Abrirei meu coração a despeito de represálias.
Durante este feriadão de páscoa, fiz uma viagem divertida à praia com o núcleo de amizades que cultivei ao longo da adolescência - Diogo, Fran, Paulo, Jonas e Marcelo: o grupo que me acompanha desde piá. Tal viagem, sobretudo, fez-me refletir não só acerca de temas como a importância da escola na sociedade, mas também sobre tempos antigos, a origem e a importância de nós mesmos na minha vida (isso mesmo, na minha), e é a isso que dedico este post.

Sem dúvida, a época de minha vida de que mais sinto saudade é o ano de 2005. No meu segundo ano do ensino médio, eu tinha uma banda chamada Klarion - nome que surgiu pelo apelido que me deram, na oitava série, quando raspei o cabelo -, composta por mim, pelo Jonas, pelo Israel (que virou um maloqueiro drogado) e pelo Fernando (que aos poucos foi mudando e sumindo). Tocávamos apenas três músicas próprias, sendo que uma era um melódico em inglês, e as outras um hardcore nacional, por tanto quase idênticas. Volta e meia, abusávamos de covers aleatórios, como Green Day... ou seja, definitivamente não havia coerência no repertório, mas não era isso que me importava (na verdade, nunca pensei nisso), e sim o fato de ensaiarmos toda sexta-feira à tarde, após o colégio (e exatamente ao lado deste), na parte em construção da casa do Fernando. Volta-e-meia, algumas pessoas do colégio iam nos assistir, o que nos dava um leve gostinho do que é ser um Rockstar. Muitos elogiavam Freedom, a música em inglês, que havia sido feita para a minha primeira namoradinha, mas que sequer fazia sentido (nem sua tradução, nem sua gramática). Tocávamos diversas vezes nos ensaios, e algumas vezes em ocasiões festivas e/ou apresentações no colégio que estudávamos todos (menos o então Bad Boy Fernando).

Ocorriam geralmente na casa do Fernando, ou no sítio do Jonas, mas lembro-me bem do que houve na casa do Diogo, no final daquele ano (onde "oficialmente" acabou a "banda"), e também na casa da então "namorada" do Fernando... e principalmente dos primeiros encontros, que ocorriam na casa antiga do Paulo.

Foi lá que o vi vomitar pela primeira vez, ao som de Skid Row na masmorra do andar debaixo, enquanto passava o filme O Iluminado na sofisticada sala de vídeo de cima, mas que só um ou outro assistia-o. Aliás, lá foi a primeira vez que vi o Paulo bêbado, e provavelmente foi a primeira vez que isso aconteceu mesmo. Se não me engano, a Nicole e a então namorada do Fernando estavam lá.
Lembro-me das noites nesta casa em que bebíamos vinho ruim, em garrafão. Talvez tenha sido o segundo encontro. Lembro-me de ter passado mal e dormido no chão, tendo meus amigos me sacaneado, e após ter eu dormido na cama de um quarto muito aos fundos da casa, que nem mais lembro como é. Lembro-me com carinho das manhãs seguintes, em que comi arruda, e tiramos aquelas fotos com o azulzinho, e a que fecha este post, na caixa d'água. A nossa única preocupação era repetir aquelas besteirinhas na semana seguinte. Besteirinhas que, apesar de nos fazer sentir tão rebeldes, eram tão inocentes quanto uma brincadeira infantil. Nas noites que passava em casa, durante a semana, dormia assistindo DVD's do Guns e do Kiss, decorando cada fala entre as músicas com a certeza de que um dia as usaria num show meu.



O fato é que isso foi acabando aos poucos. Os motivos são tantos e tão diversos... primeiro, posso culpar o tempo. Simplesmente passou, e a maturidade (ou simplesmente mudança paulatina) foi chegando de forma diferente para cada um. Também creio que o fim daquele ano decretou o fim do grande grupo, reduzindo-o em menores. Além do quê, gostos musicais foram modificando-se, o que, creio, foi o principal motivo. Nos meios de 2006, se não me engano, o emocore e afins abalaram o Fernando que, influenciável e influenciante, acabou difundindo a idéia. A banda Silk Bullet que eles (Fernando, Diogo/Israel (?), Jonas e Paulo) haviam formado, o símbolo mais próximo de nossos ídolos do qual já estivera perto até então, passara a tocar músicas radicalmente diferentes, até ser mal vista e tristemente humilhada em um show que decretou o fim do grupo musical, que já havia trocado o nome (de forma infeliz, ao meu ver) para Justine.
Alguns encontros insignificantes ocorreram em 2006, mas nada mais me parecia o mesmo. Nesta época, eu ouvia muito Skid Row, mais que antes, além de Guns, alguma coisa de Firehouse. Quanto a bandas, lembro-me de tentar formar uma que outra, tendo uma vez feito uma ridícula com amigos do colégio, que por algum motivo ensaiou na casa do Fernando também (lembro-me inclusive de ter pago a ele para usar o espaço que antes era de nossa banda). E quando finalmente, depois de inúmeras tentativas, conseguimos reproduzir porcamente uma música simples do Iron Maiden (Wasting Love), fomos aplaudidos pelos amigos com certa pena. Foi naquele exato momento que desisti.


