terça-feira, 26 de abril de 2011

Cavalos Em Doses Nostálgicas

Abrirei meu coração a despeito de represálias.
Durante este feriadão de páscoa, fiz uma viagem divertida à praia com o núcleo de amizades que cultivei ao longo da adolescência - Diogo, Fran, Paulo, Jonas e Marcelo: o grupo que me acompanha desde piá. Tal viagem, sobretudo, fez-me refletir não só acerca de temas como a importância da escola na sociedade, mas também sobre tempos antigos, a origem e a importância de nós mesmos na minha vida (isso mesmo, na minha), e é a isso que dedico este post.


Sem dúvida, a época de minha vida de que mais sinto saudade é o ano de 2005. No meu segundo ano do ensino médio, eu tinha uma banda chamada Klarion - nome que surgiu pelo apelido que me deram, na oitava série, quando raspei o cabelo -, composta por mim, pelo Jonas, pelo Israel (que virou um maloqueiro drogado) e pelo Fernando (que aos poucos foi mudando e sumindo). Tocávamos apenas três músicas próprias, sendo que uma era um melódico em inglês, e as outras um hardcore nacional, por tanto quase idênticas. Volta e meia, abusávamos de covers aleatórios, como Green Day... ou seja, definitivamente não havia coerência no repertório, mas não era isso que me importava (na verdade, nunca pensei nisso), e sim o fato de ensaiarmos toda sexta-feira à tarde, após o colégio (e exatamente ao lado deste), na parte em construção da casa do Fernando. Volta-e-meia, algumas pessoas do colégio iam nos assistir, o que nos dava um leve gostinho do que é ser um Rockstar. Muitos elogiavam Freedom, a música em inglês, que havia sido feita para a minha primeira namoradinha, mas que sequer fazia sentido (nem sua tradução, nem sua gramática). Tocávamos diversas vezes nos ensaios, e algumas vezes em ocasiões festivas e/ou apresentações no colégio que estudávamos todos (menos o então Bad Boy Fernando).
Além disso, para completar a alegria da sexta-feira, fazíamos maravilhosos encontros noturnos, pós-ensaios. Nesta época, eu ouvia basicamente Poison e Skid Row. O grupo era a banda e amigos (Fran, Diogo, Paulo, às vezes Rafael e Marcelo) e convidados (gurias aleatórias). Batizamos o grupo de "O Clã" e agregados. Os encontros baseavam-se em escutar Hard Rock '80, geralmente glam, enquanto bebíamos arduamente Vodka pura, ou Whiskey, e às vezes outras coisas mais leves ou ainda mais fortes.

Ocorriam geralmente na casa do Fernando, ou no sítio do Jonas, mas lembro-me bem do que houve na casa do Diogo, no final daquele ano (onde "oficialmente" acabou a "banda"), e também na casa da então "namorada" do Fernando... e principalmente dos primeiros encontros, que ocorriam na casa antiga do Paulo.

Foi lá que o vi vomitar pela primeira vez, ao som de Skid Row na masmorra do andar debaixo, enquanto passava o filme O Iluminado na sofisticada sala de vídeo de cima, mas que só um ou outro assistia-o. Aliás, lá foi a primeira vez que vi o Paulo bêbado, e provavelmente foi a primeira vez que isso aconteceu mesmo. Se não me engano, a Nicole e a então namorada do Fernando estavam lá.
Lembro-me das noites nesta casa em que bebíamos vinho ruim, em garrafão. Talvez tenha sido o segundo encontro. Lembro-me de ter passado mal e dormido no chão, tendo meus amigos me sacaneado, e após ter eu dormido na cama de um quarto muito aos fundos da casa, que nem mais lembro como é. Lembro-me com carinho das manhãs seguintes, em que comi arruda, e tiramos aquelas fotos com o azulzinho, e a que fecha este post, na caixa d'água. A nossa única preocupação era repetir aquelas besteirinhas na semana seguinte. Besteirinhas que, apesar de nos fazer sentir tão rebeldes, eram tão inocentes quanto uma brincadeira infantil. Nas noites que passava em casa, durante a semana, dormia assistindo DVD's do Guns e do Kiss, decorando cada fala entre as músicas com a certeza de que um dia as usaria num show meu.


