domingo, 13 de março de 2011

El Gran Viaje (Pt. III)


Dia 4 - Me Dei Bem Em Córdoba

Ah, Córdoba. Que viagem podre até lá; fui ao lado do Paulo no ônibus, ouvindo suas músicas. Era de madrugada. "Dormi" lá mesmo, como os guris, no ônibus, acordando torto, com todos os músculos doloridos e com um pouco de dor de garganta por causa do ar. Pois, chegamos as cinco e pouco da madrugada na rodoviária de Córdoba. A ausência feminina já foi decepcionante, mas pensei que era o horário. O sono ainda nos dominava; o alemão, como de costume, deixou o cérebro fundir por causa do sono e resolveu que deveríamos dormir no banco da rodoviária antes de ir para o hostel, por inúmero motivos que só ele entendia. No fim, convenci facilmente os outros que deveríamos migrar para o hostel naquela hora mesmo, e então fomos.
Chegando lá, tivemos de dormir na sala de espera por toda a manhã antes de dar o Check In. Torto de novo. Enquanto isso não foi possível, tomei um banho longo demais num banheiro à moda antiga, e depois fizemos compras no super. Que alegria! Um supermercado com arroz! Não se serve arroz na Argentina em quase nenhum restaurante - nem mesmo na A La Minuta.  Quando chegamos, fizemos o Check In. Eu e o Paulo tivemos uma sorte do caramba por dois motivos nobres: primeiro, porque ficamos no único quarto com Ar Condicionado de TODO o hostel; segundo, porque neste quarto havia uma francesinha doce, meiga, especial, cute-cute, ai ai. E um alemãozinho meio frágil, além de um colombiano que falava gírias em português; o cara era amigo de algum jogador do ínter e se deu bem. Mas a sorte parou na francesa. Ai.
Enquanto isso, fui verificar a instalação dos meus outros dois amigos. Chegando lá, o quarto estava um forno, e seu único companheiro de quarto era um magrão austríaco gosmento, que fedia mais que um porco aberto. Esse cara era ardido, deus que me livre. Até a saída de Córdoba, pensei a mesma frase: "me dei bem". Fizemos o almoço, eu e o Paulo (mais ele, claro). Ficou bom, mas foi pouco. Acordei os dois (que estavam no quarto com o fedido) e fomos ao terraço comer. Antes disso, fomos presenteados com meia panela de arroz, pelo Colombiano e seus amigos. Acho que, por ele ter vivido no Brasil, sabe bem o quanto aquilo é precioso para nós. Depois disso, fomos dormir.
De tarde, após a nossa soneca com o ar ligado e com a francesinha ao lado, resolvemos dar uma volta. Fomos conhecer a cidade, e eis as fotos que tiramos ali em cima. Muitas igrejas, monumentos e prédios bacanas nos foram apresentados em Córdoba.  Quando voltamos, a recepcionista do hostel se tornou "a melhor coisa de Córdoba" (the best of Cordoba), apelido dado por mim mesmo a ela, e a ela dito, e por ela aceito. Era uma australiana linda, meiga, atenciosa e que cantava tri bem. Qual qualidade mais é necessária?

Mas em compensação...

Logo seu horário terminou, e quem assumiu seu lugar foi o gordo mais insuportável da face da terra. Enquanto isso, havíamos saído de novo, todos os quatro, para uma incrível aventura numa espécie de feira estilo "brique da redenção". Lá, nos perdemos em duplas logo no início, tendo o Rafael e eu seguido por um lado, e o Paulo e o Alemão por outro. Jamais nos encontraríamos de novo senão no hostel. Ficamos rondando horas, até o anoitecer, procurando-os e olhando os ítens à venda, até que essas duas criaturas nos enrabaram com força:


Tenho até vergonha de dizer, mas a verdade é que o mais fraco da história foi esse da direita aí. O Rafael me chamou para olhar essas duas, que vendiam tambores muito mal feitos por 40 pesos argentinos (R$ 20,00). Aquelas bostas não valiam nem cinco pilas. Aí começamos a nos olhar, olhar para elas, olhar para os tambores... e elas nos fisgaram. Com aquele sorriso cordobenho, uma voz doce e um sotaque sensual, resolvemos rachar um tambor em troca de... bom, de nada. A foto que tiramos depois foi só mais um truque delas para que não nos arrependêssemos, muito embora tenha partido de nós. A propósito, não me lembro de quem tirou essa foto, para ser sincero. A parte boa é que paguei menos de um terço, então nem fiquei tão triste depois... mas o Rafael não se perdoou nem-um-minuto-sequer, mesmo após deixarmos Córdoba rumo a Mendonça. Tentando justificar a compra, procurava arrancar sons bons daquele pedaço de pele suja, mas nada daquilo valia um pouco do preço pago. Pois é... mulheres são mulheres em todos os lugares do planeta.

Pegamos um táxi quando desistimos de procurá-los. No hostel, bebemos muita cerveja argentina. Além disso, em algum momento da viagem o Paulo tinha comprado um fumo argentino, e resolvemos fazer algo que nenhum de nós costuma fazer (só porque era em outro país mesmo). Isso, pela noitinha, no terraço: juntamos o fumo (fumo mesmo, nada de drogas!), enrolamos num papel de seda e tentamos utilizar aquilo. Numa mesa afastada, um bando de israelenses fumavam coisas mais elaboradas, e, não duvido, até mesmo maconha. Uma judiazinha veio nos pedir fogo; depois de bebermos várias cervejas, já não lembro o que eu lhe disse, mas creio que a tenha convidado a se juntar... sim, acho que fiz isso mesmo, mas ela respondeu algo relacionado aos seus amigos. Agradeceu o fogo e saiu.

