segunda-feira, 28 de junho de 2010

Aventuras em Deep Step City

"Thayse diz:
*sério, olha as coisas que acontecem na tua vida
*nao é real sabe

*pq essas coisas só acontecem contigooo"

Eu não posso discordar de minha amiga. Coisas totalmente improváveis têm acontecido comigo desde os últimos tempos, e não consigo negar o quão interessante é visá-los de cima. Acidentes radicais, festas no interior, atuação como estrangeiro, hospedagem a estrangeiros de fato, entre outros.

Porém, o que senti ao visitar a doce cidade serrana de Passo Fundo foi uma mistura de tudo isso. Na noite de sexta, cheguei ao Hotel e assisti a um documentário apavorante, que me fez sentir nojo de ser um ser humano. Tratava-se da difícil vida dos Rumes, um povo que no meio do século passado fugiu de Blangadesh e acabou instalando-se na Eslováquia. Atualmente, não têm o que comer, beber ou morar, vivendo como animais em meio às estepes europeias. Para não morrerem, bebem água de um esgoto podre; também criam cachorros e cavalos. E comem-nos depois.

Amanheci e fui ao Shopping de Passo Fundo. Deixa Viamão no CHINELO. Senti-me numa verdadeira cidade grande, melhor inclusive que a capital em vários aspectos. Havia muita gente bonita (leia-se meninas) e lojas organizadas, jovens engraçadinhos (leia-se meninas), banheiros high-tech, Mc Donald's (!) e várias meninas também. Na rua, pensei ter visto um só mendigo, mas concluí que era apenas um jovem estiloso. Voltei para o hotel ao meio-dia e rumei à UPF, seguindo uma menina do Flemming que encontrei na rua. Até então, eu tinha um imenso preconceito com essa gente, admito. Todavia, algo me fez mudar de ideia ao cair a noite. Segui a jovem verde e peguei o mesmo ônibus que ela sem contestar. Lá, encontrei uma legião verde, tendo pensado "será um ônibus ecológico?", mas não: eram só estudantes do Flemming. Sentei pertinho deles para absorver um pouco da autoconfiança; funcionou.

Cheguei lá; uni-me aos Mottolenses, depois fiz as provas. Ao sair, ganhei uma cortesia para uma festa que haveria à noite. Hmm. Teria de passar mais aquela noite na cidade, mesmo...

Voltei ao centro e consequentemente ao hotel. Em busca de uma Lan House, pela tardinha, saí às ruas. Encontrei uns sujeitos sentados em cima de equipamentos de som na calçada, em frente a uma casa de shows (que até então não me era nada). Perguntei-lhes o que estavam fazendo, ao passo que me responderam: esperando o resto da banda. Naquela noite, tocariam. Neste exato momento, senti-me um barroco: festa de encerramento da UPF ou show underground de uma bandinha de rock? (Tudo bem: isso não lembra em nada o barroquismo, mas gostei da ênfase que deu ao trecho).

Os jovens músicos interioranos me convenceram a entrar com eles, passando-me por Roadie da banda e não pagando um tostão. Não consigo fingir que tal proposta não me atraiu. Voltei para o hotel (era tudo muito próximo), banhei-me e retornei ao local por volta das 23:30h. Ajudei-os a passar o som, etc. Uma banda de pagode invadiu o local - iriam tocar antes deles; indignaram-se por seus equipamentos não estarem no palco até então. Sairam brabinhos, jurando morte ao dono do estabelecimento: estava feita a confusão. Eu já percebi que não passaria de dez pessoas, o público da noite. Comecei a me coçar: teria feito a escolha errada? Como, no entanto, diria-lhes que os deixaria ali àquela hora, depois de tão bem me acolherem! Lá pela meia-noite, porém, chegou um segurança forte e mal amado. Contou o número de integrantes: "um, dois, três, quatro, cinco." Olhou para mim, após, e disse: "quem não for da banda, SAI AGORA!". Eu fiquei imóvel. Ele disse: "o que tu faz aqui ainda, rapaz?", tendo eu respondido algo do tipo: "tá".

Saí com um sorriso no rosto. Fui direto à festa da UPF, que, ironicamente, era a duas quadras dali; ao entrar, notei a semelhança com o Porão do Beco. Considerei isso positivo. De entrada, notei que havia uma área VIP gigantesca dedicada ao curso Flemming, à qual desejei estar; por conta disso, enrolei um bom tempo nos outros ambientes da festa, bebendo e refletindo sobre a solidão de um moço da capital bem no meio das montanhas. Pensei: hora de voltar para o hotel; mas a mão da sabedoria tateou meus seios ao me fazer repetir mentalmente: "eu não vou embora antes que algo incrível aconteça".

Foi quando resolvi circular o camarote do Flemming. Nesta oportunidade, vi um senhor bêbado dançando loucamente. Não perdi tempo:
- O senhor é professor do Flemming de Porto Alegre?
- OI! HAHA! SIM!!!
- Dá aula de quê?
- HA! Biologia, mas agora (trecho incompreensível); e tu, é do Flemming de Passo Fundo?
- Não, não... eu sou da concorrência.
- HAA! Concorrência?
- É, sou do Mottola!
- AH!!! E FOI BEM HOJE???
- Ah, fui sim...
- MARAVILHA!!!

