quarta-feira, 29 de abril de 2009

Experiência Míope


Gostaria de entender por que as pessoas, quando ficam mais velhas, acreditam mesmo que a experiência que adquiriram com a idade é indiscutivelmente a melhor (e única) fonte de respostas. Acreditam mesmo que, por serem velhos, sua palavra é praticamente sobrenatural: faz até chover, e, se não chover, eles "já sabiam mesmo". O que eu nunca havia me flagrado é que, quanto menos a pessoa sabe, mais pensa que sabe - talvez seja algum mecanismo do cérebro humano para suprir a falta de conhecimento; é preciso ter muito cuidado com essas pessoas (péssima essa, né...).

Ocorreu-me tal indagação quando, agora há pouco, desci as escadas atrás do notebook para postar sobre um outro assunto menos importante. Na parte de baixo, próximo ao notebook, se encontrava Cleci (senhora que trabalha conosco desde que nasci e, por assim dizer, completamente íntima) em altos papos com a Rose (uma outra mulher recém chegada, uma vez que Cleci, devido à idade e às dores no corpo, já não dá conta de tudo). Rose só abre a boca para concordar com alguém (ela sequer cumprimenta), e isso se não fingir que não foi para ela. E era isso que ela fazia: concordava com Cleci, que aos berros expunha suas idéias mirabolantes com toda aquela certeza experiente. E eu, para não ser mal-educado, já que passava ali (e não queria me prolongar em nenhum assunto), resolvi tentar a sorte com uma frase simpática e, quem sabe, me deixassem subir de novo com o notebook em mãos sem perder muito tempo. Enquanto Cleci falava (ela fala muito alto), e a outra concordava (com a cabeça), eu me pronunciei:

- Para de mentir, Cleci! - ambas se silenciaram (ok, só Cleci se calou, já que a outra sequer tem orifício bucal). Esse era o momento que Cleci preparava a contra-resposta. A ideia era fazê-la retrucar algo engraçado e após calar-me, sorridente, subindo de volta feliz. Se isso, porém, me tivesse ocorrido, estariam lendo alguma outra porcaria, e não mais essa desgraça diária que costuma me acontecer, e que deve deixá-los com um leve sorriso de felicidade no rosto (vocês, meus três leitores), afinal, quem é que não gosta no mínimo um pouco de ver outro se fudendo?

De qualquer forma, é necessário descrever Cleci em poucas palavras: é uma pessoa maravilhosa, serve a mim como uma mãe e, volta-e-meia, aparece em meu quarto (sem eu pedir) com um lanche, suco de limão natural (por ela preparado) com gelo e um píres embaixo do melhor copo da casa. Obviamente, tem seu lado alternativo, ou não seria normal: ela fala demais. Não obstante, adora falar coisas para se aparecer para dos outros (isso a qualquer custo, acreditem), o que muitas vezes me deixa bem constrangido. Quando isso acontece, sempre procuro fazer cara séria para que ela perceba que não foi legal, mas aí vem mais uma característica deste símbolo doméstico: ela não entende gestos. Não importa o que eu faça, até mesmo palavras não são suficientes para fazê-la perceber, educadamente, que algo não deve ser repetido. É por isso que seu costume mais engraçado é o de contar piadas sem a mínima graça. Eu me refiro àquelas inventadas na hora sem final nenhum, nem mesmo um finalzinho desajeitado. Mas esse é o jeito engraçado dela, vá lá.

Uma mistura desses fatores alterna(nega)tivos é o que resultou em sua resposta, muito bem pensada:
- Lucas, às vezes eu tenho vontade de bater tão forte nessa tua bunda até esse negócio cair de vez.

Pausa dramática. Ela anda falando muito sobre isso nesses últimos tempos, inclusive na frente de minha namorada. Atribuo isso ao fato de ela possivelmente estar pensando que "estou crescidinho", já que, aos meus 16 anos, quando falava um palavrão dentro de casa, ela se apavorava, e dizia: "eu nunca ouvi tu falar isso antes!". Mas agora fora demais, caramba; havia ali, por mais que não se percebece, uma outra pessoa, sem a menor intimidade - mas era justamente isso que Cleci queria: aparecer para outrem. A conversa recém começara e eu não queria mais participar daquilo; pensei que ela poderia ter-se refirido ao notebook, que já estava quase em minhas mãos, e isso me confortou; no entanto, sabia que se tratava de minha virilidade, piada infame e sem a mínima graça (entre um guri e uma velha senhora). Fingi não entender, para dar-lhe uma chance de se redimir, ou de calar-se:

- Hã? - mas não adiantou.
- É, vou bater nessa bunda até cair esse negócio e nunca mais subir!

