domingo, 22 de agosto de 2010

Os Variados Tipos de Rock

"Pela primeira vez desde a criação deste blog, limito-me, por questões temporais, a transcrever um texto clássico, mas genial, que recuperei de minha infância. Quem não o leu ainda, chegou a hora de esclarecer algumas dúvidas. PS: as fotos ficaram por minha conta."


"Você rockeiro deseja explicar ao seu filho como são as complicadas nuances e sabores do Rock and Roll? Então use as dicas abaixo e conte para ele como se fosse uma historinha de conto de fadas.“No alto do castelo, há uma linda princesa - muito carente - que foi trancada, e é guardada por um grande e terrível dragão…” 


METAL MELÓDICO:O protagonista chega no castelo num cavalo alado branco, escapa do dragão,salva a princesa, fogem para longe e fazem amor. 



TRUE METAL:O protagonista chega no castelo e vence o dragão em uma batalha justa usando uma espada. Banhado no sangue do dragão, transa com a princesa. 
 















THRASH METAL:O protagonista chega no castelo, duela com o dragão,salva a princesa e transa com ela. 



HEAVY METAL:O protagonista chega no castelo numa Harley-Davidson, mata o dragão, enche a cara de cerveja com a princesa e depois transa com ela. 




FOLK METAL:O protagonista chega acompanhado de vários amigos e duendes tocando acordeon,alaúde, viola e outros instrumentos estranhos. Fazem o dragão dormir depois de tanto dançar, e vão embora, sem a princesa, pois a floresta está cheia de ninfas.
 


VIKING METAL:O protagonista chega em um navio, mata o dragão com um machado, assa e come.Estupra a princesa, pilha o castelo e toca fogo em tudo antes de ir embora. 
















DEATH METAL:O protagonista chega, mata o dragão, transa com a princesa, mata a princesa e vai embora. 



















BLACK METAL:Chega de madrugada, dentro da neblina. Mata o dragão e empala em frenteao castelo. Sodomiza a princesa, a corta com uma faca e bebe o seu sangue em um ritual até matá-la. Depois descobre que ela não era mais virgem e a empala junto com o dragão. 
PS: essa foto é real.




GORE:Chega, mata o dragão. Sobe no castelo, transa com a princesa e a mata. Depois transa com ela de novo. Queima o corpo da princesa e transa com ele de novo. 




















SPLATTER:Chega, mata o dragão, abre-o com um bisturi. Sodomiza a princesa com as tripas do dragão. Abre buracos nela com o bisturi e estupra cada um dos buracos. Tira os globos oculares da princesa e estupra as órbitas. Depois mata a princesa, faz uma autópsia, tira fotos, e lança um álbum cuja capa é uma das fotos.  





DOOM METAL:Chega no castelo, olha o tamanho do dragão, fica deprimido e se mata. O dragão come o cadáver do protagonista e depois come a princesa.














WHITE METAL:Chega no castelo, exorciza o dragão, converte a princesa e usa o castelo para sediar mais uma “Igreja Universal do Reino de Deus”.



















NEW METAL:Chega no castelo se achando o bonzão e dizendo o quanto é bom de briga. Acha que é capaz de vencer o dragão; perde feio e leva o maior cacete. Foge e encontra a princesa. Conta para ela sobre a sua infância triste. A princesa dá um soco na cara dele e vai procurar o protagonista Heavy Metal. O protagonista New Metal toma um prozak e vai gravar um disco “The Best Of”.
 














ROCK N’ROLL CLÁSSICO:Chega de moto fumando um baseado e oferece para o dragão, que logo fica seu amigo. Depois acampa com a princesa numa parte mais afastada do jardim e depois de muito sexo, drogas e rock’n roll, tem uma overdose de LSD e morre sufocado no próprio vômito.
 

PUNK ROCK:Joga uma pedra no dragão e depois foge. Pixa o muro do castelo com um “A” de anarquia. Faz um moicano na princesa e depois abre uma barraquinha de fanzines no saguão do castelo.





GRUNGE:Chega no castelo e tem uma overdose de heroína.
















