes, então tive que pensar em algo maior para me sobressair, algo que seria analisado e discutido, deixaria uma impressão e acarretaria um choque imediato - o que, face às consequências cabíveis a um colégio de "freira", originava as gargalhadas nas ociosas bocas de outrem.

Eu, então, sabedor dos possíveis problemas que isso me traria, rasguei um pedaço de folha de caderno em que jamais nada seria escrito e anotei uma frase ameaçadora. Colei nela sem pensar duas vezes com adesivos da agenda. Ela não notou por horas. Gargalhadas soaram por todo o recinto. Eu, mais uma vez, recebi elogios do lado dark das pessoas. O caso foi abafado por algumas doses de conhecimento inútil (e, ainda assim, mal transmitido).

Alguns dias depois, percebi que um daqueles colegas acerebrados nosso, cujo nome fictício será André, estava mais uma vez se dando mal por algo que não fez. Meu Deus, como aquilo era engraçado. (Isso tudo parece muito pior hoje em dia). Depois de toda aquela cena prazerosa, tive uma daquelas ideias do mal. Sem pensar muito de novo, em busca de mais um pouco de auto-satisfação, escrevi seu nome bem grande na parede, de forma que algum mestre notasse e o punisse. Sem conhecê-lo, de fato, não tem a menor graça. Teria dado certo se um desgraçado - de quem, mais tarde, tive o prazer de me vingar - não me dedurasse em alto e bom tom para o professor corrente. Fui para a direção - e de lá para a psicóloga na mesma hora (acredito hoje que este fosse o procedimento apenas para os casos mais sérios).

Cheguei lá acompanhado de uma moça perigosa, à qual denominávamos "Rosa". Atribuo isso atualmente a uma espécie de escolta. Muita gente daquela instituição rezou para botar as mãos em um de nós, mas poucos conseguiam. No terceiro ano, objetos pesados eram trocados de lugar, e os papos do corredor das freiras eram "eu ainda vou pegar esse safado, eu ainda vou pegar e ele vai me pagar!". Graças a Deus, eu não tinha nada a ver com isso. Quase nada.

Mas naquele momento eu tava ralado. Fui caminhando de cabeça baixa - o perfil de todo culpado quando é capturado - até a salinha do último andar. Era uma daquelas cujas paredes são pré-prontas, uma madeira fina e exatamente simétrica, o que me faz pensar que a árvore foi aberta em cima daquelas tábuas. A Rosa fez um sinal na porta, que se abriu instantaneamente. Lá dentro, sentada no escuro, se encontrava a dona de muitas dores de cabeça: a Sra. Helen, "psicóloga" do corpo docente. Uma verdadeira inútil, mas no fundo era uma boa pessoa. Eu acho.

- Lucas, pode se sentar - dizia ela com a calma irônica de uma superior. - Temos algumas coisas para conversar.
- Pois não.
- Primeiramente, como tu estás? - sim, ela conjugava os verbos corretamente.
- Olha, a gente poderia ir mais direto ao assunto? Eu sei que errei, queria saber o que fazer para consertar meu erro. - velha tática do carpinteiro.
- Lucas, o que tu fizeste foi muito errado. Realmente acho que tu deverias indenizar a escola de alguma meneira, pois tu estragaste um pedaço da parede. É patrimônio da escola.
- A mensalidade que eu pago não cobre estragos e manutenção? - ela ficou pensativa por um pouco mais de tempo, mas não podia perder a pose para um truque tão banal.
- Lucas, a mensalidade que tu pagas não te dá direito de estragar o colégio. Quer dizer que, se eu pagar o ingresso, posso rabiscar as paredes do cinema?
- Tem carpete.
- Lucas, tu não estás me levando a sério.
- Eu aceito. Eu pago, tudo bem; agora eu posso ir? - disse eu, já aliviado por ter conseguido condicionar as coisas ao meu favor.
- Hum... não. Tem mais uma coisinha que eu queria conversar contigo.
- É?
- Sim - e ela tirou um pedaço de papel do meio de sua agenda. Lembro-me até hoje de como gelei. - O que significa isso? - me entregou o papelzinho, ainda com adesivo, onde se lia "Meu pai me estupra". Era o que eu tinha colado na colega estranha.

Essas experiências de 5 ou 6 anos atrás sempre me deixam confuso. Por que eu não agi de forma mais esperta? Como pude deixar acontecer isso? Cair num truque tão óbvio? Como deixei aquela instituição mal feita e mal administrada me pegar? Eles sequer pegavam eles mesmos, aqueles professores que não liam os trabalhos, não atribuíam notas justas, como?! Mas não era só isso: alguém havia me dedurado de novo, e não satisfeito, apresentado a prova do crime. Não podia fazer nada a não ser ocultá-la ali. Tentei utilizar um truque totalmente inovador.