Se fiquei envergonhado? Bem, seja como me senti, o que acontece é que, pelo mínimo orgulho masculino que circula em minhas veias, teria que retrucar, assim como qualquer outro o faria:

- Não, Cleci. Isso não aconteceria nem com macumba. - e tentei me adiantar até a escada para evitar um "retruco". Infelizmente, não fui rápido o bastante.
- Nem com macumba ele sobe? Mas já tá nesse estado? - e começou a dar gargalhadas altas, olhando para Rose e repetindo (tática inviável de tentar fazer rir quem não riu dantes). Rose sorriu, apenas, por conhecer tratar-se de um assunto delicado. Eu percebi que, não importasse minha fúria, ela nunca perceberia que fez errado. Tentei subir rápido, mas ela não deixou, continuando - Lucas, eu tenho quase 50 anos... - e eu a interrompi dizendo que tinha corpo de 20; tentava ser simpático para acabar o mais rápido possível com tudo isso, mas ela, para variar, sequer me ouviu, afinal era hora de seu estrelato diário - ... eu tenho 50 anos! Sabe quando tu vai conseguir me ganhar? NUNCA! - e gargalhava - NUNCA!

Vou acabar esse post como Cleci acaba suas piadas.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Cabeça de Teta


Há duas coisas que me causam repugnância: insetos peludos voadores e escuridão. Relacionando-as, podemos notar que a maioria dos insetos peludos voadores são escuros, e na escuridão não podemos ver os insetos peludos, portanto, esse ecossistema me causa arrepios quase homossexuais (se tivesse a ver com sexo, mas não tem, ok?)

E foi agora há pouco, enquanto me lamentava por não ter nada de interessante para postar, que tive a certeza que há alguma força pró-postagens agindo sobre este blog. Aconteceu algo que me deixou muito infeliz, mesmo; mas como quase tudo de terrível que me acontece soa muito engraçado para os outros (pelo menos é o que noto quando conto tragédias e recebo risadas em contrapartida), resolvi transformar isso no post do dia. Mas qual a relação disso com o inseto maldito e as trevas?

Estava eu, depois de um dia condensado de estudos, na minha hora de lazer (às 22h), quando então sentei na cama com o laptop para me comunicar com o mundo. Abri a janela, para entrar a brisa úmida do sul, e esse talvez tenha sido meu maior erro do dia. Afinal, o que levaria alguém a pensar que abrir uma janela poderia lhe custar muita dor existencial? Com as luzes e o abajur ligados (eu realmente gosto de claridade), a atração necessária criou-se, e o tão asqueroso inseto peludo voou em direção à lâmpada. Isso me irrita muito. O que fazer para evitar o constrangimento de dividir meu conforto escasso com um animal indecente? Pegar uma meia suja.

E foi com esse artefato quase ignorado pela sociedade brasileira num fim de noite que meu drama alcançou o auge. Subi em cima da cama para alcançar o bicho com mais facilidade, pois ele voava ao redor da lâmpada como se fosse um animal. Ao subir, com a meia na mão, sacudi-a como uma perua louca em movimentos de vai-e-vem, mas o inseto conseguia desviar "com uma facilidade do caramba". E, pensando menos que ele, extremamente estressado, acabei direcionando toda a força numa "meiada" fatal, mas, para a minha infelicidade, acertei a lâmpada do meu quarto, que parou de funcionar na hora. Quase chorei, por vários motivos: primeiro, e crucial, por ter ficado sem a tão almejada iluminação; depois, por ter transformado a minha "hora virtual" em uma "hora de preocupação". Senti aquela típica preguiça de viver, sabem?

Pois bem, a notícia boa é que acertei o rapazote.

Tratei, então, de dar um jeito. Troquei os restos mortais da minha potente lâmpada de 200w por uma infeliz de 100. Não fiquei satisfeito: corri para o banheiro e peguei a que lá estava, também de 200, e troquei uma pela outra. No meu quarto, pareceu bem inferior à que antes estava, mas sei que é psicológico. O fato é que, durante essa função toda, senti uma dorzinha quase nula abaixo do dedo mínimo do pé direito. Inconscientemente, julguei ter pisado em um caco de vidro da lâmpada velha - a despeito de ela não ter quebrado. Depois de tudo ter se resolvido (ou pelo menos era o que eu pensava), sentei na cama com as pernas cruzadas e tornei a pegar o notebook, mas a dorzinha incomodava demais. Foi quando resolvi olhar para o pé pela primeira vez.