 



PROGRESSIVO:Chega, toca um solo virtuoso de guitarra de 26 minutos. O dragão se mata de tanto tédio. Chega até a princesa e toca outro solo que explora todas as técnicas de atonalismo em compassos ternários compostos aprendidas no último ano de conservatório. A princesa foge e vai procurar o protagonista Heavy Metal.
 













HARD ROCK:Chega em um conversível vermelho, com duas loiras peitudas e tomando JackDaniel’s. Mata o dragão com uma faca e faz uma orgia com a princesa e as loiras.


















GLAM ROCK:Chega no castelo. O dragão ri tanto quando o vê que o deixa passar. Ele entra nocastelo, rouba o hair dresser e o batom da princesa. Depois a convence a pintar o castelo de rosa e a fazer luzes nos cabelos."

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Insano ou Veterano

Quando me dizeis 'essas coisas só acontecem contigo' eu discordo mentalmente. Não obstante, o destino quer provar-me que, [palavrão], essas coisas só acontecem comigo.

Embaixo do famoso viaduto (na fronteira da John People com a Doce Neto) estive eu novamente aguardando a lotação on the way home com um olho desconfiado e o outro promíscuo. Nada diferente dos dias frios que nos antecederam. Acostei-me à mureta pichada a alguns metros do tal viaduto, totalmente sozinho num raio de vinte metros, exceto pelo constante fluxo de pessoas que iam e vinham diante de meus olhos e por uma única menina que resolveu embarcar em meu lado direito enquanto, naturalmente, também esperava seu transporte.

Então veio ele, entre a multidão transumante, do viaduto até a minha direção. Era um senhor de aparência normal, nem pardo nem claro, nem tão velho assim; vestia um casaco bem-traçado de pêlos tingidos e limpos, quase que formal. Conquanto o acompanhasse com os olhos - visto que olhava para a direção de onde vinha - não o havia notado de fato. Qual não foi minha surpresa, porém, quando o estranho senhor cessou seus passos rápidos a dois metros de mim e passou a encarar-me com um vigor imprenscindível. De súbito, a observação obsecada transfigurou-se num minúsculo e oblíquo sorriso. Eu o encarei de volta, com a incerteza do perigo e a convicção da razão, e assim nos enfrentamos, olho a olho, por uns longos dez segundos.O saudei ironicamente com um leve aceno de cabeça. Fui retribuído com uma inusitada indagação.

- Nos conhecemos, né?
- Oi?
- Eu e tu, nós nos conhecemos?
"É só um bêbado", imaginei, a despeito de sua voz e de seu passo não o comprometerem em absolutamente nada.
- Que eu me lembre, não...
- Como não! Do Vietnam!
- Daonde?
- Do Vietnam, rapaz! Tu foi meu companheiro!

Observei-o bem. Suas mãos estavam suspensas fora dos bolsos; não trazia consigo qualquer artefato nem bolsa. Tampouco me parecia embriagado ou sob efeito de quaisquer substâncias. Respirei aliviado e levantei a primeira suspeita, que em seguida se confirmaria.

