terça-feira, 30 de março de 2010

Bem Cuidado, Príncipe!

Cedo agora este humilde espaço para que meu amiguxo Sérgio (ótimo cronista) conte-nos um episódio que com ele ocorreu recentemente, e que me fez rir por muitos momentos. A partir de agora, é com ele:

"Não lembro mais de onde vínhamos. Mas estávamos indo para o pálio 98 (quitadinho). Havia deixado o carro em uma rua qualquer da cidade baixa; sempre com o ** na mão, rezando para que quando voltasse o carro ainda estivesse ali. Chegando ao carro, comentei com os guris que não havia nenhuma criatura cuidando os carros, e que eu já estava prevenido com um real na mão. Marcelinho disse “Não tem... É um troco que tu economiza”.  No controle do alarme do carro tem dois botões. Um com o cadeadinho fechado e um com o desenho de um cadeado aberto. Era este último que eu precisava apertar para abrir as portas do carro. Assim o fiz. 
Não sei bem de qual distância o barulho poderia ser ouvido, mas confesso que não estava temeroso. Ainda deu tempo de entrar no carro; Vinicius saltou para o banco de trás e Marcelo se posicionou ao meu lado no banco do carona. Olhei para baixo. Freio de mão, ponto morto... Tudo ok. Não, não estava tudo ok. Assim aconteceu o fato: Quando olho pra cima vejo um mendigo mulato a uns trezentos metros de distância correndo em nossa direção enquanto sacodia os braços. Usain Bolt teria inveja. Em muito pouco tempo chegou ao carro e eu não tive a reação de arrancar, atropelá-lo, gritar por socorro. Estava entregue para qualquer coisa que fosse acontecer.  O ser chegou no carro e enfiou a cabeça pra dentro do Paliozinho. Eu podia sentir sua respiração. A esse altura já estava cagado. Então ele falou com uma voz rouca e alta a frase que ecoará pela eternidade.
- Bem cuidado, Príncipe!
E esticou a mão para receber a moeda de um real. Mediante as risadas de meus amigos ele não se contentou. Olhando para Marcelo disse:
- E do lado vai o barão, só comandando o bagulho todo!
Nesse momento todos ríamos. Foi então que ele notou Vinicius no banco traseiro.
- Lá atrás vai o rei, só dando pressão!
A criatura riu com sua voz rouca e nós rimos mais. Ficamos ali por uns 10 segundos rindo juntos e então eu decidi arrancar o carro antes que ele tirasse uma faca do bolso e começasse a pedir a fortuna real. Foi assim que meu Palio 98 se tornou a carruagem da realeza... Até eu bater ele na volta pra casa. "

sábado, 27 de março de 2010

Pequeno Acidente

Acabo de voltar da casa do Fernando Prates, um sujeito esquisito e músico interessante. O plano era buscá-lo com a velha camionete (a mesma do post do Palavra da Vida), e depois buscarmos uns cabos no Paulo e, então, irmos até minha casa e compormos uma canção esperta enquanto esperávamos o Diogo.

Antes de sairmos, estouramos umas bombas muito potentes no gigantesco quintal do Prates, o que me fez sentir um prazer terrorístico que há muito não sentia. Depois ele subiu no furgão aberto podre da camionete, dei a partida e peguei a rua errada assim que saí da casa dele. A partir de agora, faço uso do discurso direto.
- Tu pegou a rua errada, cara! - gritou Prates lá de trás.
Parei exatamente no meio da rua e dei uma ré enquanto dobrava.
- OLHA O POSTE!

>>BANG!<<

Foi assim que amassei boa parte da traseira da camionete, que, lembro, não possui espelho retrovisor interno (sim, estou tentando me justificar). A impotência sentida foi tamanha que, ao chegar no Paulo, já tínhamos desistido de tocar. O Diogo me ligou e o contei.

Acabo de chegar em casa, estacionei direitinho e não contei para o meu pai ainda. A minha esperança é que ele jamais descubra, e para tanto, espero que não precise abrir a porta da caçamba. Ah, também espero que ele não note os 10cm de deformação na lataria.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Confissões - Parte I

Ontem me ocorreu uma lembrança, a qual despertou uma vontade, que naturalmente me levou à consciência de que já tenho maturidade o suficiente para retomar alguns assuntos. Quando criei este blog, perguntei-me se um dia versaria sobre isso; no entanto, tinha certeza que, de uma forma ou de outra, viria à tona. No fundo, eis um dos motivos para tal endereço; cá estou, pois.

