quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Aventura na Sex Shop

É claro que esqueci de algo mais além da sombrinha da minha mãe e do dinheiro da passagem de ida e volta ontem, apostando na minha leviana amizade com o motorista. Esqueci de contar-lhes um ponto forte do meu dia de segunda.

Minha aula de vocal fica exatamente ao lado de uma sex shop muito bem escondida no terceiro andar da galeria. Ao vê-la neste dia, lembrei-me do Izzy, a cujo blog já os apresentei; além do blog que o cara sustenta, também trabalha em uma sex shop e fala disso com frequência (inclusive o último post dele é sobre isso; vale a pena conferir). De qualquer forma, as plaquinhas na frente me atraíram e eu, nada curioso, não pude deixar de entrar desta vez.

Assim que abri a segunda porta (é bem escondida mesmo), um mar de consolos de todas as cores e tamanhos me recepcionaram. Junto de uma senhora que poderia ser minha avó. Confesso que me arrependi um pouco, mas já estava lá dentro; "posso te ajudar?", ela disse, e eu respondi "obrigado, só dando uma olhada". "Fica à vontade". Pensei "como?", mas nada disse além de um sorriso. Comecei a inspeção.

Na primeira prateleira, junto dos consolos, encontrei uma vagina de silicone. Aquela que eu havia visto na internet por R$ 80,00. Confesso que a curiosidade me instigou e eu olhei atrás do pacote para ler as "instruções". Dizia que ela era de fácil limpeza (imaginem se não!), de uso contínuo, portátil e duradouro (só faltava dizer que não menstrua), a composição do material e, principalmente, o que mais me chamou a atenção: dizia ser virgem. Sim, literalmente, "é virgem", seja qual for o termo que se usou; e eu pensei pela segunda vez no dia: "como?". Não me atrevi a perguntar para as duas senhoras que atendiam; apenas segui em frente.

Mais adiante encontrei as famosas bolinhas chinesas (?), e pela primeira vez duvidei de sua eficiência. Aliás, o que mesmo elas fazem? Não sei, ou melhor, não sabia. A senhora atendente fez questão de perguntar se eu precisava de ajuda; no entanto, talvez não estivesse preparada para a minha pergunta:

- Como funcionam essas bolinhas?
- Como?
- Essas bolinhas... - e a senhora hesitou um pouco, olhou para a companheira, que nos acompanhava lá do balcão, e ambas começaram a rir. Eu deveria ter me sentido meio envergonhado, mas ao invés disso acabei rindo junto, sem ver naquilo grande graça.
- Como vou te explicar... essas bolinhas tu introduz na vagina...
- Sim, disso eu sei! Mas como funciona?
- Ah, meu querido, são bolinhas chinesas. Elas dão muito prazer pra menina, elas se encontram e se movem uma sobre a outra...
- E não corre risco de... sei lá, perder elas lá dentro? - a senhora deu uma gargalhada. Eu ri junto para não parecer um imbecil, mas de fato a pergunta era séria, apesar de ela só ter respondido "não, não". Por conseguinte, não sei como elas não se perdem lá dentro. Alguém aí se atreve?

Logo a seguir, chegaram duas mulheres. Aparentavam ter uns 27 anos e ser moças de respeito. Aí é que entra o porém. O que estariam fazendo ali então?
Uma delas (a compradora) estava muito tímida. A outra, saidinha. Logo foi dizendo para a atendente: "minha amiga aqui tá querendo se divertir", e a primeira deu um tapinha na amiga, e ambas começaram a usufruir da liberdade libidiosa que as dominavam. Contudo, como todas as mulheres do mundo, acabaram na parte da loja que por mim havia passado despercebida: as roupas.

Havia roupas de todos os tipos: mamãe noel, mulher gato, dominadora, vítima, TUDO. E elas passaram horas olhando-as e admirando cada peça. Enquanto eu cuidava essa atitude de canto de olho, quase que instintivamente. O que iriam levar, o que iriam levar?!

- Acho que o moço deve ter alguma idéia do que vocês precisam - sacaneou-me a safada senhora atendente. Pela primeira vez até então, fui surpreendido com um certo rubor. Elas olharam para mim, que olhei para elas e acabei improvisando.
- Essa prateleira tem mais a ver com vocês... - e apontei para o outro lado.

Não sei por que, mas elas não riram; talvez a prateleira de consolos não agrade todo mundo.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Um Problema, Dois Problemas

Ouvi meu celular despertar hoje cedo e, fanático que sou, não o questionei: levantei-me de súbito e abri o armário, tendo-me vestido e escovado os dentes em pouco menos de dois minutos, quando me considerei pronto. Lavei o rosto para confirmar, uma descarga rápida e voilà! Bastava sair. Um estranho cansaço, porém, atrapalhava minhas vistas. Ignorei-o.
Mais estranho ainda foi ver a preta Vilma, que sempre me recepciona com pulos e lambidas descontroladas, dormindo em sono profundo com as patas contra a parede. Ela somente abriu as pálpebras e acompanhou-me até o portão com o olhar. Não fosse a pose espavitada, pensaria tratar-se de doença, mas não: era sono mesmo.