O cara gostou de mim por algum motivo. Em pouco tempo me deu um cartão, "para caso eu quisesse falar com ele algum dia". Foi quando eu notei que o sujeito era nada mais, nada menos, do que o diretor do curso. Ele me pediu para que esperasse, pois iria conseguir uma pulseirinha branca para que eu entrasse na área VIP, logo atrás de nós, onde o pessoal parecia se divertir muito mais. Eu percebi que ele estava alcoolizado, e portanto agradeci, mas não pude aguardá-lo; notei a vulnerabilidade do segurança, que acabara de trocar de posto com o antigo, e aproveitei-me de um segundo de desatenção para INVADIR o local, mas sem perder a pose. Sorri orgulhoso ao ver-me dentro da área vip do Flemming, sintindo-me um verdadeiro FORASTEIRO.

Encontrei um sujeito catarinense, muito gente fina, por sinal. Fiz amizade com ele, não sei bem como, já que não falávamos o mesmo idioma. No andar abaixo de nós, via-se um palco grande, onde uma banda de Metal Gaudério fazia um show emocionante. A propósito, nunca havia visto nada parecido com o estilo dos caras. Tal ocasião despertou em mim e em todos lá um certo sentimento bairrista, e depois de alguns champagnes, comecei a declamar poesias gaudérias, e enfatizando o quão perto estivemos de vencer a Revolução Farroupilha. Após, inventei um grito de guerra para alegrar o amigo "estrangeiro", que foi cantado por muita gente em couro: "VIVA A REPÚBLICA JULIANA!", e o catarina berrava orgulhoso: "VIVAAAAAA!"

Algum tempo depois, conheci uma das pessoas mais simpáticas que já vi. O sotaque interiorano da estudante do Flemming Passo Fundo me despertou algo inexplicável, e em breve já estávamos muito próximos.

Às 11h da manhã, voltei para o hotel. Ela morava a apenas duas quadras, o que facilitou a volta, ainda que meu senso de direção tentasse me subornar. Na rodoviária, ainda conheci um gaudério ancião, cantador de poesias tradicionais. Ficamos amigos, e então peguei o ônibus. Acordei 4h depois em Porto Alegre.

E como fui no vestibular? Bem, se alguém tiver três mil para emprestar, matriculo-me amanhã.

terça-feira, 22 de junho de 2010

O Tarugo Comprometedor

 Rezava a lenda do Mottola que, certa vez, um cocô foi encontrado na lata de lixo, ao lado da patente do banheiro principal. Muita gente se pergunta até hoje: por que alguém cagaria no lixo?

A resposta caiu no meu colo numa tarde desta semana.

Para quem nunca lá pisou, saibamos que se trata de uma antiga casa reformada, frequentada por inúmeros estudantes pela manhã e pela tarde, além de professores e outros profissionais. O banheiro principal é definitivamente luxuoso: possui uma decoração especial, com diversas plantas, pedras e móveis artesanais (até mesmo um sofá!), além de uma banheira e de um espelho gigantesco. E, claro, uma patente.

Porém, nem mesmo este sábio e inspirador recinto é perfeito. Aliás, um defeito grave foi por mim notado assim que minha bexiga forçou-me a adentrá-lo em tal data. Esperei o antigo usuário sair, cuja cara o denunciava, e logo tranquei a porta - o banheiro é extremamente disputado, mesmo nos turnos sem aula. Caminhei vários passos em direção à patente, tão comprido é o ambiente. Encontrei a tábua levantada e, da água mórbida, cumprimentava-me um cocô gigantesco, um verdadeiro tarugo.

Fiquei imóvel por alguns instantes. Só poderia ser brincadeira. O cara recém tinha saído dali e deixado a tábua levantada: quem esqueceria de dar descarga após perder 4kg de massa fecal? Ele certamente estava tonto, concluí, tamanha foi a força necessária para exorcizar aquele monstro ameaçador. O grotesco ser me encarava com certa indiferença, amarronzado, ereto e retorcido. Segui meus instintos e puxei a barulhenta descarga.

A bosta não se moveu.

Preocupado, esperei a caixa encher novamente e dei mais uma descarga. Enquanto isso, tomei coragem e urinei em cima daquele gigantesco pedaço de intestino. Apesar de a ácida amarelinha ter dissolvido um pouquinho a montanha fétida, a aparência ficara ainda pior: desta vez formou-se um caldo marrom amarelado. Quando dei a segunda descarga, porém, a surpresa: o meu xixi sumia, mas o tarugo seguia firme e ainda mais saudável.

Alguém tentou abrir a porta.

Comecei a me desesperar. O banheiro, apesar de enorme, é individual e unisex. Agora imaginem a minha situação: normalmente se faz fila para utilizar tal patente - tanto meninas quanto meninos. Até alguns professores optam pelo famoso local. O que deveria eu fazer? Não restava dúvidas de que a pessoa que estava do lado de fora não ia desistir tão fácil. Sob este contexto, planejei uma fuga.