O bicho estava esparramado na sola do meu pé, com seus pêlos completamente dispersos (provavelmente era o que me causou a dor). Saí correndo frescamente até o box, onde lavei meu pé com água corrente e sabão dove (bem longe dos olhos). A dor aliviou, mas agora que sabia sua nojenta fonte, parecia ser bem mais significativa. Voltei ao quarto para me desfazer do bicho e percebi que ele ainda estava vivo - sim, eu tenho problemas com insetos, percebem? Ele espalhou o restante de suas toxinas pretas por uma área considerável da minha colcha. Fiquei muito triste ao ver essa cena lamentável, e já corri atrás de um pano úmido. Limpei e peguei o animal, levando-o até a patente. A vida dele estava em minhas mãos, e eu o matei por julgá-lo uma ameaça.

Uma ameaça ao meu ego.

domingo, 19 de abril de 2009

Herrar é Umano


Nunca pensei que as aulas viriam a ter uma influência tão grande nas minhas ações diárias. E foi numa dessas palestras irrelevantes que obtive uma informação altamente relevante para minha vida através um professor de química: "O PH de um sabonete DOVE é neutro, tal qual o PH da água. Por isso, não arde nos olhos"; e para não falarem por aí que não aproveito as aulas, não poderia deixar de testar.

Naquela tarde, ao chegar em casa, fiquei tomando coragem para enfiar uma pasta de dove bem no meio da vista e ver o que acontece. Primeiro, era necessário procurar um sabonete dove. E eu procurei; minha mãe tem o estranho costume de consumir esse produto, o que me afeta diretamente. Fui ao banheiro procurá-lo, mas o que encontrei na pia foi um toco branco totalmente semi-novo. E, considerando que o PH de uma substância não deve alterar-se com o tempo, tasquei a mãozona nele e enfiei com tudo nos dois olhos. E me arrependi profundamente.

A dor que gerou aquele ato estúpido fora tão ardente que, creio eu, furá-los seria menos doloroso, pelo menos no início. Lavei rapidamente com água corrente e, assim que pude ver de novo, certifiquei-me de que ninguém teria visto aquela cena ridícula. Graças a Deus, ninguém viu. E como para qualquer idiota que não aceita a obviedade das consequências das ações da vida, os resultados não me satisfizeram: "certamente, aquele toco não era um toco de sabonete Dove". Esta primeira conclusão me gerou uma nova ideia, e quando tomei coragem novamente, fui ao box e percebi que havia um sabonete gordo em formato de seio, ou seja, um dove verde, com a superfície lisa, portanto um sabonete "quase novo" (o que, pelo menos no meio automobilístico, é muito superior a um "semi-novo").

Lá fui eu, mais uma vez, rumo à experiência científica. Graças a caras como eu, é sabido que urânio é radioativo, que Antraz mata e que não se come mata-cavalo. E Dove, afinal, arde os olhos? Passei a mão sobre a superfície daquele produto gosmento usado para lavar as partes íntimas - o que não me ocorreu em nenhum momento àquela hora - e, desta vez, com mais cuidado, passei em apenas um olho. Passado um segundo, nada. "Há! Esse é o poder do Dove!". Passados dois segundos, uma fincada. "Nada é perfeito". Passados três segundos, uma conclusão química: "O PH DESSA PORRA É 14!". E, a partir daí, enfiei a cara debaixo d'água para acalmar a ardência excessiva. Senti-me um tremendo retardado - a primeira conclusão correta do dia. Além disso, com o orgulho ferido, acreditei que aquele sabonete não fosse Dove de fato, mas alguma daquelas marcas que o imitam em formato, odor e coloração, MAS NÃO EM PH!

Ainda decepcionado, chegou quinta-feira, o dia em que eu geralmente almoço na casa de minha avó. Lá, com certeza, haveria um sabonete DOVE legítimo - o consumo desse produto era quase que genético. Chegando lá, cumprimentei a querida vovó e fui direto ao seu banheiro, onde encontrei um sabonete branco, em forma de seio, com cheiro de leite e com os seguintes dizeres na sua superfície: Dove. "EU ENCONTREI! EU FINALMENTE ENCONTREI!" Era um Dove LEGÍTIMO! Ninguém poderia criar uma marca em que o nome, o formato, o cheiro e a cor fossem idênticos à marca líder. Era preciso tirar a dúvida de uma vez por todas! E, sem pensar muito, arrastei o dedo por cima daquela gosma burguesa e, com muito mais cuidado, espalhei por toda a superfície do meu olho esquerdo. Foi aí que cheguei à minha conclusão final:

Jamais acreditar em um professor de química.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Amoeba e Falos

Hoje tive umas aulas interessantes. Na primeira, falavam-me de amebíase, a velha ameba do colegial, responsável por uma caganeira sangrenta e por uma febre dos diabos. O "bichinho" não é um animal, mas sim um protista, um protozoariozinho chamado Entamoeba histolytica. Lembro-me de que, ao ouvir esse nome, veio na minha cabeça (direto) a imagem daquele querido e respeitável brinquedo, ou apetrecho sexual - afinal, quem nunca transou com uma amoeba?