Olhei para o relógio várias vezes: 6:20. Subi a rua correndo para não perder o ônibus! Cheguei lá, contudo não o vi. Teria o perdido? Teria mudado o horário? Eles sempre mudam o horário...
Às 6:30 vi-o passar lá no alto, em direção ao Condado. Sabia que ele fazia esse trajeto e depois voltava ali. Como demorou, porém; às 6:35 ou mais, entrei nele. O motorista havia mudado, mas eu o conhecia: era um sujeito mal-humurado; eu o perguntei se os horários tinham trocado, e ele murmurou algo incompreensível. Interpretei como não e fui sentar-me - estava realmente mais cansado que de costume. Depois da metade da viagem, meu despertador tocou. Olhei para o relógio: 7:08 - a hora em que eu deveria estar acordando. Olhei para a rua e sequer tive forças para rir.
Percebi o quão idiota fui: acordei sozinho mais de uma hora antes, imaginei o celular despertando, vesti qualquer roupa, arrumei-me totalmente e peguei quase três ônibus antes do correto. Fiz minha rotina do ano passado. Não consigo imaginar como isso aconteceu; talvez tenha sido o horário novo, não sei... o fato é que eu já estava muito avançado, tendo chegado no trabalho mais de uma hora antes do previsto; é claro que não havia ninguém, então fui à minha avó, acordei a coitadinha com uma desculpa esfarrapada (devolver um cabo de mp4 pro meu tio) e pedi para dormir ali mais um pouquinho; licença concedida, cheguei à Secretaria 10 minutos atrasado, como de costume: só para normalizar.

Ao meio dia, fui à aula de vocal pela segunda vez. Desta vez botaram um professor bom, para compensar o velho podre que mal sabia falar, quanto menos cantar, o qual me "deu aula" na semana retrasada. Este era um gordinho muito confiante e que aparentemente compreende minha linguagem (o idioma português). O problema foi quando ele começou a respirar e pediu para que eu agarrasse sua barriga por trás. Senti que aquela voz aveludada talvez não fosse fruto único da prática; ele respirava enquanto eu (totalmente contrariado) apertava as gordurinhas da região lateral do abdômen. Isso aconteceu umas três vezes. Pensei "tudo pelo bem da música, tudo pelo bem da música" e, realmente, agarrar a barriga flácida daquele duvidoso professor me deu uma certeza muito grande em termos de respiração musical, algo que sempre tive dificuldade. Quando ele me mostrou a teoria alemã de base (na qual se canta de dentro para fora), pediu para que eu forçasse sua barriga com a mão fechada, como se fosse um soco, enquanto ele se fixava contra a parede. Sentindo-me explorado e imaginando o que as pessoas pensariam caso nos vissem nesta situação, fiz. Mas aproveitei para botar bastante força - instinto vingativo. Ainda assim, o filho da mãe conseguiu manter a afinação no mesmo tom!

A partir de então, parei de frescura e comecei a imitar todos os exercícios estranhos que ele fazia, e em pouco tempo já havia aprendido muito. Se ele é ou não é, não posso dizer; mas que canta, canta.

Considerando que ainda são 15:37h, esta foi minha segunda-feira até agora. (Post A La Twitter);
Um abraço a todos.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Receita em Skällibur

Pàhr'äh mhäm'thëhrh hym çëghr-ëhdw häh rheçëythª dhw pöhdh-ëhrhozw Mhym-gàhw, trhàdhysãhw dhy thämthwz hähnwz, trhämz'khrëvhy'ah nhëzth bhell-ÿçïïmhw khòhdhygwh. Pöhrt'àhntw, khazw khonprh'heemd-azh halgw, nääw kohmhenth çëhn hwtylyzähr Skällibuch.

Hëhw Nwhm-kh pohz'thèhy whm post häbhç-ohlutthw hym Skällibuch hàvv-hansähdw, mhohthy-vw pêhl-w khwhaL hest-how ahg-hòrhá ho phaz-ëmdw. Yh Nääw êhy dhy dhem-ohràrm, hátèh pohrkhè pökwzh hemthemdhërr-mÿ-âw, çèjjhä pe-llàh dhyph-kwldàd dw yd-ômmha, how pe-llôh pohrt-wgèhz skrythw kor-ektàm-hent. Hàçyn çèndw, akhy whay hä rhëç-hêytthà dhw thäw pham-ozw Mhym-gàhw, wm ärhtèphäthw therr-höryzthä dhy mhwythw vhällowrh, rhëll-ënbhràdw rehçënthm-hent pë-llàh hàm-yhgäh Fran:

--> Hwh xpërhymhèèmthw dhëv çhèrh phëythw hym hwm pöhthynhw dhy hàp'rhöçhy'hmhadam-hent 35ml.