O banheiro é, contudo, totalmente lacrado (é óbvio), e não havia como sair senão pela porta. Em pouco tempo, uma segunda tentativa de abrir a porta. Na certa era uma menina impaciente, esperando do lado de fora e, mesmo sem ter visto a porta se abrir, verificando se não a haviam destrancado e evaporado após. Algo me fez tomar uma decisão muito arriscada: desistir.


Ah, convenhamos. Eu não ia botar a mão na merda. Preferi assumir o risco. Calculei insanamente a probabilidade de ser um menino: seria aproximadamente 50% se estivéssemos tratando de genética. Não obstante, estamos tratando do Mottola, onde 96% das pessoas fazem xixi agachado, e, destas, 98,2% são mulheres. Ainda assim, ergui o peito, deixei a tábua de pé, despedi-me ironicamente da obra alheia e destranquei a porta. "Se for uma mulher, pensei, vou gritar na hora: AQUILO NÃO É MEU!".


Meu anjo da guarda estava de bom humor: o próximo também era homem.


Saí com certa rapidez e alcancei a rua, onde me misturei aos outros com eficiência e fiquei refletindo. Porém, minha vergonha foi-se esvaindo quando dei-me por conta de duas coisas. 1º: provavelmente o cagão não foi o que saiu antes de mim. 2º: provavelmente o próximo não terá a mesma sorte.


A minha piedade (leia-se alegria) completou-se quando retornei à frente do banheiro e, de súbito, notei que duas garotas aguardavam o pobre falso-cagão sair de lá, após várias descargas, cabisbaixo e com a honra evacuada.




***Moral da história: http://coconobanho.blogspot.com/

sábado, 12 de junho de 2010

Um Dia Para Não Esquecer

Eu sei, eu sei. Ando totalmente vagabundo e ausente. Amigos sem notícia, postagens tardias...

O fato é que ando meio envolvido em algumas situações mirabolantes, nas quais jamais me vi outrora. Nova fase da Super Ego, gravações, amigos no exterior com sérios problemas de saúde e um efêmero e explosivo relacionamento com uma jovem misteriosa, além de uma proximidade muito intensa minha queridíssima amiga Liliane, parceira de crimes Viamão à fora. (A frase anterior foi uma metáfora).

Não obstante, tentava eu adiar a postagem para um dia "especial". E ele nunca vinha, ou ao menos não vencia minha preguiça. Porém, o dia de ontem (sexta-feira) foi um daqueles dos quais jamais nos esquecemos. Depois de tantas semanas sem postar frequentemente, já não domino mais as técnicas de exagero, mas nenhum exagero no mundo poderia ser capaz de sintetizar a minha véspera do dia dos namorados. E isso não foi um exagero.

Tudo começou logo pela manhã, quando notei que não havia mais fluoxetina. Passei o dia inteiro sem tomá-la, e os efeitos da abstinência começaram logo cedo. Acordei com um sujeito invadindo meu quarto: era o gesseiro. O cara veio arrumar um pedaço do teto do meu quarto que me incomodava. Almocei qualquer coisa e fui rumo às aulas de galego arcaico. No caminho, liga-me meu tio, lembrando-me acerca de uma canção que o safado criou para conquistar uma tal. Ele não só queria que eu musicasse sua letra, como desejava-me para gravá-la ainda naquele dia. Virei-me em cinco para gravar a bendita música, cujo estilo era... (ai) Sertanejo Universitário. Tudo pela família.

Após alguns estresses inevitáveis na volta, acabei tendo pouquíssimo tempo de respirar: logo minha amiga e talentosa produtora Liliane viera apoiar-me até mesmo nessas horas de profissionalismo infeliz. Gravamos a tal música melosa em pouco mais de uma hora, alternando-me entre vocal, violão, piano, strings e por pouco não arrisquei uma percussão improvisada, conquanto preocupasse-me o tempo. A tontura aumentava e a sensação de stress me tomava por inteiro, apesar das risadas durante a gravação. A velha maldição química.

Após o ensaio, pelas 21h, sofri um baque tremendo com um assunto sigiloso, um daqueles segredos de Estado dos quais não podemos versar. O fato é que meu coração quase parou de bater, de tanto que bateu. Meus olhos cresceram de pavor, e só não se encheram de lágrimas devido ao meu sistema parassimpático muito aguçado, e algumas doses de prozac que ainda circulavam no meu sangue dos dias anteriores. Mas o que a face escode, o coração não suporta; e tudo viria a estourar mais tarde, porém... vamos lá, não é hora de deixá-los curiosos.

Jantamos, eu e minha simpaticíssima produtora, algumas pizzas bem preparadas próximo ao estúdio.

Por volta da meia-noite, voltava eu a 40km/h, montado numa Tucson gigantesca (praticamente) pela primeira vez, sozinho, nas estradas de chão do Fiúza. Por armadilhas do acaso, perdi o controle em meio ao saibro alto e...

e o carro capotou.