A Vaquinha Caolha

Fato: comecemos pelo pior de todos, então. Se você aí optar por nunca mais falar comigo após ler isto, dar-lhe-ei toda a razão. No entanto, não olvidem minha prematura idade nestas épocas. Certo dia, quando ainda morava num sítio no interior de Morungava, aos onze anos, ouço meu pai chamando meu nome. "Lucas! Vem aqui, rapaz!". Pelo tom de voz, já percebi que sofreria alguma punição. Restava saber o que era desta vez. Ao chegar, cabisbaixo, na parte de trás da casa, encontrei-o junto de um vizinho campeiro e uma vaca. "Foi tu que atirou no olho dessa vaca?"

Versão contada: estava eu no campo, certo dia, junto da espingarda de chumbinho de meu pai. Encontrei uma vaca deitada a uma certa distância e alguns pássaros brancos em cima da cabeça dela. Mirei nos pássaros e disparei algumas vezes, então eles fugiram e eu voltei para casa.

Versão real: de fato, eu queria atirar na vaca. Mas calma lá: eu jamais quis cegá-la. A distância que calculei na minha versão era a verdadeira - vários, vários metros (uns 8, ou 10m talvez). Mesmo que eu tivesse mirado em seu olho, jamais o teria acertado propositalmente. É que eu tinha ouvido falar que o couro da vaca não permitia a passagem do chumbo, e logo quis testar. Constatei que era real ao atirar em seu corpo. Ela sequer se mexeu - o chumbinho tocava nela e caía. Os pássaros de fato existiam, e foram eles que me chamaram a atenção para algo: o couro da cabeça dela talvez não fosse tão duro. No entanto, jamais imaginei que machucaria; é um animal tão forte. Mirei - de muito longe, ainda - em sua cabeça "para ver o que acontecia", e quando disparei, a vaca se mexeu um pouco, mas permaneceu deitada. Quando notei que a havia ferido, saí correndo de volta para casa, guardei a arma e fiquei refletindo por muito tempo. Prometi jamais atirar em um animal de novo - o que, de fato, cumpri, se desconsiderarmos o reino dos insetos. Se por acaso meu pai ler isso e procurar satisfações, devo lembrá-lo da história do lagarto - a qual não se tratara de um simples teste infantil.

Punição: uma leve chantagem emocional paterna.


Eu Quebrei Aquele Espelho

Fato: na plenitude de meus 16 anos, fui a uma festa no Condado. Só havia "conhecidos", o que não é nada anormal em Viamão. Apesar disso, não conhecia 80%, afinal, grande parte era composta por Simpatizantes de Maloqueiro, uma raça muito comum na juventude acerebrada atual. Por algum motivo - álcool - eu cheguei ao banheiro junto de um amigo do Diogo (um sujeito sem clavícula) e lhe comuniquei que iria soquear um espelho médio. Ele duvidou. Então eu dei um soco, e nada aconteceu. Fui motivado a tentar novamente, e desta vez fi-lo mais forte - e quebrou. Neste momento, saímos correndo (eu, cambaleando), e enquanto ele conseguiu fugir para um lado, um pseudo-maloqueiro resolveu cabecear meu olho. Após a festa, minha mochila foi roubada de um quiosque com várias roupas dentro. Concordo que, nesta noite, agi como um deles, mas não parecia tão absurdo após algumas doses de destilados.

Versão contada: estava no banheiro um sujeito que não conhecia vestindo preto - este tal amigo do Diogo - e ele quebrou o espelho, tendo saído correndo após. Assustei-me e corri junto para não pensarem que fui eu, e logo fui cabeceado por um maloqueiro. Não satisfeitos, roubaram minhas mochilas.

Repercussão: fui punido rigorosamente pela consciência. Assim que o contei, meu pai resolveu ir na casa da organizadora da festa, e após na polícia, e só não foi à justiça porque a audiência o aconselhou a desistir. Tive de contar a mesma versão nestes locais, o que me tirou o sono por muito, muito tempo.


Bom, já estou quase chorando aqui por ter compartilhado o dark side of Di Marco com vocês. Quando o momento chegar, devo contar-lhes mais algumas coisinhas. Espero que fique entre nós, porém.

segunda-feira, 22 de março de 2010

O Molho Especial

Eu bem que notei a decadente popularidade de minhas postagens e associei tal fato ao teor filosófico-melancólico. Inclusive meus melhores leitores andam "tirando férias", e não posso culpá-los, pois de fato é cansativo ler um texto que não nos remete a boas sensações. Notei isso há um bom tempo; não obstante, parece que o humor tem-se distanciado gradativamente. Pois, forço-me a utilizar um recurso muito eficiente quando o assunto é boas risadas: o meu amigo Alemão.