1) Pährrth Lÿkhydä:
* Çyn-khw ghötthäzh zpêçhäzh dhy khäth-hààrhw vhêrr-dhy (nëhscëçhàrhyähm-hent);
* Kwah-trhw ghötthäzh zpêçhäzh dhy mwkhòhzä nahzhäw;
* Kyhn-zhy mylylytrwz dhy wrhynä (àkwaw hë àh bhäzy dwh Mhym-gàhw);
* Çyn-khw hàh dhëz mylylytrwz dhy çêhmhëim phrëzkw (êhçthy dhevhy ymghroç-hàrr hàh mysthwrhä);
* Pekhennàh ämhoztrha dhy swòhr dhàz häkçyll-hàhz;
* Dwähz kwllhèhrryz pehkhënnàhz dhy vhôhmh-hytw phrëzkw (çöhmh-enthy hàh pahrthy lÿkhydä!);
* Pwhs dhy gharg-àhnthàh y\how dhy ohtrhah pahrthy dhw kohrpw;

2) Pährrth Sòhllÿdä:
* Hümh-àh wnhä dhw dhëdhäw dhw pèhh (parrth-ydhah hym dwhaz);
* Mhey-àh kwllhèhrr pehkhënnàh dhy phëzÿz (dhev çêhrr mhwythw pökw mhez-mhw);
* Mhell-èhkä (how thatwh) hàh ghôztw;
* Çy pohçyv-yhl, hwn how mha-yhz dhenthyz vhellhwz (mhaz nääw hèh hobrhygh-hatòrhyw);
* Sëhrhà dhy owvydhw hàh ghôztw;
* Pëhlyh mööhrthä y\how khäzkäh dhy phyr-yh'dhä hàh ghôztw;
* Mhayhorh Kwanthydädhy pwçyhvyhl dhy rhëhm-hèllä mhathynäll

3) Mhodh'w dhy prhëp-hàhrw:
- Kwalkhëhr Ymgrh-hedhy'ehnty hadd-yçyohnahw dhëv çhèrh khwydha'dhozam-hent khawk-wladhw hãnthyz dhy mysthwrhädw;
- Rhazp hwn bhazt'äw dhy hàlghwdãw nàhz çwhäz ghennyt-ahyz y hwthyl-yzy-w pahrà mysthwrhärr ws Ymgrh-edhy'ehntyz;
- Dheyxy hwh pohthy hynvowvy-dhw nwhn rheçyp'yhenthÿ hadd-yçyohnahw, phöyhz hwh öddhorh çëhr-àh yhnçüphorrthàvyl hapòzh dhëz dyhaz;
- Hwtylyzy Hàh mysthwrhä awz powkuzh y çohm-hent kwändw nehç-èhçäryw, konçyd-ehrändw-cy çüha thokçydhadhy;
- Kwuydy pahràh mhantêh'lä hyn ähnb-yhenty thotalm-hent prohthëghydw dhw sohl hyh lohmgy dhw awkänçy dyh KWAIZHKHËRH pëçôhàz how han-ymhäyz;
- Jhähm'hayhz hwtylyzy mhäyz dw khêh Mhey-àh kwllhèhrr dhy çöh-phà;
- Hwh prahzw dhäh mysthwrhä hèh dhy dhöyz mhezyz! Hapòhz, hëllà çêhkharhà;

Bon Appétit!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Jason VS Ronald

Foi na sexta à noite que cheguei a Tramandaí, e, assim que desci do ônibus, fui recepcionado por minha namorada querida (Lola), por seu pai querido (Fábio), pelo primo fantasma dela (Gui) e por um casal de amigos nossos (Nelson e Jaque) - um momento emocionante no qual todos recitaram separadamente uma palavra de cumprimento, que, em uma frase, ficaria algo do tipo "bem-vindo Lucas, te recebemos com muito carinho!", frase muito bem elaborada pelo 'Fabião' (o verdadeiro Homer Simpson viamonense). Apesar de o Nelson um deles ter travado no meio (o que quase comprometeu a recepção), foi o melhor (e único) cumprimento grupal que já recebi em toda a minha vida. A partir daquele momento, tinha certeza de que, o que quer que viesse a seguir, seria divertido. A chuva bem que tentou, mas a única parte dolorosa do meu dia foi após a mistura de litros de SKOL com um potão de Torta De Bombom, a qual eu mesmo fiz! Talvez tenha sido por isso que eu tenha perdido 10% do tempo total. Como diria o meu amigo Bolicheiro, "passei ruim!"

Duas noites depois de chegar, o auge do carnaval pré-chuva deu-se no centro de Tramanda*, pelo menos até onde eu me lembro. E foi onde fomos jantar. Eu havia comprado pela tarde uma máscara de plástico barato, na qual investi a pecúnia de R$ 4,00. Era para parecer o Jason - aquele tio brabo que come cérebro - e até que ficou BEM realista. Provavelmente pelo meu porte físico, muito assustador (entendam como quiser).

* o "apelido" de Tramandaí;

O fato é que, trajado de minha máscara, fomos até o McDanado's procurando um hamburguer cremoso. À parte disso, fui para atazanar os Guardiões do Hamburguer. A quem pouco me conhece, percebam o que penso a respeito do meu maior dilema: o ódio pelo Mc X o amor pelo McCheddar. Sempre considerei esta instituição como uma verdadeira sequestradora, por deter em suas mãos uma preciosidade imensurável e fazer uso desumano desta. Pensei nisto assim que vi a máscara: a cara que os McEscravos fariam ao ver o Jason pedindo um #4 fresquinho com Coca-cola e batata grande. Os resultados foram os melhores possíveis.