O fato é que isso foi acabando aos poucos. Os motivos são tantos e tão diversos... primeiro, posso culpar o tempo. Simplesmente passou, e a maturidade (ou simplesmente mudança paulatina) foi chegando de forma diferente para cada um. Também creio que o fim daquele ano decretou o fim do grande grupo, reduzindo-o em menores. Além do quê, gostos musicais foram modificando-se, o que, creio, foi o principal motivo. Nos meios de 2006, se não me engano, o emocore e afins abalaram o Fernando que, influenciável e influenciante, acabou difundindo a idéia. A banda Silk Bullet que eles (Fernando, Diogo/Israel (?), Jonas e Paulo) haviam formado, o símbolo mais próximo de nossos ídolos do qual já estivera perto até então, passara a tocar músicas radicalmente diferentes, até ser mal vista e tristemente humilhada em um show que decretou o fim do grupo musical, que já havia trocado o nome (de forma infeliz, ao meu ver) para Justine.

Alguns encontros insignificantes ocorreram em 2006, mas nada mais me parecia o mesmo. Nesta época, eu ouvia muito Skid Row, mais que antes, além de Guns, alguma coisa de Firehouse. Quanto a bandas, lembro-me de tentar formar uma que outra, tendo uma vez feito uma ridícula com amigos do colégio, que por algum motivo ensaiou na casa do Fernando também (lembro-me inclusive de ter pago a ele para usar o espaço que antes era de nossa banda). E quando finalmente, depois de inúmeras tentativas, conseguimos reproduzir porcamente uma música simples do Iron Maiden (Wasting Love), fomos aplaudidos pelos amigos com certa pena. Foi naquele exato momento que desisti.

Com o fim de 2006, Diogo e Marcelo entraram na faculdade, Paulo iniciou o cursinho, assim como Fran, Jonas e Rafael. Conheci a minha ex-namorada Paola e ficamos juntos por três anos, o que supriu a falta definitiva do clã pela novidade que foi o primeiro namoro sério. Nesta época eu ouvia basicamente só Bon Jovi, Cinderella, Tesla e principalmente Aerosmith, esta com uma frequência absoluta, fosse dia ou fosse noite. Andei perdido por muito tempo, sem saber se faria cursinho ou qualquer coisa do gênero, apesar de desejar fazê-lo. Meu pai, na época muito mais estressado do que o normal, por algum motivo foi contra, e por tanto só pude convencer minha mãe (e começar o curso) em maio. Aquele ano foi basicamente uma perda de tempo e dinheiro, tendo eu ignorado os estudos do curso e vivido o primeiro ano de namoro como se fosse o principal motivo de minha existência. Isso tudo fez eu esquecer o clã, que já não existia. Aliás, nossos encontros se resumiam em encontros de casais: eu, Paola, Diogo, Fran... volta e meia Paulo e Helena... mas isso já se afasta tanto do que motivou esta reflexão que não vou seguir, parando exatamente aqui: fins de 2007, quando notei que a negligência do curso me faria reprovar em Direito.


O grupo que sinto falta morreu, e seus membros se transformaram.
Vivíamos no passado. A geração do Hard '80 não sobreviveu em lugar algum com solidez; tampouco fora jamais muito forte neste canto do mundo. A verdade é que éramos um grupo ínfimo, um verdadeiro clã perdido no espaço e no tempo, que nasceu de um desejo de ser igual aos nossos ídolos, e sobreviveu enquanto pudemos nos isolar. Qual não era a dor, porém, em saber que éramos únicos? O que todos os homens desejam é que sua tribo seja reconhecida, difundida e respeitada. Mas as pessoas sequer sabiam o que éramos, ou melhor, o que queríamos ser. A verdade é que, muitas vezes, nem nós mesmos sabíamos.

Hoje em dia, sinto uma alegria e um pesar quando nos reunimos. A alegria é pela sorte de ainda sermos amigos tão próximos quanto antes - com menos bebida, brincadeiras enlouquecidas, gritos e música, verdade, mas ainda amigos fortes. O pesar é por ver que, cada vez mais, aqueles momentos do "clã" se tornam passado, e não há a menor possibilidade de voltarmos a sentir por um segundo que seja o mínimo da euforia que sentíamos todas as sextas-feiras de 2005. Digo isso por muitos motivos, mas principalmente pelo gosto musical. O que me parece é que, ultimamente (repito que são apenas minhas impressões), Paulo não se interessa como antes em tocar guitarra, nem lhe agradam muito mais as músicas que nos emocionavam naquela época.
 Hoje, me parece preferir músicas latinas e brasileiras, de qualidade, obviamente, mas muito longe do Hard Rock anos oitenta. Jonas, pelo que demonstra, ouve muito mais Jazz do que Hard Rock. O Diogo passou um tempo longe, e portanto não sei muito mais de seus gostos, mas tampouco creio que escute o Hard com a mesma frequência que antes. E, antes de mais nada, eu mesmo venho mudando, cada dia mais, ouvindo coisas que esqueci durante meu "aprendizado musical", como Sting & The Police, Queen, Jethro Tull, Lynyrd Skynyrd, Red Hot Chilli Peppers e, confesso, The Ting Tings durante um pedaço de 2010. A única cosia de Hard Rock que escuto com mais frequência, mas ainda assim muito esporadicamente, é Mr. Big e Danger Danger, o que não fazia na época nostálgica.
Agora me questiono: se o clã era fundamentalmente composto pela música, e esta era majoritariamente oitentista... como poderíamos retornar a este momento sem aquelas velhas canções de CD's copiados, ou DVD's de shows quaisquer? É óbvio que tudo mudou, que hoje a perspectiva é outra e a visão também para cada um de nós; mas será possível que nenhum destes sente saudade daquela época em que vivemos por alguns momentos um pouco do que então queríamos viver pela vida toda? E por que é que nunca conversamos sobre isso?