Esses dias fomos no melhor espetáculo da minha vida, o Show do Guns'n'Roses + Sebastian Bach. Não é disso que vim falar, porém. Por quê? Bem, nem mesmo o Sr. Exagero conseguiria exagerar o suficiente para demonstrar como é possível uma apresentação compensar 5h de atraso e um puta resfriado; deixo-os a imaginar o quanto não nos pagaram para eu falar bem desse show (cachê musical, é claro). O que vim falar, então, é algo que acabaram me recordando nessa longa espera no frio congelante de Porto Alegre: o dia em que o Alemão foi comer cachorro-quente na redenção. Para quem já sabe, riamos de novo. Quem não sabe, vale a pena conferir. De qualquer forma, corrijam-me qualquer desfalque.

Certa vez, estava Alemão caminhando no parque da redenção quando resolveu comer um cachorro-quente. O senhor o vendeu, mas não contente, resolveu fazer uma propaganda de seu produto.
- Tu quer experimentar o meu novo molho especial?
Alemão, doido por receber uma ou outra vantagem, aceitou na hora, esticando a mão para receber o suposto frasco contendo o tal molho.

Então o homem pegou uma bisnaga e, sem pestanejar, espirrou o molho por toda a mão estendida do pobre amigo Alemão.

Bem, é difícil transcrever a mesma história que me faz gargalhar por muito tempo sempre que ouço do Diogo, mas pelo menos não haverá motivo para caras feias nesta segunda-feira. Um abraço a todos.

segunda-feira, 15 de março de 2010

A (Des)Ilusão

Um sonho com o Alemão e com o Paulo me fez acordar rindo alto às 5 da manhã durante a semana passada. Ou o bloqueio na transmissão da serotonina entre os neurônios, mas e daí? O fato é que acordei feliz. Não tive tanta sorte nos últimos dias, porque desrespeitei uma orientação crucial e acabei bebendo alguns goles de cerveja. Meus rins pregaram-me uma peça. Meus neurônios voltaram a respirar normalmente, e uma nostalgia atacou meu mundo fechado e cá estou, destratado e perdido de tanto ver Lost ontem à tarde. Vi uns bons 5 episódios.

Porém, não vim aqui para me lamentar, e sim para contar um delírio que tive enquanto mergulhava na banheira lá de baixo - algo que não fazia há muitos meses.

Como vocês bem sabem, o som se propaga melhor embaixo d'água, e lá estavam meus ouvidos, cumprindo seu papel sensitivo enquanto minha mente dizia descansar. Não tardou para que criasse algumas vozes. Uma delas era suave, doce e feminina. Como uma sereia, apesar de utilizar um tom maternal, protetor: "vem, me segue". Eu estava agora no meu quarto; levantei de minha cama e a segui. Só podia ver seu contorno; ela brilhava sobrenaturalmente. Deveria ser madrugada.
Ela me levou para baixo do toldo, entre as duas casas. Olhamos para a lua. Ela pediu para que eu não sentasse, mas não entendi por quê. Passamos muito tempo contemplando a luz branca no céu escuro. Ela começou a dançar, sempre sorrindo. Convidou-me com o olhar, mas eu lhe disse que não sabia. No entanto, disse isso já dançando, e também sorri. Ela segurava minhas mãos com muita leveza; cheguei a sentir medo que as largasse. Mas a despeito do medo, o sorriso. A alegria que invadia meu peito. Eu não pude deixar de perguntar quem era ela, mas sabia que não me responderia. E dançávamos como crianças sob a luz da lua, sob a valsa noturna.
Ela parou, mas não largou minhas mãos. Voltamos a contemplar o céu. Foi neste momento, entre tantas estrelas, que ouvi sua voz doce sussurrar palavras melancólicas. Enquanto se pronunciava, calei-me. Ela me contou que iria embora, mais cedo ou mais tarde, e que eu deveria estar preparado. Disse que o que sinto é ilusório, que não posso deixar-me enganar; que ela não durará para sempre, e que eu preciso aprender a me virar sozinho. Disse que iria soltar minha mão, mas não agora. Eu a olhei sinceramente. Sabia que tudo aquilo era verdade. Sabia antes mesmo de ela me dizer.