Enquanto eu lia o papel com cara de infelicidade, amassei-o com calma e cuidado em meus dedos de modo que o próximo passo seria rasgá-lo, ou até engolir; minha mãe não iria suportar ter de ir mais uma vez até lá e ser humilhada por aquelas velhinhas hipócritas. Meu pai, se descobrisse, direcionaria sua raiva diária à minha epopeia. Eu estaria perdido, se não fizesse algo. E conforme ia amassando o papel, aplicando uma daquelas frases compulsórias, do tipo "eu não sei o que passou pela minha cabeça, realmente", fui interrompido pela sua fala, que, de amena, passou a apresentar um quê de raiva:

- Não-amassa-o-papel!

Eu parei na hora. Já era. Qualquer passo agora me comprometeria mais e mais... talvez uma suspensão, quem sabe? Já era o quarto termo que assinaria e jamais fora suspenso. A lenda era que dois termos era suspensão; três, expulsão. O que eu merecia, afinal? Forca ou fogueira?

- Eu tenho que conversar com teu pai. Sim, se com tua mãe já não adianta mais, vou falar com teu pai.

Gente, o que aconteceu a seguir é tão massante e complexo que nem eu mesmo lembro; mas fora um truque tão eficaz, que até hoje me orgulho. Consegui me humilhar ficticiamente perante a ela de tal forma, que seus instintos maternos afloraram na hora, e ela compreendeu que se mostrasse para meu pai, uma crise familiar tamanho família iria suceder-se. Arrisquei citar um possível divórcio, agressões físicas e até mesmo expulsão domiciliar. O mais surpreendente é que ela acreditou em cada palavra.

- Ok. Fato é que eu preciso entrar em contato com alguém da tua família. Já que tu me contaste teus problemas familiares, vou tentar uma última vez com tua mãe.
- Mas por favor, não conta pra ela o que te falei... ela iria me matar, com certeza, e iria contar pro pai também...
- Tudo bem, Lucas. Eu vou falar com ela sobre o acontecido. E mostrar o bilhete.
- Não... - cara de apavorado. Se minha mãe visse aquilo, ia ter um treco.
- Sim.

Ok, eu não poderia fazer mais nada. O preço ainda era alto, mas consegui reduzir 90%. Transformei uma tragédia em uma daquelas passagens esquecidas de nossa vida, que somente meia dúzia de pessoas vão lembrar até virarem pedaço de carne podre. Vocês.

Ao contar para minha mãe, a mesma chorou e me questionou "por que eu fazia aquilo com ela".

Essa é a cena que me vem na cabeça quando lembro de um dos atos mais corajosos que já tive.

12 comentários:

Marcos disse...

Lembro disso , ahuuhauhuasa.Gostei dos nomes fictícios.

Paola disse...

oaeiepaoieaopeaieapeaiopeaiopaei

pobre teka :( haha! ;@@@

Anônimo disse...

é bom saber o que as pessoas pensam da gente!!!!

Unknown disse...

droga. quem comentou isso?

Anônimo disse...

OIAEHOIAEHOIEAAEHOIAEHAEIOE!
eu, Fischer.

Diogo disse...

Perfeito retrato dos tempos de escola. Levemente nostálgico pra quem saiu a pouco; exagerado pra quem já esqueceu.
Incrível como a tua lábia sempre funcionou nas situações de perigo.

Unknown disse...

esse comentário me assustou. Mas obrigado por vir até aqui aheauhehua

te amo pelado!

Anônimo disse...

Puta, tu deve ter a mesma cabeça que tinha na época de colégio pra contar isso com tanto orgulho, como se fosse bonito... Coisa que me irrita é gentinha assim idiota que se acha superior... urgh, imbecil.

P.S.: não, não te conheço, vim parar aqui por acaso, mas achei tão ridículo que tive que comentar.

Unknown disse...

po, fala mais aí

Paola disse...

tão ridículo que leu tuuudo E ainda comentou? que sorte, hein lu?! criticas fazem parte da vida de grandes escritores ;) ah, essa fama...

;@@@

Jonas disse...

Queria poder voltar naquela época, mas com a experiência atual. Poder desarmar professores medíocres, com exceções, que tanto me prejudicaram. Certamente, me divertiria. E o mais legal era te ver bolando formas de pegar quem quer que fosse, nas mais variadas tramas. Era muito engraçado.
Abraço pimentinha ahsuhas

Fran disse...

Eu vou lembrar até virar um pedaço de carne podre. uau

Sim, os professores realmente não liam os trabalhos. Eu tenho provas! :O

Eu gostei, não liga pra anônimos chatos ¬¬