Percebi que a amoeba tinha várias, inúmeras funções (gente, eu estava... hum... brincando ali em cima, tá?), ela tinha quase vida própria. Inclusive, vontades próprias. Disse isso ao lembrar de um episódio que tive o prazer de acompanhar e aqui vou relatar. Algumas pessoas ainda me perguntam o porquê do nome do Blog (ok, ninguém pergunta, é só uma forma de eu me sentir importante), e acredito que agora fiquem cientes de que em qualquer brincadeira, seja ela de bom ou de mal gosto, é preciso ter muito cuidado para não afetar o cosmos e a harmonia intergaláctica. Meu amigo, Dr. Pedra, quando criança - é claro, já que a amoeba é coisa do passado - teve uma brilhante idéia para satisfazer a ele, e SÓ a ele mesmo. Nessa época da vida, as crianças estão em fase de descobrimento do corpo, e toda essa baboseira. Infelizmente, muitos de nós não saímos dessa fase (quase todos, confesso), uma vez que, hum... o falo sempre foi idolatrado desde a antiguidade; nós todos, durante a infância (para não citar os acontecimentos recentes) sempre utilizamos a imagem do falo como algo ilustre, representando toda a virilidade masculina, ou seja, como uma bela maneira de extrair risadas. E, convenhamos: sempre funciona.
Dr. Pedra, para dar boas risadas, desenhou a grandiosa imagem fálica com uma amoeba. Não satisfeito com sua consistência amebíaca (molenga, fluida), resolveu colocá-la sobre o acolchoado de seus pais. Acabou por lá esquecendo, imagino; o fato é que, por forças superiores, unir a imagem de um falo à poderosa alma da Amoeba, o resultado é marcante. E marcou a colcha para o resto da vida.

Cuidado? É o que eu não tive em 2003, quando, em plena oitava série, descobrimos como se faz carimbos com uma canetinha hidrocor e uma borracha. E qual foi a primeira (e única) imagem que utilizamos para teste? Fálica, obviamente. Nenhum de nós é gay pessoal, por favor; não imaginava que seria tão vergonhoso contar isso anos depois. De qualquer forma, eu tive o prazer de criar o meu primeiro carimbo fálico em uma aula de espanhol, cuja professora era extremamente chata. Estávamos em vários. Dentre estes, Dr. Pedra, o atrevido menino amoébico, e Jorge, um gordinho engraçado. E um livro didático (que, óbvio, não era do colégio, mas da professora). E um carimbo fálico recém criado por mim.

Ficamos naquele impasse. Carimbar o caderno dos amigos já não era engraçado, era praxe; e os bebedouros já estavam lotados de caralhos carimbados... algumas paredes e a pele de alguns. Mas o livro da professora era um desafio bem mais tentador. Porque haveria consequências.

Isso se alguém pegasse. Eram tantas, infinitas páginas! Que custava carimbar umazinha? Bom, eu calibrei o carimbo, abri a página e posicionei a mão... era tão cruel a dúvida! Fazer ou não fazer? Olhei para meus amigos. Todos incentivavam; "vamos, faz logo!", mas não podia ser assim, eu queria pensar mais... talvez eu nem quisesse fazer aquilo de fato mas... não tive escolha. Alguém empurrou minha mão, carimbando a página bem no meio. Deves estar perguntando-te que maligna alma, leitor, teria coragem de fazer isso. Ora, a mesma que desenharia um pênis em gel na coberta dos pais! Dr. Pedra fez-me carimbar o livro com um grande e nojento falo, e agora era tarde. Ele roubara não só minha coragem, como o mérito; e a isso atribuo o fato de ter carimbado mais três ou quatro vezes aquele livro semi-inútil para alunos do ensino fundamental viamonense. Mas tudo bem, ela jamais iria descobrir. A aula estava acabando, fechei o livro e pedi para alguém entregar para mim. Quem?

Gente, é preciso ter muito cuidado, inclusive ao mandar alguém fazer as coisas para você. Eu jamais teria passado por tamanha vergonha, caso tivesse levantado a minha bunda fálica da cadeira e entregado o livro em mãos à professora raquítica. Mas quem teria coragem de dedurar um amigo? Quem? E por que diabos destaquei Jorge?

Ele não fez por inimizade, mas por ser cagão mesmo. Ele deve estar lendo isso agora; saiba que te amo, mas que puta sacanagem fizeste comigo naquela manhã, hein?