Voltamos a dançar, desta vez mais rápido. Ríamos sem razão aparente. Nossas mãos entrelaçadas flutuavam pela madrugada, e eu ousei perguntar-lhe quem era ela novamente. Mas ela nada falou. Então eu lhe disse: "tenho sede", e ela respondeu: "não tens, não". Eu lhe confirmei que tinha, e ela largou minhas mãos. O frio da madrugada invadiu meu corpo e tomou-me de surpresa, e, com a sede saciada, perdi-a de vista. Desesperei-me; entretanto, estava totalmente conformado. Ainda de pé, aguardei-a observando a lua novamente, com a certeza de que, apesar de meus deslizes, voltaria em breve. E, consciente, torci para que a próxima despedida fosse menos dolorosa.

Abri os olhos e observei a água da banheira esvair-se pelo ralo. O dia seguinte seria uma incógnita; bastava aguardar e enfrentá-lo sem receio.

segunda-feira, 8 de março de 2010

O Meu Mundo


Hoje a vi pegando a jaqueta e indo embora, e tive um pressentimento ruim. Parecia ser a última vez. Por outro lado, foi a primeira vez que não nos despedimos.
Uma triste porção de coisas aconteceram, e aqui estou a refletir sobre o meu mundo; por onde estive nesses últimos meses... tão perto e tão longe de quem amo; tão próximo e tão distante do que desejo;  tão íntimo e tão tímido de mim mesmo. Assistindo a vida escorregar pelos meus dedos no canto de um quarto escuro, sofrendo calado e explícito, em cada rua que atravesso, em cada cômodo que entro, em todos os momentos do meu dia.
Um dia, porém, excluía-se. Aquele dia da semana que, por menos diversificado que pudesse ser, me traria felicidade. Neste dia, até mesmo as coisas mais tristes pareciam boas. Se o passasse no escuro, em frente à TV, seria um ótimo dia no escuro. Se o passasse deitado, seria um ótimo dia deitado. Tudo parecia ótimo desde que estivesse ao seu lado.
O dia mais feliz da semana só terminava ao anoitecer, pouco após o pôr-do-sol. O dever obrigava-nos a dizer adeus. Eu pegava o carro e partia o mais devagar possível. No caminho, poucas palavras me escapavama. O dia seguinte seria terrível. Quando o posto aparecia, reduzia ainda mais. Só aí percebia o quão importante é aproveitar o tempo que temos, em vez de lamentá-lo. Dava sinal e entrava, e uma breve despedida se valia. Fazia a volta sempre no mesmo lugar, mas sempre inseguro. Esperava-a entrar e partia. Parecia que nunca mais ia presenciar essa cena. Na volta, procurava mudar o pensamento, mas tudo convergia na despedida. Via casais abraçados, pessoas sozinhas, cães abandonados. Muitas vezes pensei em voltar.