Ontem à noitinha, enquanto voltava de carro da zona sul, escutei algumas músicas da banda Steel Dragon, o que me lembrou o filme fantástico que vi inúmeras vezes no ano de 2005: Rockstar. O que via neste filme era basicamente tudo que queria ter vivido. O que não sabia, porém, é que estava vivendo, de uma forma ou de outra, algo semelhante, apesar de mil vezes menos significante; e até mesmo o fim do filme foi semelhante ao fim do clã, aos meus olhos, e, pensando nisso, ontem, é que senti uma nostalgia ávida e fortíssima, e uma saudade que nunca senti antes, nem pelos dois anos que morei em Florianópolis, nem pelo sítio que vivi em meio às cachoeiras em 2001, nem pela minha oitava série, com tsurus e Tibia, em 2003, nem mesmo pelo meu primeiro gole de cerveja em 2004, quando também fui às minhas primeiras festas, fiquei com a primeira menina e perdi a virgindade de uma forma absolutamente insignificante. Nada, nem mesmo os três bons anos em que namorei, nada me traz tanta saudade quanto 2005, naquela construção aos fundos, com aqueles equipamentos ruins, e aquela esperança de que aquilo duraria para sempre.

Sem dar grandes rodeios, porém, não é segredo que o que sinto por cada um destes que me acompanharam desde esta época é uma forma singela de amor, apesar do significado distorcido que damos a esta palavra. Não só por terem sido personagens principais da época mais saudosa de minha vida, mas por ainda estarem dispostos a sentarem num círculo de madrugada afim de conversar sobre a sociedade, ou irem à beira da praia para jogarmos e ensinarmos uns aos outros, sobretudo, que ainda temos muito a aprender juntos.

sábado, 9 de abril de 2011

Antes de Fechar Um Mês

Esse é o post mais inútil deste blog. Por favor, se tens algo a fazer, faça ao invés de lê-lo.

Só não quero fechar um mês sem escrever, porque seria a primeira vez, creio. E daqui a poucos dias um mês será fechado. Ando com tão pouca coisa para ser feita (quase nada até agosto), que tenho até preguiça de postar, e muita (eu disse muita) preguiça de seguir o relato da viagem que fizemos. Não prometo que seguirei, mas prometo que, se não o continuar, sofrerei muito.

Tenho visto meus novos colegas da faculdade com muita frequência (mais ou menos uma vez por semana). Quando não estamos todos juntos, estamos separadamente unidos, ou em pequenos grupos, ou pelo msn. Bons amigos e bons músicos estão me fazendo entender o verdadeiro sabor da universidade. Quanto ao início das aulas, acho que a natureza é sábia ao nos dar essa folga de seis meses, e tudo ocorrerá ao seu tempo. Estou feliz, apesar de já começar a sentir o delicioso tédio invadindo-me as unhas... levará alguns dias ainda para que chegue ao sangue, e então se espalhar. Quando isso acontecer, devo pensar em fazer algo mais do que ir à academia, jogar Zelda, estudar francês e alemão por conta própria (meio inutilmente), ler o russo psicodélico de novo e reescrever Atemporah aos poucos (por falar nisso, Diogo, deixei um recado no outro blog).

A Vilma deu cria, e há 12 cachorrinhos pretos e marrons (todos iguais). Quem estiver interessado, não sei bem se meus pais estão vendendo ou dando, ou rifando - mas avisai-me.

O fato é que, com ou sem leitores, uso o presente espaço para aliviar algumas importantes constatações, porém não me permito relatar nada sem muita emoção, e, convenhamos, umas férias de outono não podem ser muito emotivas. De qualquer forma, este blog não será extinto tão cedo, e declaro aqui um suspiro como prova.