Meus pais foram chamados pela primeira vez. Fui tratado como um ser à parte do mundo real por muito tempo. Meu pai, por não enxergar bem, concordou apenas com a Rosa, empregada pseudo-poderosa da instituição. Minha mãe percebeu na hora, e contou pra ele de uma forma muito engraçada.

- Tu não viu? Tinha um pênis enorme naquela folha!

Eu não contive o riso interno. No entanto, me conteve o medo, enquanto apagava com errorex aqueles falos t0d0s: por sorte, la maestra não cobrou aquele instrumento jamais utilizado antes.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Diálogo de Mictório

Este micropost foi criado em função do penúltimo, em que uma menina perguntou-me o que nós, homens, conversamos no banheiro masculino. Dei risadas em casa. É estranho fazer algo com uma frequência tremenda e algumas pessoas não. Mas afinal, o que nós conversamos no banheiro masculino? Espero poder esclarecer bem.

Existem algumas regras, ou melhor, há uma única LEI no banheiro masculino, que é a seguinte:

Art. 1º - Só é permitido conversar com outro homem se AMBOS estiverem exercendo a mesma função no recinto.

Art. 2º - Conversar com um homem que exerça outra função é um convite ao homossexualismo, e a punição é ser humilhado, espancado E/OU empalado em praça pública, para servir de exemplo.

Art. 3º - Se exercerem a mesma função no local, o máximo de diálogo permitido são monossílabos ou pequenas expressões que não contêm informações. São exemplos: "ô, ó, opa, eaê, aham". Exceções no art. 4º.

Art. 4º - Se se conhecem de longa data, é permitido o uso de frases curtas; não obstante, estas devem conter palavrões pesados, risadas ironicas, partes do corpo feminino e/ou informações úteis. Exemplo: "Cuida ali o chão que tá mijado", "Pô, mas tá demorando essa fila do cacete, hein? *risada irônica*", "Puta, to mijando pelo bago já", "bom mesmo é peito de garçonete".

PARÁGRAFO ÚNICO: quanto maior a palavra ou frase falada, menor a masculinidade do sujeito.

Acho que isso explica o que nós conversamos no local onde se deve "mijar". (Num vocabulário bem constitucional).

Se quiser bater papinho de boiola, vai mijar na rua, magrão!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Estresse Hereditário

Estava aqui, há pouquíssimos minutos, próximo à churrasqueira, quando aparece meu pai (só de cueca) com uma calça jeans nas mãos, indo ao encontro da própria, e minha mãe atrás ousando a seguinte pergunta:
- Tu vai queimar mesmo? - meio sorrindo, meio decepcionada, mas sempre mantendo o respeito que as mulheres das gerações passadas demonstravam por seus maridos. Ele não respondeu nada, enquanto abria o álcool, riscava o fósforo e segurava por cima, dentro do buraco da churrasqueira, até pegar bem o fogo. Vendo aquilo, não pude ficar parado.

- Pai, o que tu tá fazendo?
- Botando fogo nessa calça.
- Por quê? - perguntei assustadíssimo.
- Faz um ano que colocam lá no meu ropeiro, faz um ano! E eu sempre digo que não é minha, mas não adianta! - e sua voz começou a se alterar progressivamente, como há vários dias não via. Hesitei alguns segundos até o veneno da testosterona baixar.
- Tu já parou pra pensar que essa calça pode ser minha, ou do Diego? - Diego é meu irmão.
- Não interessa! - essa é a partícula que se usa quando se está sem um bom argumento e não se quer admitir. Depois de pensar em algo bem polêmico que justificasse sua atitude neandertal, continuou: - Se fosse de um de vocês, já teriam dado falta.
- Ok, tem razão. Mas e por que a gente não dá essa calça pra um mendigo, em vez de queimar? - esse argumento foi forte, mas tão forte que mexeu com seu lado espiritual. Acontece que, acima de tudo, mora seu orgulho; e este, nem mesmo um mendigo batendo queixo pode vencer. Ele gaguejou algumas palavras sem sentido e depois continuou atendo-se à combustão. Um tempo depois (como era de se esperar, ficara remoendo-se com o que falei por minutos), lançou uma daquelas ironias de quem jamais está disposto a descer a montanha:
- É, teu pensamento tá muito certo mesmo. - e deixou a calça pegar fogo enquanto voltava ao quarto, ainda só de cueca. Eu tive que fazê-lo perceber o quão desnecessário era aquilo tudo, apresentando um argumento psicológico ACIMA de um orgulho masculino. Hehe, eu tive essa esperança mais uma vez na vida.
- Olha só, quem tá perdendo uma calça é tu, e não a pessoa que botou no teu roupeiro. Já parou pra pensar nisso? - isso martelou tanto seu lado humanitário (que não é pequeno), que ele teve de reagir sem sentido qualquer. Perdoe-me a fidelidade das palavras, que são de muito baixo calão, mas agora que comecei, vou ser fiel até o fim:

- É muito fácil gozar com a pica dos outros. Tu goza com a pica dos outros com uma facilidade do caramba.

