sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O Roubo Solidário

Após o assalto emotivo, venho-vos apresentar a mais nova enrascada na qual nosso amigo (eu mesmo) se meteu.

Tudo começou quando, faminto, dirigi-me ao restaurante de costume mientras dejaba la simpática clase de español e procurei a mesa mais confortavelmente afastada, pensando já no futuro.

O fato é que, entre o almoço e a aula da tarde, valham-se-me mais de duas horas de ócio, utilizadas - normalmente - para estudar e... bom, a princípio só isso. Pois, servi-me, comi rapidamente (como de costume), sobremesei  após e dei-me por satisfeito: hora em que abri os livros.

Comecei a ler um longo texto de espanhol. Menos pela leitura cansativa do que pela noite mal dormida, não resisti e caí no sono ali mesmo, em cima do livro, deixando minha mochila (aberta, sim) na cadeira vazia ao lado. E sonhei; ah, como sonhei!

Quinze minutos depois, um (xulo) cutucão no ombro, seguido de uma voz com aquele suave sotaque maloqueiro, conquanto feminino:
- Ô moço, vai dormir aí com tua bolsa aberta?
- Hã? - disse, abrindo os olhos e formulando uma imagem embaçada de uma mulher simples, porém nada confiável.
- Se é outro, hein...

Dito isso, sumiu. Quando me recompus, olhei para minha mochila, de fato aberta. Olhei ao redor; ninguém nas mesas próximas. Minha carteira estava semiaberta e havia dinheiro para fora. Contei-o. Faltavam R$10,00 na quantia total, mas ainda sobraram R$ 20,00 em notas menores.

"Que alma caridosa!", pensei, "deixou dinheiro para eu pagar a conta!"

Logo me dei conta, também, que a doce ladra havia me acordado, avisando-me de um possível furto futuro. Não sei se por consciência pesada, ou por desejar monopólio criminal, exclusividade no roubo. Oh, minha solidária e ciumenta infratora, se leres isso um dia, saibas o quão agradecido fiquei, a despeito do desfalque, que me custou a impossibilidade de dividir os custos do ensaio daquela noite. Por outro lado, ao caminhar de volta ao curso, conformei-me facilmente com a seguinte consciência:

"Ela me acordou preventivamente, e eu lhe paguei o almoço. Estamos quites."

E, sendo assim, substituí a leve raiva destrutiva por um leve sentimento de... burrice.

2 comentários:

Liliane disse...

Dormir no restaurante! Só tu, meu jovem!
Mas burro, nem que nasças de novo.
Apenas descuidado.
Realmente, certas coisas só acontecem contigo.....

Marcelo disse...

10 pila foi pouco...
As tuas histórias são impagáveis!