Assim que entrei na fila, todos os clientes (em especial as crianças) me olharam desconfiados. Eu era o único mascarado, em que pesasse a data tão especial. Os mais bem-humorados sempre gritavam "meu Deus, o Jason!", aumentando ainda mais minha glória. Meus olhos eram as únicas partes visíveis aquém da máscara, e eu fazia um bom uso disso. Quando chegou minha vez, uma bichona* veio atender-me com aquele sorriso arrependido no canto direito dos beiços.

* emo ou pessoa afeminada contra as leis da natureza cujas atitudes não lhe permitem ser respeitado(a);

A bichona tentou (e quase conseguiu) manter-se sério até o fim do atendimento, mas seu 'instinto felino' o traiu quando eu sussurrei com voz de terror "Dois número 4, por favor".
- Senhor?
- Dois número 4.
A bicha olhou para a colega do lado dizendo que não entendeu, e ela lhe explicou "dois número quatro!". Então ele retornou, desta vez impaciente:
- Qual a bebida?
- Coca-cola.
- Ai, eu não consigo ouvir.
Neste momento eu engrossei a voz de uma forma que até eu me assustei:
- COCA-COLA!
A bicha deu meia-volta, conversou com uma gerente ou algo do tipo, e em poucos segundos, TODOS os McEscravos estavam me olhando, inclusive os McCozinheiros. Ouvi lá de dentro o McLíder do dia falar em voz alta "pede por favor para ele tirar a máscara... mas com educação!" e eu comecei a esboçar um sorriso muito preocupante por dentro do PVC. Não demorou para a bicha voltar.
- O senhor pode tirar a máscara?
- Não.
A bicha hesitou um pouco, olhou para uma colega e prosseguiu:
- Como é a forma de pagamento?

Eu lhe mostrei o cartão. Assim, não haveria de tirar a máscara. Ele passou, pediu para eu assinar, mas esqueci que poderia ter avacalhado aí também. Menos mal. O pedido demorou HORAS para ser atendido, provavelmente por preconceito a mim. Enquanto isso, eu acompanhava com um olhar fixo e lunático, parado na fila de espera, somente a McBicha, que volta-e-meia me olhava de perto ou de longe. Ele jamais sorriu nesse tempo, tampouco conseguiu me olhar por mais de 2 segundos corridos. Eu realmente me esforcei para parecer um comedor de cérebros.
Quando peguei a bandeja, levei até a mesa onde se encontrava a Lola e o casal de amigos. Eu só tirei a máscara na hora de mastigar o pão, apesar de ter tentado fazê-lo com ela. Algumas pessoas riram quando fiz tal menção.

Não tardou para que eu notasse que as duas batatas vieram médias, em detrimento da nota fiscal, na qual dizia GRANDE. Eu paguei mais e eles me sacanearam. Ao menos, tentaram.

Esperei eles se organizarem para fechar o caixa, visto que já era tarde. O segurança só permitia a entrada de clientes por motivos especiais (estávamos nas mesinhas do lado de fora). Comi um pacote de batata inteiro e metade do outro, e então peguei esta metade restante e dividi entre os dois pacotinhos de batata, sobrando umas poucas batatinhas em cada pacotinho. Agarrei a nota, vesti a máscara e voltei lá.

Falei para o McSegurança que ia fazer uma reclamação, e ele me liberou no mesmo momento. Então o Jason aproximou-se do balcão com dois pacotinhos de batata e com uma nota fiscal em mãos. Uma senhora veio me atender:

- Pois não?
- A senhora sabe me informar o tamanho destas batatas?
- Sim senhor, é média.
- A senhora pode ver a minha nota fiscal?
*olhou*
- Ah, agora é tarde senhor.
- O que é que diz aí?
- Grande?
- Então me vê duas batatas grande agora.
- Agora a gente tá fechando, senhor...
*suspirei*
- A senhora não vai querer se meter em confusão a essa hora, vai?
- O que eu posso fazer é dar uma grande só senhor.

Acompanhei com os olhos ela me servindo, para evitar salivas desnecessárias. Na realidade, uma batata grande a mais seria um lucro absurdo, já que havíamos detonado as duas médias E os hambúrgueres, ou seja, fiz isso por pura honra, motivado pelo quê meu avô paterno sempre dizia em sua sabedoria campeira: "quanto mais a gente se abaixa, mais a bunda aparece". Tá certo; ele não falava "bunda".

De qualquer forma, a McEscrava, contrariada, serviu-me com muito desprazer, e eu e minha parceira comemos batatinhas quentes e gostosas, como o cérebro de inocentes silenciosos.

Após, Jason pegador foi pular o carnaval de Tramanda, onde foi muito melhor recebido.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Como Irritar Argentinos

Estive me contendo a tarde toda para não postar de novo, já que tenho feito isso com uma frequência incomum, mas eu não me aguentei.