E foi dormir meio centímetro cúbico mais aliviado.

domingo, 5 de abril de 2009

Aventuras Sanitárias


Devido ao pertinente fracasso dos posts educativos, resolvi retornar àqueles que, por decreto, agradam mais.

Depois de um ano lesionado, devidamente curado, resolvi aceitar uma pelada na PUC (me refiro a um jogo de futebol), e chegando na manhã de sábado por lá, percebi que teria de me trocar em algum banheiro. Com preguiça de procurar, entrei na primeira porta que se parecia com um banheiro (péssimo hábito meu, como verão na segunda parte deste post), já que sempre me dou mal. Desta vez foi mais ameno: percebi que algo estava estranho quando avistei um pedaço considerável de plástico em cima do trono e muitas barras de metal pelas paredes. Pensei "hum, que chique esse lugar", mas logo me dei conta do erro quando notei que a lixeira tinha quase a minha altura (ok, não é lá muito grande, mas para uma lixeira...) Sim, era um banheiro de deficientes. Envergonhado, troquei-me rápido para que ninguém me pegasse lá; porém, se isso não tivesse acontecido, não o estarias lendo aqui: ouvi batidas na porta. Gelei, mas como nas outras situações em que me ferrei no banheiro (não pensem besteira) dei um jeito de me virar passando o mínimo de vergonha possível. Como este não é o foco da postagem, acabarei logo com o sofrimento: falei "tem gente" e me troquei com muita cautela. Quando acabei, esperei até não ouvir muito barulho perto da porta, destranquei-a e saí. Ao sair, percebi que era apenas um faxineiro; ainda assim, fingi mancar um pouco até dobrar o corredor (uma cena lastimável e vergonhosa). Ele sequer percebeu meu esforço.

No entanto, a situação a que isso me remete é muito mais humilhante do que se imagina. Todos os meus amigos devem lembrar dela, mas vá lá...

No início de 2008, estava num hotel daqueles bem estruturados do centro de POA. Não, eu não era hóspede; apenas assistia a uma aula extra de um curso qualquer. Era manhã bem cedo, e quando cheguei, como de costume, fui lavar as mãos pós-ônibus - uma das minhas mais graves frescuras higiênicas. Perguntei onde era o banheiro para uma funcionária, enquanto a sala LOTAVA no saguão em que seria dada a aula. A moça me disse a direção, e lá fui eu, evitando encostar as mãos no resto do corpo. Quando suspeitei ter chegado onde ela havia dito, notei que havia um símbolo completamente extravagante na porta, sobre o qual não fazia a menor ideia. "Deve ser o banheiro", pensei, e acertei: de fato era o banheiro. Estava vazio.

Quando entrei, tive a incrível sensação de estar no primeiro mundo. As patentes brilhavam junto dos azulejos e das paredes; era tudo muito limpo e bonito, incluindo o chão. Eu lavei as mãos como calculado, mas não me contive em só fazê-lo: tive de estrear a patente mais límpida que já havia visto. Como não havia nenhuma vontade sólida, optei por, ao menos, urinar ali e acompanhar com os olhos o trajeto e o som metálico da urina descendo em movimentos circulares até o contato indispensável com a água transparente daquele trono de rei europeu. Em outras palavras, mijei de porta aberta. Havia apenas dois boxes, o que eu usava e mais um ao lado. Quando terminada a emissão, ia apertando a descarga - para dar continuidade à tradição de limpeza daquele lugar - quando, antes de chegar ao botão, ouvi entrarem pela porta principal do banheiro duas pessoas, que, graças ao bom Deus, conversavam entre si. As vozes eram femininas.

Não demorei mais de meio segundo para perceber a imensa cagada que, por ironia, mesmo sem vontade, acabei fazendo. Em um ARCO reflexo, dei um bico na porta do boxe e a tranquei com precisão. A partir daí, foi terrorismo.