O grupo que sinto falta morreu, e seus membros se transformaram.
Vivíamos no passado. A geração do Hard '80 não sobreviveu em lugar algum com solidez; tampouco fora jamais muito forte neste canto do mundo. A verdade é que éramos um grupo ínfimo, um verdadeiro clã perdido no espaço e no tempo, que nasceu de um desejo de ser igual aos nossos ídolos, e sobreviveu enquanto pudemos nos isolar. Qual não era a dor, porém, em saber que éramos únicos? O que todos os homens desejam é que sua tribo seja reconhecida, difundida e respeitada. Mas as pessoas sequer sabiam o que éramos, ou melhor, o que queríamos ser. A verdade é que, muitas vezes, nem nós mesmos sabíamos.
Hoje em dia, sinto uma alegria e um pesar quando nos reunimos. A alegria é pela sorte de ainda sermos amigos tão próximos quanto antes - com menos bebida, brincadeiras enlouquecidas, gritos e música, verdade, mas ainda amigos fortes. O pesar é por ver que, cada vez mais, aqueles momentos do "clã" se tornam passado, e não há a menor possibilidade de voltarmos a sentir por um segundo que seja o mínimo da euforia que sentíamos todas as sextas-feiras de 2005. Digo isso por muitos motivos, mas principalmente pelo gosto musical. O que me parece é que, ultimamente (repito que são apenas minhas impressões), Paulo não se interessa como antes em tocar guitarra, nem lhe agradam muito mais as músicas que nos emocionavam naquela época.
Agora me questiono: se o clã era fundamentalmente composto pela música, e esta era majoritariamente oitentista... como poderíamos retornar a este momento sem aquelas velhas canções de CD's copiados, ou DVD's de shows quaisquer? É óbvio que tudo mudou, que hoje a perspectiva é outra e a visão também para cada um de nós; mas será possível que nenhum destes sente saudade daquela época em que vivemos por alguns momentos um pouco do que então queríamos viver pela vida toda? E por que é que nunca conversamos sobre isso?


Sem dar grandes rodeios, porém, não é segredo que o que sinto por cada um destes que me acompanharam desde esta época é uma forma singela de amor, apesar do significado distorcido que damos a esta palavra. Não só por terem sido personagens principais da época mais saudosa de minha vida, mas por ainda estarem dispostos a sentarem num círculo de madrugada afim de conversar sobre a sociedade, ou irem à beira da praia para jogarmos e ensinarmos uns aos outros, sobretudo, que ainda temos muito a aprender juntos.
6 comentários:
As coisas mudam, os interesses mudam, as pessoas mudam, mas a amizade, quando é real, permanece apesar de todas as mudanças.
Tenho amigos da época do segundo grau até hoje, apesar do tanto que mudamos, e dos anos que já se passaram! E essa é uma das melhores coisas da vida!
Ótimo post, Lucas.
O que eu sinto quando nos encontramos é o outro lado da coisa. Apesar das bombachas do Paulo e do jazz do Alemão eu vejo que ainda somos os mesmos.
O pior é não ter tempo, pois se tivéssemos certamente nos encontraríamos com muita frequência.
Quase chorei, heheh...lembrei de tanta coisa...
2005, realmente, foi um ano inesquecível...fiquei mais amiga de vcs, aprendi a escutar músicas de verdade e comecei com o Diogo!!!
Aconteça o que acontecer essas lembranças e a nossa amizade nunca serão esquecidas!!!!
Eu gosto de KIT KAT =)
Ninguém nunca vai ter a mínima idéia do tamanho do meu sofrimento em ver aquelas pessoas indo em direção contrária a minha. Eu estava tão longe, forçava, mas, já estávamos tão distantes. Eu gostava muito de vocês, mas, amava a música. Em uma escolha errada eu perdi a todos; Sinto muito.
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