Hoje às 11h estava lá na SMTUR quando alguém se deu conta de que eu não deveria estar lá, e sim em mais um SAT atendendo estrangeiros loucões, e então peguei um "busão" e acabei no Gasômetro de novo, de onde vos teclo. Mal chegara, meu amigo Max veio me convidar para que batêssemos um papinho na hora do almoço, tendo vindo até aqui. Fomos às pizzas do orgasmo glicídico (aquelas do post do chinês) e depois voltamos, e ele me acompanhou durante a difícil tarde de repouso no Serviço de Atendimento ao Turista.
Veio um francês bem bacaninha perguntando sobre um passeio de barco. Mal percebemos a linhagem real do jovem, que mais parecia um porto-alegrense, posto que era gringo, mesmo. Nosso inglês foi mutuamente cultivado com calma e com carinho e logo nos despedimos. Cheguei a comentar com o Max, que só ficara olhando: "essa é a parte boa do SAT".

Até que chegou um casal de argentinos.

Eles queriam sair de Porto Alegre, pegar a ponte do guaíba e voltar para a terrinha deles. Começaram a falar um español muito elaborado, exigindo-me o máximo de conhecimento, e, vencido, perguntei se falavam inglês. Foi quando a mulher, já puta da vida (típico estilo castellano) veio com a velha tática da silabação, perguntando sobre uma tal RUA 90. Demorei para entender que a idéia era fugir daqui, e o stress dos dois era muito engraçado. Perguntei de onde vinham para o homem e ele deu a entender que não queria conversar, que estava nervoso demais tentando sair da cidade e não achava informações concretas. O Max começou a me ajudar (grande garoto!) puxando um mapa e enrolando eles enquanto eu ligava para a garota-sabe-tudo do outro SAT (que fica a uns 10min daqui), à qual passei os argentinos. A argentina se negou a falar no telefone, até que a convenci e ela pegou, mais braba do que nunca, mas sem perder a pose "pseudo-européia". Enquanto ela estava no telefone, tentei explicar com calma para o marido dela, que literalmente se negava a tentar compreender. Assim que ele falava algo, sua mulher ralhava muito; "No hables ahora!". Comparando com o francês de antes, ou mesmo com o alemão da semana passada, é que percebemos a diferença entre ser e querer ser.
Ela acabou se entendo com a moça do outro SAT e pediu para CHEGAR ATÉ LÁ, e de lá conseguir informações: uma forma de nos "humilhar" tipicamente argentina. Depois agradeceram sem sorriso algum e, mal saíram da porta de vidro, começaram a falar mal de nós. Rimos um pouco e até agora me sinto triste. Não por não ter dado a informação correta, mas por não ter dado uma incorreta e sacaneá-los. Grr...
Mas até aí eu ainda não estava convencido de postar. Ao contrário: passei a tarde vendo um blog chamado Hoje É Um Bom Dia, escrito por um verdadeiro geniozinho da comunicação, do qual adoraria ser amigo. Nunca os contei, creio, mas a idéia de fazer esse blog vem de muitos anos atrás, e foi totalmente inspirada no HBD. Inclusive, era para ter se chamado "Hoje É Um Dia Comum", e isso estava decidido; não obstante, o receio de plagiar bloqueou minhas espectativas e eis o Tenha Muito Cuidado.
Após este flashback, lembro-me de que o Max já havia ido embora, e o verdadeiro motivo deste post apareceu: uma senhora apontou-se descendo as escadas em direção à porta de vidro deste sat, atraída por algum papel que tem na parte de dentro da sala. Acompanhei com os olhos todo o trajeto da velhinha curiosa, que veio se aproximando cada vez mais, e mais... até que deu de cabeça no vidro com muita força, fazendo uma cara tão engraçada que eu me escondi atrás do balcão. Ela, é claro, percebeu, indo embora muito arrependida.

Eu teria parado por aí; no entanto, antes de eu terminar o parágrafo acima, logo após postar o link 'da concorrência' que os divertirá mais do que aqui, mais um casal de argentinos (desta vez mais jovens) veio pedir informações sobre câmbios e um mapa. Mordi a língua: foram extremamente educados e compreensivos com a minha debilidade informacional. No entanto, isso me motivou a ligar para os lugares e achar a resposta para tudo que precisavam, o que fez o argentino concluir, entre risos: "en portuñol acabamos por nos entender"

Seus filhinhos gritavam impacientes coisas do tipo: "YO EMPECÉ A TENER HAMBRE!". Mal sabem eles que para onde vão tem McDonalds: o sanduba de todas as linguagens.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Ignoro Placas


Estou neste momento no SAT (vide posts anteriores), mas do Bom Fim, próximo à redenção. Não veio absolutamente ninguém até agora, a não ser um senhor ceguinho perguntando o número que estava bem grande ali na frente. Demorei meia hora para encontrar o local e mais meia hora para abri-lo, o que, bem sabemos, é um tempo recorde em se tratando de minhas débeis habilidades práticas.

Às 11:30 (há vinte minutos) percebi que este local não possui um banheiro. Passei a chave e fui em busca de um, passeando pelos casebres bonitos do comércio circundante aqui na Osvaldo Aranha. Encontrei uma vitrine que parecia de um consultório, ou de um SPA, tão branco e limpo era. Não pensei nem um segundo mais e entrei, menos por necessidade do que por curiosidade. Assim que abri a porta, uma moça simpática e limpinha veio me entregar um papel, cumprimentando-me naturalmente; eu agradeci e então caiu a ficha: eu estava num restaurante. Pensei: "bom, daqui a pouco já seria a hora do almoço mesmo..." e resolvi entrar. No entanto, percebi que alguma coisa estava errada. Havia somente pessoas neutras, sem muito ânimo e tampouco fome. No buffet, havia somente fila em uma das duas partes. Ao chegar perto, percebi que 70% da mesa era composta por frutas e por saladas, e essas coisas que coelho come... e era justamente onde as pessoas, civilizadamente, concentravam-se. Sem pudor algum, pulei todas e servi-me tranquilamente de arroz: o primeiro prato da parte das comidas de verdade.