As vozes nunca paravam, e cada vez mais mulheres entravam naquela budega brilhosa. Comecei a suar frio e, confesso, até dor de barriga me deu, o que pelo menos poderia ser resolvido no caso de piora. Estava eu e a patente dentro daquele cubículo cerrado, e as vozes do lado de fora nunca paravam. O mais incrível é quando as batidas do coração foram ficando mais amenas e comecei a perceber o quão importante era aquele momento em minha vida: eu estava penetrando o ambiente mais íntimo das mulheres (já disse para pararem), e nenhum homem que eu conheça jamais conseguiu essa façanha. No boxe ao lado, ouvia aquele barulho de expulsão ríspida e veloz da urina feminina através dos devidos mecanismos, e isso até me assustou. O que elas fariam se imaginassem que havia um homem ouvindo-as falando e fazendo coisas tão íntimas? Ótimo, eu era O espião. Mas como faria para sair de lá?

Bom, para aqueles que ainda não sabem como funciona o banheiro feminino, posso dizer que aprendi bastante com aquela experiência. Elas conversam o dobro do que na rua, e sobre os mais variados temas; dão as mais excêntricas gargalhadas, usam palavras como "guria" e "menina" com muita frequência para se direcionar à outra, e o mais estranho em seu comportamento: elas se revezam. "Ah, que retardado", devem estar pensando as acompanhantes femininas, mas por favor, não há quem se reveze no banheiro masculino. Nunca vi alguém urinar no mesmo lugar que o outro urinou no mictório coletivo, a menos que haja apenas aquele lugar, ou uma fila quilométrica. Não há razão para arriscar um resquício de mijo alheio retornando do local para sua cara. E vasos sanitários? Olha, é preciso estar MUITO necessitado para utilizar um, ainda mais após ver um semelhante saindo de lá. Eu mesmo já passei por contorcionismos até então inacreditáveis para mim por conta de não poder usar a patente mijada por outrem. Mas não: as meninas revezam o buraco com prazer (EU DISSE CHEGA!). Mas como eu saí de lá?

Bom, de algum modo eu sobrevivi para contar essa história (espero que alguma representante não me elimine antes de postar, já que contei tantos segredos do universo frágil). Eu esperei cerca de 15 minutos, os mais assustadores da minha vida. Pensei: "vou perder a maldita aula, mas antes isso do que ir para a cadeia", sim, a gente pensa cada coisa quando se está numa jaula sem nada mais a fazer... e no primeiro silêncio que se fez, destranquei a porta e dei um passo para fora do boxe, mas logo ouvi a porta do banheiro abrindo-se novamente e recuei. Grrr. Sem mais paciência, pensei em tudo que poderia fazer. As chances de sair de lá sem um escândalo daqueles eram muito remotas. E se eu me fingisse de gay? Bom, teria que ser muito bem feito, mas ainda assim era bem pouco provável que acreditassem, tendo em vista minha forte masculinidade (ok, forcei a barra, eu sei) e meu péssimo talento em interpretação. Poderia também tentar explicar a história, mas antes disso teria que ter a atenção de muitas mulheres, e como fazer isso se estava vestido? (forcei de novo?) Poderia ser engraçada qualquer uma dessas opções, mas na vida real é apavorante, acredite. Então me ocorreu esperar mesmo. E quando ouvi a última voz saindo pela porta, mesmo sabendo que ainda havia uma mijona no boxe ao lado, abri a porta com muita voracidade e sai correndo até a porta do banheiro, por onde entravam duas mulheres - que me olharam com muita surpresa - mas a merda já estava quase que literalmente feita e ignorei-as. Ora, quanta putaria não acontece nesse mundo; mas quando se trata de um erro...

"OOOOH!"
"O quê foi, Dona Gertrudes?"
"O menino entrou no banheiro feminino!"

E no banheiro da sua casa, Dona Gertrudes, na certa deve haver três divisórias: masculino, faminino, e Dragões, sua suíte exclusiva. Faça-me o favor.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

A Perereca Doidona


Uma coisa que me fascina bastante é a cultura. Não só a nossa cultura, ou a cultura antiga: todas as culturas, incluindo a apicultura, que de tão perigosa origina o doce mel: que paradoxo! Tive o impulso de escrever ao lado que mel não é doce, mas pouca gente ia acreditar, então vou seguir o texto que me veio à cabeça após várias análises culturais de diferentes povos e épocas deste mundo encantador.

Quando a história começou, junto das primeiras civilizações, surgiram as primeiras figuras que se diferenciavam dos outros na sociedade: os sacerdotes. É... um belo dia um homem pelado com um pau na mão (eu disse um pau) resolveu dizer-se superior aos outros e cantar seus falsos dons povo à fora. Ele observou o trovão, a ventania, o fogo, a chuva e as mulheres e resolveu gritar: "EU TENHO A EXPLICAÇÃO!" Como sabemos, ele não poderia estar falando a verdade, já que ninguém até hoje conseguiu compreender direito o fenômeno das mulheres; então, como foi que as pessoas acreditaram nele?