Mal chegava em casa e controlava-me para não ligar. Nem uma mensagem. Difícil acreditar que consegui algumas vezes. Apagava as luzes, deitava no travesseiro e só então me sentia aliviado. Eu ainda a tinha, e por isso ainda dormia.
E nos quatro dias seguintes, trevas, escuridão. Um sorriso não químico era raridade. Vontades e desejos apagados, motivações distantes como a lua. Qualquer paisagem virava nostalgia; qualquer lembrança, tristeza; qualquer tristeza, saudade.
Vivemos tão presos às nossas lembranças, aos nossos afetos e desafetos, que mal temos tempo para subir à beira e respirar. O meu mundo é onde eu morava por cinco dos sete dias, é onde eu me escondia, aguardando os dois faltantes. Neste mundo, tudo acontecia. E quer saber? Acontece. Eu ainda vivo mergulhando lá sempre que me sinto inseguro. Sempre que a sensação de estar solitário em meio a uma multidão gigantesca me abatia. Mas é nesse mundo obscuro e escondido, criado e alimentado por mim mesmo, que eu buscava forças para suportar a árida ponte entre os momentos de alegria. E nele é que eu guardava as minhas lembranças, tão doces e tão doloridas.
É nesse mundo que criei, tão egoísta, que me lembro de quando sentávamos na pracinha da igreja. Naquelas tardes de março, ninguém ao redor importava. E quando elas acabavam, lembro, levava-a até a parada de ônibus. Que ruim era ver o ônibus chegar. Certa vez, lembro-me bem de fazê-la não ver o ônibus. Ela percebeu, mas fingiu que não; e esperamos juntos pelo próximo. Nem imaginávamos que, dois anos após, passaríamos por uma situação tão oposta, numa tarde chuvosa de fevereiro. A indecisão e minhas mãos atadas causaram um desconforto insuportável, e logo a vi saindo portão afora. Senti que a perderia para sempre, e não pensei duas vezes. De pés descalços, corri sem olhar para trás, ignorando a chuva forte que nos encharcava. Encontrei-a na parada de ônibus. Tirei minha camisa, ofereci-a, mas ela negou. Tentei convencê-la de todas as formas, mas não seria possível. Então, corri de volta para casa, peguei uma toalha e um agasalho e voltei ao seu encontro. E voltamos juntos para dentro. Juntos... muitas coisas já fizemos juntos.
É deste mundo que tiro forças para viver. Nele, as coisas mais emocionantes acontecem. Como o simples gesto de apertar o copinho de plástico. Sempre que o fiz sozinho, uma melancolia muito forte pressionava meu peito. Deixava o segundo botão intacto. Era o dela. E então pensava: isso não faz sentido nenhum.
Um dia resolvi resumir tudo. Como? Mais de um ano passou e eu não conseguia decidir. Até que um dia me apareceu tudo, como se fosse óbvio: não se tratava de um ou dois momentos, mas de um todo, um verdadeiro marco, algo que eu jamais esqueceria, nem que quisesse. Já era tarde demais.
E, de fato, havia chegado à essência do tempo que passamos juntos. Eu havia mesmo renascido, aprendido tanto com os dias que passávamos juntos. E apesar de ainda considerar difícil falar sobre o que sinto, tampouco descobri como convencê-la.
E embora já tivesse imaginado como seria, cá estou. Sem rumo, sem forças, totalmente perdido. Será uma fase? E os dias de alegria, que eu jamais havia tido, aqueles delimitados pelo tempo, decididos pelo homem, aqueles poucos dias pelos quais eu ainda ansiava esperançosamente... esses dias me deram adeus naquela tarde, junto com ela, ao pegar sua jaqueta... e entrar no carro.
Porque esse mundo que criei, onde me escondo de mim mesmo, onde espero sem saber quando; esse mundo que imaginei ao meu redor, sem convidar além de mim... esse mundo existe, em sua essência...


quarta-feira, 3 de março de 2010

Adepto ao Concretismo I

O fluxo do meu sangue
Tinha-se mantido
O fluxo do tráfego
Tinha-se invertido
O fluxo tinha,
O fluxotinha
O fluoxetina
O Flu
Fu
fff...

Muito Cuidado Com Ela

A minha querida amiga Fran terá um post dedicatório. Porém, não é de flores que verso. Venho através desta postagem unicamente para alertá-los; não se enganem pela aparência de boa moça e comportada: esta mulher é uma feiticeira!

Isso mesmo, ela tem um poder malígno em suas mãos escurecidas pelo sol queimante. Ela possui o Poder da Erupção.

Desde que éramos colegas, há longínquos cinco anos, ela me tem nas mãos. Digo, tem meu rosto nas mãos. Funciona assim: ela observa sua vítima, que normalmente obtém uma face límpida e regular como uma maçã. Após, finge afeto por este infeliz, aproximando-se paulatinamente. Por fim, direciona um olhar mortífero às suas bochechas e profere as palavras mágicas de seu feitiço nefasto:

- Nossa! Como tu tá sem espinhas!

Não adianta, leitor. Não há o que fazer. Dentro de 24h, terás teu rosto coberto de vulcões em erupção, furúnculos, bernes, câncer de pele ou até mesmo espinhas, dependendo da ira que aquela cabeça obscura vos sente.

Tive o azar de ela me sentir ódio algumas vezes. E sempre despejou sua fúria com as palavras doces que de sua pequena boca macumbeira escapolem: MEU DEUS, COMO TU TÁ SEM ESPINHAS! E o mais sinistro é que ela finge não acreditar neste seu dom malígno. Segunda-feira à noite, estávamos todos em sua presença, quando tive a infelicidade de despertar sua ira interna, jamais transparecida. Percebi uma energia extra quando ela, silenciosa, começou a observar minhas bochechas quase lisas. Gelei. Tentei desviar o olhar, mas não tive tempo: como um passo de mágica, as palavras soaram pela cozinha do Barradas como se fosse uma marcha fúnebre: Lucas, como tu tá sem...

Eu não consigo lembrar se ela terminou, tamanho foi meu nervosismo. De qualquer forma, não restam dúvidas acerca de seu poder indiscutível.

Estou comprando hoje uma base (sim, uma base) para esconder as 13 espinhas salientes que contei em meu rosto há alguns minutos diante do espelho. Lembre-se: tenha muito cuidado com esta menina.

PS: não me mata, Franzuda!