- O senhor também lutou na Guerra do Vietnam?
- Claro!!! Tu serviu comigo rapaz! - e aproximou-se até bem perto de mim com um sorriso bem maior.
- Ah! É verdade! - disse eu, já convencido de sua insanidade.
- Eu tava vindo dali e olhei bem pra ti, daí pensei, esse cara serviu comigo no Vietnam!
- Pois é! Mas e aí, teu batalhão venceu lá?
- Ih... foi duro, foi duro. E tu?
- Também, mas isso faz um tempo já né...
- Faz tempo!
Neste momento ele notou a moça ao meu lado, olhou-a de cima a baixo e fez uma expressão redonda com os lábios, sob o som das vogais fechadas. Tornou a dirigir-me a atenção com a seguinte informação:
- Tu sabe, né. O Quartel e o Batalhão ficam bem ali embaixo, na Rua da Praia...
- Claro que sei.
- Pois é, qualquer coisa que precisar, já sabe. Rua da praia. - repetiu, apontando para o além.
- Sei! - disse eu, ainda admirado com a loucura do velho megalomaníaco, e, não resistindo, cutuquei-o mais um pouco: - E o General, como vai?
O sujeito trocou o sorriso (até agora imóvel) por uma expressão gélida.
- He, esse aí... sabe como ele é né...
- Continua o mesmo, de certo.
- Esse aí não muda mais. É que ele é da aeronáutica, mas eu sou da Marinha de Guerra, né...
- Ah sim, por isso mesmo.
Por alguma razão, toquei em um ponto fraco. Ele quis então se despedir o mais rápido possível.
- Mas foi um prazer te rever meu rapaz! - disse, procurando minha mão para apertar, a qual não achou (por óbvio). Então deu-me uns tapinhas amigáveis no ombro esquerdo, continuando: - e tudo de bom pra ti, hein.
- Então tá! Pro senhor também!
- E não esquece... - levantando a mão direita - Qualquer coisa... é só atirar! - disse, simulando o aperto de um gatilho com o dedo indicador e com um sorriso e uma piscadela.
- Tem que atirar, sempre! - respondi, sorrindo de volta. O homem então seguiu seu caminho sem cambalear.

Não sei explicar o que me passou após. A moça ao meu lado me olhou e disse "é, com louco não se discute...". Eu quis lhe dizer "se discute, sim, e se aprende", mas ela não ia entender. Pensei seriamente em fingir-me de louco para ela, mas fiquei com preguiça, e portanto apenas lhe sorri.

Verdade é que, com efeito, possa ser eu o insano soldado desmemoriado que sequer reconhece seu velho parceiro de guerra.


sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O Roubo Solidário

Após o assalto emotivo, venho-vos apresentar a mais nova enrascada na qual nosso amigo (eu mesmo) se meteu.

Tudo começou quando, faminto, dirigi-me ao restaurante de costume mientras dejaba la simpática clase de español e procurei a mesa mais confortavelmente afastada, pensando já no futuro.

O fato é que, entre o almoço e a aula da tarde, valham-se-me mais de duas horas de ócio, utilizadas - normalmente - para estudar e... bom, a princípio só isso. Pois, servi-me, comi rapidamente (como de costume), sobremesei  após e dei-me por satisfeito: hora em que abri os livros.

Comecei a ler um longo texto de espanhol. Menos pela leitura cansativa do que pela noite mal dormida, não resisti e caí no sono ali mesmo, em cima do livro, deixando minha mochila (aberta, sim) na cadeira vazia ao lado. E sonhei; ah, como sonhei!

Quinze minutos depois, um (xulo) cutucão no ombro, seguido de uma voz com aquele suave sotaque maloqueiro, conquanto feminino:
- Ô moço, vai dormir aí com tua bolsa aberta?
- Hã? - disse, abrindo os olhos e formulando uma imagem embaçada de uma mulher simples, porém nada confiável.
- Se é outro, hein...

Dito isso, sumiu. Quando me recompus, olhei para minha mochila, de fato aberta. Olhei ao redor; ninguém nas mesas próximas. Minha carteira estava semiaberta e havia dinheiro para fora. Contei-o. Faltavam R$10,00 na quantia total, mas ainda sobraram R$ 20,00 em notas menores.

"Que alma caridosa!", pensei, "deixou dinheiro para eu pagar a conta!"

Logo me dei conta, também, que a doce ladra havia me acordado, avisando-me de um possível furto futuro. Não sei se por consciência pesada, ou por desejar monopólio criminal, exclusividade no roubo. Oh, minha solidária e ciumenta infratora, se leres isso um dia, saibas o quão agradecido fiquei, a despeito do desfalque, que me custou a impossibilidade de dividir os custos do ensaio daquela noite. Por outro lado, ao caminhar de volta ao curso, conformei-me facilmente com a seguinte consciência:

"Ela me acordou preventivamente, e eu lhe paguei o almoço. Estamos quites."

E, sendo assim, substituí a leve raiva destrutiva por um leve sentimento de... burrice.