Depois veio o feijão; ultimamente venho provando-o de diversos locais, mas sempre um pouco só. Adiante, começaram a aparecer aquelas coisas às quais não me aprochego, como molho de sei lá o quê, espinafre com massa de ervilha, ricota sei lá daonde... peguei a polenta mole mais adiante e então pensei: agora é a vez da carne, e quando finalmente cheguei no último prato...

- Com licença, não tem nenhum outro tipo de carne?
- Não senhor, somente o peixe com ricota ao molho de champignon, senhor.
- Hum, tá. Obrigado.

Peguei um desses, mas totalmente contrariado.

Quando estava sentado em uma das límpidas mesas, aguardei por muito tempo algum garçom vir me perguntar o que tinha para beber. E ninguém veio. Antes de reclamar do atendimento, resolvi ser engraçadinho e olhar ao meu redor. Não vi uma latinha de refri, uma garrafinha d'água, nada, senão copos de vidro com o mesmo suco. Preferi acreditar que todos eram estranhos e fui de novo a um dos garçons.

- Como funcionam as bebidas aqui?
- Só tem suco, e o cliente pode se servir à vontade! - completou com orgulho.
- Ah, tá. Obrigado.

Literalmente obrigado, obrigado a tomar aquele suco. Pensei "pelo menos um suquinho de laranja ou limão..." mas não foi tão surpreendente quando li: Suco Concentrado de Caju e Suco de Abacaxi com Manga. As opções eram tão ordinárias que eu comecei a rir enquanto decidia entre duas coisas que não gostava.
Sentei na mesa de novo com um certo receio. Todo mundo ao meu redor era limpo, bonito e provavelmente cheirava bem. E eu lá, reunindo tudo que não era verde e nem gelado, fui considerado um estranho, principalmente por ter servido o "prato proibido", o temido 'Ovo Frito Sem Gordura'. Eu era um verdadeiro bad boy.

Após o primeiro prato, percebi que havia sobremesas. De fato foi a única parte que valeu o preço razoável que paguei, o que me fez cogitar que talvez aquele lugar fosse uma grande sobremesaria, tendo o almoço como cortesia, acompanhamento.

Ao sair de lá, sentindo-me bem mais vazio do que quando entrei, resolvi olhar para cima e ler o que estava escrito. Não vou difamar o local com seu nome, mas sirva a quem servir, eis o seu lema:

"Natural Sem Ser Radical".

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Carta à Cunhada


Querida Cunhada,

Há duas semanas, venho planejando abertamente uma data especial na qual fritaria deliciosos pastéis de chocolate. Tal data chegou. Hoje à tarde, comprei uma barra cara e bem conservada, especialmente para a ocasião. Deixei a barra ao gelo por uma hora e meia. Depois, preparei-me, lavei bem as mãos e, com muito esmero, quebrei cada fileira da barra em pedaços de dois. Logo após, abri o pacote e parti cada dupla ao comprido, tendo assim por volta de 30 duplas compridas de chocolate preto-e-branco. Abri, pois, o pacote de pastelina (tamanho médio), separei 15 e, uma a uma, tirei-as e separei-as do plástico de apoio. Cada duas fileirinhas picotadas recheavam um pastel. Cada pastel recheado, lacrei com um garfo esterilizado, cuidando para não danificar nem a massa e nem o plástico circundante. Depois, cada pastel foi posto à frigideira três a três, com atenção redobrada, visto que não deveriam dourar mais do que o mínimo.

Minha cunhada; nesta ceia, junto de meu irmão e de seu amigo, comeste 13 dos 15 pastéis de chocolate que eu fiz. Ao questioná-la sobre o paradeiro de meus pastéis tão amplamente desejados - dos quais só tive o direito de provar UM - disseste-me que acabaram. Então, desnorteado e descrente, fiquei imóvel, e meu irmão justificou-se: "a mãe guardou um pra ti na geladeira". Obviamente, não poupei palavras, ao passo que, gentil e ironicamente, pronunciaste-te, como se razão tivesses, em voz irônica e ofendida: "Desculpa, na próxima vez eu não como, então."

A vontade que tive naquele momento foi de dizer "exatamente, sua ignorantona, NÃO COMA, afinal NÃO-SÃO-TEUS!" mas, feliz ou infelizmente, "cunha", tive uma ou duas aulas de educação em casa ao longo desses 20 anos que me passaram. É bem verdade que, apesar de termos frequentado o mesmo colégio durante o ensino médio, não parece que tivemos a mesma orientação em casa. Que falha; ah, que lástima!