Fácil, ele também acreditava. E foi após provar plantas alucinógenas (graças ao desenvolvimento da agricultura) que ele passou a ver espíritos num mundo onde basicamente só viviam macacos falantes. "Oh! Eles viam espíritos?". Pessoal, qualquer um de vocês que injetar meio quilo de ópio na garganta vai ver espírito até de formiga. E era assim que as drogas acompanhavam a religião durante toda a história - uma relação de muito afeto, carinho e... alucinação.

E tal costume só mudava por fora: os nativos da américa do sul bebiam o caldo viscoso que saltava da pele de alguns sapos ao serem apertados, o que deixava os pajés completamente doidões (espero que essa informação não altere a população de sapos viamonenses). Mas pra quem for se arriscar, lembre-se que se trata de SAPO, e não de PERERECA. Tu pode passar a noite toda lambendo uma perereca, mas quem vai ficar doidona é a perereca, e não tu. Já os índios atuais preferiram modificar um pouco a tradição: não precisamos ir longe pra saber o que significa "uma grande carreira de pajé" - eles cheiram mais que cão tarado. O efeito, basicamente, é o mesmo: todos ficam doidões, faceiros e altamente espirituosos.



Mas não foi só pra falar em drogas que postei hoje, longe de mim. É sobre cultura. Pesquisando um pouco sobre a antiguidade da Grécia, descobri que os habitantes da ilha de Creta cobravam VIRGENS como impostos dos povos subjugados por eles. Ora, era essa a famosa lenda do Minotauro, que era canibal, mas só podia comer virgens, e por isso vivia no labirinto e biriri... mas no fim, quem comia as virgens não era o Minotauro, mas os cretenses mesmo. Não só isso: degolavam elas em rituais religiosos após. Acham isso assustador?
Bem, logo ao lado, alguns séculos depois, existia uma Cidade-Estado chamada Esparta. Eles se originaram dos Dórios (aquele povo malígno que usava espadas de ferro), ou seja, eles eram muito agressivos; não só isso: eram ODIADOS pelos outros povos gregos. Sendo assim, não restava nada a não ser se preparar para a guerra. Isso acontecia desde o nascimento do bebê: os guerreiros iam na casa da mãe, pegavam o bebê pelo pé e avaliavam se seria ou não um bom guerreiro. Se achassem que não, mandavam-na tentar outra vez e levavam o guri até o matadouro, onde jogavam-no no chão e já tavacam pedra no piá. O quê? Isso parece crueldade?

Antes de prosseguir, quero que saibam (para os que não sabem) que isso é cultura, e coisas parecidas ocorrem até hoje, inclusive no Brasil! Vamos, assistam a esse vídeo se forem cuiúdos: http://www.youtube.com/watch?v=BDxdlVGjLdY&feature=related

Mas não só aqui; alguém já ouviu falar na terrível prática de abandonamento no povo esquimó? A mãe, para parir, abre um buraco no gelo; como diz a tradição, o primeiro descendente deve ser um menino. Se sair menina, ela já tampa o buraco na mesma hora com o próprio gelo afastado e segue sua vida naturalmente. Não, não acabou - eles também se desfazem das velhas! A função das veínhas é dar alimento pros bebês; para tanto, elas mastigam bem a carne de foca até virar uma papinha gosmenta, e então dão para as crianças, que não possuem dentes ainda. Quando a velha perde seu último dente, no entanto, perde também a sua função na tribo. O genro (sim, olhem que ironia) leva-a até um tronco de árvore e lá a amarra até um animal a comer. Após, eles comem o animal.

Essa coisa de velhas sempre foi questionada. Há uma tribo atual que achou uma bela função para elas: obrigam-na a andar de quatro o dia todo, para que os adolescentes tenham a iniciação sexual com elas quando bem entenderem. Não é mentira, procurem por aí. Mas não é muito diferente na civilização também. Um preconceito meu é explícito quando vejo aquele grupo de velhos em estado terminal que insistem em jogar na mega sena. PRA QUÊ?! Mas, de acordo com a constituição, somos todos iguais juridicamente; portanto longe de mim julgar um idoso depois de conviver tanto tempo com... com as pessoas.

Bom, o que me vem à cabeça quando analisamos as culturas mais extravagantes é o fato de que, embora sempre estejamos evoluindo, nunca perdemos o velho costume de imitar o mais forte, o que nos dá muita vergonha mais tarde. Ao ver "ícones" da fajuta cultura norteamericana sendo copiados por brasileiros, fico extremamente magoado com nosso espírito fraco. Pois deixo aqui meu protesto:

Vão lamber sapos, seus pajés balaqueiros!