Descemos para beber mais cerveja. Entrei no quarto e conversei horas com a francesa e com o alemãozinho frágil. O cara era legal, e ela... ai, ai. Mostrei para ambos as maravilhas femininas que filmei em Rosário; ele gostou, e ela ficou toda enciumada. Foi nessa hora que ela me disse a frase mais brilhante de toda a viagem: "Lucas, é sério, tu precisa aprender francês! Não há nada mais sexy do que um estrangeiro falando francês!". Desde então, venho estudando francês por conta própria. Je les dis la vérité.
  
Jantamos algo que já nem lembro o quê. Bebemos umas Quilmes e então fomos pegar a chave do quarto com o gordo recepcionista. O cara começou a complicar. Depois de resolver nos dar a chave, usamos e devolvemos para o gordo. Ele nem nos olhou. Alguns minutos depois, precisávamos da chave de novo, mas ele disse que não estava com ele. Nós tínhamos quase certeza de que havíamos devolvido... mas fomos em busca da chave mesmo assim. Subimos, descemos, subimos, descemos... e nada da chave, que por óbvio estava com o gordo - mas ele seguia negando. Subimos mais uma vez e começamos a reconstituir os fatos: concluímos que o Rafael havia sim deixado a chave com o gordão. Fiquei muito irritado. Descemos e eu falei em um tom ríspido como um bom gaudério: "Está con vos!!!" e ele já estava com a chave na mão, nos entregando. Antes que eu pudesse baforejar de raiva novamente, ele já meteu uma conversa sobre não termos pagado, sendo que já havíamos. Uma leve confusão que poderia ser resolvida com um simples telefonema. E foi o que sugeri, mas ele disse que não havia linha por causa da chuva - mentira, pois estava jogando joguinhos bestas na internet. Indignei-me de vez, e olhando nos seus olhos nojentos e fracassados, gritei: "NO PODES DECIRME QUE NO HIZO ALGO QUE HIZO!!!" (não pode dizer que não fiz algo que eu fiz) e repeti algo semelhante a isso (corrijam-me os guris se adulterei meu discurso) umas três vezes, enquanto ele respondia algo diferente, até que os guris me afastaram, porque a minha vontade era de furar aquela cabeça gorda e trapaceira. Saímos de lá com a chave, e fomos fazer alguma coisa de brasileiros. Dormimos, pois. 


Na manhã seguinte (a última em Córdoba), levantamos para fazer o Check Out, e a deusa australiana já estava na recepção de novo. Coisa mais querida. Nos ofereceu um pão com uma pasta gosmenta e negra que até agora não entendi o que era, mas era australiana... aquele troço era mais salgado que picolé de molho shoyo. Mas tive que o provar, e de fato era ruim como a aparência, mas ela seguia comendo aquilo de um jeito sexy e feminino, dizendo "it's just delicious!". Ela nos fez provar, todos os quatro. Os guris engoliram rápido, mas eu, espertinho, joguei no lixo do banheiro quando ela não estava vendo. Depois falei "now I really deserve your Facebook!" (agora eu realmente mereço o teu facebook), e ela não respondeu nada, enquanto escrevia algo num papel em frente a nós, dando uma informação. Fiquei meio envergonhado, mas pensei "viu, isso que dá ficar dando uma de espertinho o tempo todo no estrangeiro", e então ela olhou nos meus olhos e me entregou um papelzinho, dizendo: "my facebook."


Saímos de lá com aquele sorriso no rosto. Então fomos pra Villa Carlos Paz, próximo a Córdoba. A melhor vista até então foi durante a viagem de ônibus até tal vila, que fica numa região serrana levemente (muito) fria. Durante a viagem, tiramos fotos muito científicas, como a exposta a seguir. Chegando lá, andamos num teleférico interessante, e chegamos ao alto de um morro donde se tinha uma visão magnífica, também exposta ali. Não contendo nossa felicidade, tiramos a terceira foto exposta também depois. A seguir, comemos num restaurante buena onda no qual o alemão e o Rafael pediram uma amburguesa, se não me falha a memória. Seja qual for o prato, veio muito menos do que eles esperavam, ou qualquer coisa do gênero, o que os desagradou muito, mas não deram o braço a torcer. Porém, bondoso que sou, ofereci pedaços do meu "milanesa" (pão com bife à milanesa... sim, sei que é estranho) aos dois, além de batatas fritas. Se não me engano foi isso; comeram felizes e sem remorso algum. O que não sabiam é que eu havia cuspido na comida antes de oferecer.
Mentira, mas gostaria de ver a cara desses dois ao ler isso.




 Mais tarde, à noitinha, fomos pegar o ônibus pra Mendonza, o que seria a viagem mais longa até então. Deus sabe a quantidade de água que jogou em nós através de precipitações. Não havia para onde fugir, basicamente, e ficamos meio ilhados embaixo de um pilar, esperando o maldito ônibus. Enquanto isso, inventamos um jogo divertidíssimo de Quiz, no qual os participantes escolhiam um tema para que cada um de nós criasse uma pergunta; consequentemente, os outros deveriam acertar a resposta. Brincamos disso por tanto tempo, que mesmo depois de dormirmos no ônibus, ao chegar em Mendonza pela manhã, seguimos brincando do ponto que paramos.

Ah, esses guris de apartamento lá de Viamão...