Ainda hoje, deixaste a porta do MEU banheiro chaveada por dentro, forçando-me a vasculhar em busca de uma chave reserva. Fazes isso sempre que podes. Quando não podes, pois me encontro ou durmo próximo, fazes questão de me acordar chaveando e "deschaveando" tal porta com um barulho tão exagerado que eu precisaria de 3 meses de academia para reproduzir. Isso sem contar a cara de nojo que direcionas à minha companheira, à qual não direcionas uma palavra sequer há 2 anos e alguns meses, e também a falsidade com que tratas a minha irmã e meus pais, os quais já maltrataste algumas vezes. Não querendo somar a tudo isso o fato de deixares tufos de cabelo e/ou outros pêlos quaisquer em toda parte de meu banheiro, principalmente no vaso sanitário, sem dar-te o trabalho de apertar a descarga. Em prol do meio-ambiente? Ao diabo, sequer sabes o que é isso; há um lixo enorme para tanto, e a tampa é bem mais limpa do que teu caráter. Se um dia leres isso, saibas que teus quarenta cremes, duas bolsas e setenta sabonetes líquidos que habitam a MINHA pia do MEU banheiro estão correndo sérios riscos, tendo em vista o meu perfil vingativo e muitas vezes desequilibrado.

Eu te odeio, e, como bem sabes, falo isso de coração. Não é de hoje. Troquei a tua formatura (Deus esteja!) pela formatura de uma menina que mal conheço. Troco os jantares na tua casa por noites de jejum na minha. Troco a tua casa na praia por saunas no centro de Viamão. Todos nós te desprezamos, minha irritante cunhada, mas meu irmão - como pode! - não.

No entanto, torço pelo dia em que lutaremos (pelo menos uma vez!) lado a lado! Estou sendo sincero! Hei de te admirar no dia em que casares com meu irmão e, então, tiveres a sorte de agarrar seu futuro e sua fortuna com as duas mãos e com todas as tuas garras, tendo uma vida BEM longe dos meus olhos, em qualquer lugar que seja, criando meus sobrinhos com muita frieza e ensinando-os a arte da mesquinharia e o ofício do desprezo. Rezo pelo dia em que teus cremes e sabonetes íntimos desocuparão minha pia, em que minha porta estará livre de teu comportamento desprezível, em que minha irmã poderá livrar-se de teus comentários maldosos, em que meus pastéis serão meus! Oh, como agradecer-te-ia!

Apesar de "rugir para fora", como disse-me uma doce amiga que te colocaria, se comparadas, na mais inferior classe humanóide já existente, pouquíssimas pessoas extraem-me tal sentimento. Assim sendo, despeço-me com muito ardor e com um pouco mais de rancor, uma vez que minha mãe deu razão para vós, enquanto encontrei minha porta do banheiro mais uma vez fechada, pela segunda vez no dia. Espero que, na próxima vez, feche-a em teus dedos, e que os mesmos apodreçam, de forma semelhante ao que ocorreu com tua índole.

Atenciosamente,

Yo.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Estranhos e Estrangeiros

A quem servir: http://translate.google.com/#

Ontem passei o dia no SAT (Serviço de Atenção ao Turista) da Usina do Gasômetro, atendendo os turistas loucos que sobreviveram ao sol responsável pelos 45ºC sentidos no centro de Porto Alegre. Ao menos havia ar condicionado no local.

Pela manhã, uma moça de seus 27 anos, também da SMTUR, auxiliou-me, uma vez que eu não tinha absolutamente nada para informar aos turistas. E quando ela saiu, às 12:30h, tampouco sabia algo relevante. Pouco antes, por volta das 11h, entretanto, algo inesperado ocorreu-nos. A porta foi bruscamente aberta por dois senhores, e um pronunciou-se em espanhol: "este señor es germánico y necessita una ayuda", e saiu. O outro, grisalho, aproximou-se do balcão atrás do qual estávamos e se fez claro em bom tom: "Oi", e eu respondi "oi", sem entender direito o que era aquele sujeito. No momento seguinte, apontou para mim e para a moça perguntando "Any of you speak english?" e a guria ficou em estado de choque, pois só compreendia algumas palavras. E quanto a mim, era tudo que eu mais estava esperando. "Yes, I do", disse, e logo ele começou a me tratar como um retardado, falando pausadamente como uma criança bêbada. Agradeci aos céus por ele ter se comportado assim, porque eu não estava pronto para um diálogo "mano-a-mano dos brother". E ele ficou utilizando deste discurso superior germânico até eu perguntar para ele, com meu básico (mas não menos importante) conhecimento de alemão: "Sprechen Sie Deutsch?", e ele me olhou por um segundo, analisando-me como pessoa pela primeira vez desde que pisara naquela sala, e disse: "Ja, sprechen Sie?" e eu, no mais alto estilo viamonense, respondi com convicção: "ich spreche nicht Deutsch sehr gut, aber habe ich eine buch gelesen". Eu havia ensaiado essa frase tantas vezes... mas nunca pensei na possibilidade de ele retrucar: "ja, gut, welches Buch?", e eu fiquei sem o que dizer. Porém, não baixei a guarda: "it's ten german lessons for strangers", e ele passou a me respeitar (não sei bem por quê) e a agir mais educadamente. Isso até ele notar que a moça possuía um bronze típico das mulheres brasileiras - algo que, convenhamos, é bem comum aos nossos olhos. Isso o deixou extremamente perturbado, e mal podia disfarçar sua admiração pela minha colega. Compreensível, tendo na lembrança as velhinhas colonas polentudas com cor de gelo seco que habitam sua terra natal. Perguntei seu nome, e pelo que pude entender era Humbert.

Ele queria andar de barco no gasômetro, e que no barco houvesse água potável. Ao traduzir para a Simone, ela passou a procurar no computador, o que provavelmente indignou nosso amigo ariano, o qual não se conteve: "what is she doing?" e eu disse "she's looking for your boat, sir" e ele acalmou-se, e começou a olhar os folders e os papéis de propaganda que havia nas prateleiras, e os pontos turísticos. Quando ela achou, verificou que o barco mais próximo era dali a três horas, e eu fiquei com vergonha de lhe contar, mas não tive outra escolha. Ele ficou atordoado, mas disse que então perderia um tempo num museu. Eu falei do museu de tecnologia da pucrs, que, é claro, não se compara com Berlim, e após perguntei se ele estava de carro, tendo-me ele respondido: "I prefer the bus". Eu quase o convidei para ir a Viamão, mas deixei ele ter ao menos uma imagem positiva do país. Após, a moça sugeriu algum lugar e eu lhe repassei, sendo que ele fingia adorar as propostas, a despeito de eu saber que ignorara todas. Ela veio até nós, na prateleira, para pegar algum papel que ela insistia em mostrar a todos que entravam, e que até agora eu não sei do que se trata. Ela começou a procurar o papel, de costas para nós, e a cena mais engraçada do dia ocorreu-se: ele começou a olhar FIXAMENTE para a região dorsal da moça, e após estendendo o campo de visão com grande flexibilidade. Só não notara que eu o observava neste momento, e então eu aproveitei essa situação doce e delicada para propor-lhe um momento de timidez: "Denken Sie dass, ist sie ein schönes Mädchen?" (o senhor achou ela bonita?), e ele, meio pegado de surpresa, respondeu-me "ja, ja, Sie ist schön!", e ambos começamos a rir; ele, porque se sentiu um safadinho; eu, porque estava sacaneando ambos ao mesmo tempo, o meu maior hobby, como devem saber meus amigos.

Ele cansou logo e nos deu tchau, sem aceitar mais nenhuma informação.

Em breve a moça foi embora e me deixou sozinho. A partir de então, não consegui dar nenhuma informação, a não ser "onde ficava o cinema mais próximo", para uma paulista seqüelada. Menti para um israelense que havia uma parada de um certo ônibus num local da borges, sem nem mesmo saber do que se tratava. A questão é que não fazia a menor diferença, e eu não saberia procurar, já que nem ele sabia direito o que queria. Ele fedia muito e falava em espanhol, tanto que pensei tratar-se de um argentino. Diz que anda viajando por toda a América do Sul. Torci para que fosse a qualquer outro lugar, pois ele realmente fedia a carniça.

Após, duas suecas entraram: mãe e filha. Acompanhava-as uma senhora portoalegrense, que provavelmente as recebia em casa. Soube da nacionalidade quando esta brasileira me disse "oi, elas são suecas...", e então lembrei-me NA HORA do meu amigo Paulo, e nunca fui tão sorridente para um estrangeiro. A moça fazia intercâmbio, era loira, possante e tão branca quanto um palmito cru; estava no Brasil há 9 meses e falava português com sotaque gauchesco. Até me apavorei. Quando disse à senhora brasileira que eu era novo lá, a guria recessiva deu uma risada. Achei que fosse brincadeira, ignorando, mas logo ela falou comigo tão bem quanto qualquer colona de Novo Hamburgo. Então perdeu-se a graça e comecei a falar com a mãe da sueca, que só sabia inglês. "Are you from Gothenburg?", fazendo alusão à única cidade que conhecia além de Estocolmo; elas se surpreenderam: "no, we're from (e disse a cidade), it's close to Gothenburg. Have you ever been there?" e eu disse que não, nunca havia estado em Gotemburgo. Ela disse então que eu era estudioso. Foi como um soco na barriga, retribuído com um sorriso forçado de minha parte. Perguntei há quanto tempo (em inglês) a moça estava pelo Brasil, e ela começou a falar um inglês tão rápido e fluente que, sinceramente, eu me borrei. Sim, me-borrei! Não há outra forma de dizer isso; suei frio quando aquelas palavras gringas não atingiam meu conhecimento e impediam-se de formar uma frase com sentido. Ela era boa demais para mim. E como eu ia aceitar isso? Pedir para falar mais calmo? Nah. Eu repeti as duas últimas palavras.

"Nine months? Wow! You've learnt portuguese very fast!" E todas concordaram e saíram felizes, satisfeitas e provavelmente considerando-me um expert. Bom, neste mundo de aparências, isso sinceramente já me bastou.

Somente quando elas cruzaram a porta de saída é que me ocorreu: será que não caí no mesmo truque do Palavra da Vida? Preferi acreditar que não, e logo faltou luz. Fui embora meia hora antes, cheio de história para contar.

(Convenhamos, alguém consegue notar a semelhança entre Estocolmo e o gasômetro?)