quinta-feira, 12 de março de 2009

A Bicha Importante

Vocês já tiveram a sensação de estarem sendo observados?

Pois bem, este post não tem nada a ver com a frase acima, mas eu achei interessante iniciar com tal impacto. Minhas entediosas férias trimestrais estão chegando ao fim com um ano extremamente delicado (talvez o mais importante de minha vida). Os planos são claros: abrir mão de tudo; banda, amigos, festas (me refiro aos encontros mensais nas casas alheias), bom, tudo isso e mais um pouco deve entrar em recesso por um ano. E em um desses dias chatos e monótonos em que a espera é mais ardida que cachaça fervida, fui acordado às oito para entregar alguma coisa para meus pais em uma construção em Porto Alegre. Após centenas de orientações, calcei os tênis e me dirigi ao carro podre de trabalho deles. Fui e voltei em uma hora e pouco. Pela tarde, tive de passar em um banco perto do Pronto Socorro. Para tanto, levei minha namorada, primeiro por apreciar sua companhia, segundo por não fazer ideia até então de como chegar aoPronto Socorro. Com sua ajuda, cheguei lá suado, sujo e com aparência desprezível.

Ao adentrar, o segurança me encarou, do outro lado de uma parede de vidro, com um olhar de desprezo e ódio que resumiam uma frase subentendidamente clara: "Eu tô de olho em ti, seu pivete maloqueiro". Lembrei-me de meu estado caótico e compreendi-o. Precisava fazer um depósito, então minha namorada - mais vivida - pegou um envelope e botamos o dinheiro dentro.
Atrás dele, a única coisa que dizia era Nome do Requerente (ou algo assim) e Data. Não tinha, no entanto, uma caneta sequer. Através da parede, pude perceber que aquele segurança que me encarava possuía uma caneta em seu bolso da frente, e pus-me a solicitá-la. Passei pela porta giratória (já ia escrever roleta) e falei algo sobre a caneta, mas ele fez um gesto bravo com a cabeça, como se não tivesse entendido. Eu repeti claramente: "Não tem caneta ali, o senhor pode me emprestar a sua?" e ele, totalmente contrariado, retirou devagar sua caneta do bolso e me entregou com desconfiança. Voltei para a sala de entrada, onde ficavam as máquinas e envelopes. Encarei o envelope novamente com toda a minha inexperiência bancária, após diversas perguntas à namorada (que também estava perdida dentro daquele banco totalmente alternativo). Quando estava decidido a procurar outra forma de depositar aquele papel sujo e valioso na conta que tinha anotado no bolso, apareceu uma figura totalmente alegórica do nosso lado. Era um "homem" de prováveis 30 anos, loiro, estatura média e uma voz e aparência COMPLETAMENTE CINEMATOGRÁFICA. Sim, era uma bicha. Mas uma bicha de respeito; trajava terno e gravata - era o provável gerente, ou algo importante lá de dentro. Sua simpatia me assombra até hoje; surgiu do nada com o maior sorriso que conseguia estampar na cara e perguntou em um tom alto, claro e gay: "Vocês precisam de ajuda, né?" e eu, desesperado, respondi na mesma hora: "Sim!", o que o fez rir descontroladamente. "E o que é que precisam?"

Bom, após mostrar-lhe o envelope, perguntei o que era para fazer, e ele disse convicto: "é só botar o teu nome aqui e a data. Por favor, não-esquece-da-data!" e eu sequer me perguntei o porquê. Preenchi tudo e um canhoto extra que ficaria comigo. Ele pegou o meu envelope para ensinar a destacar a fitinha. Nesse momento, uma senhora pediu informações sobre o mesmo envelope, e ele pensou que o meu era o dela, oferecendo-a o dinheiro que eu já tinha colocado ali dentro. Após, fez gestos e risadas gays para explicar que tinha se confundido. Aceitei tudo por conveniência e fui devolver a caneta ao segurança, que me olhava com um sorriso irônico. Perguntei ao gerente gay onde era o buraco de depósito, e logo obtive sua resposta. Fui até o local e enfiei o envelope. Com muita gana em sair daquele ambiente fresco (em todos os sentidos), fui em direção à porta, quando minha namorada perguntou "peraí, e o número da conta?". Me senti um tremendo retardado.

Sabe aqueles momentos em que a pessoa se abstém do orgulho e, por mais que saiba de seu leito (que é fazer papel de imbecil), vê-se obrigado a seguir em frente e ignorar tal fardo? Bom, devido às circunstâncias, vi-me sem saída e retornei, esperando a bicha parar de atender qualquer um que estivesse perdido (todos). Quando ele me deu a palavra, expliquei meio gago que havia esquecido de pôr nome, e antes que completasse a frase, ele me cortou: "Ok, ok, qual era o procedimento? O que tu queria?" e eu respondi "Depositar aquele dinheiro pro meu pai!". Ele sorriu meio angustiado e com vergonha por mim, e falou que iria pedir para alguém que trabalhasse ali dentro retirar o envelope de lá. Depois disso, entrou porta giratória adentro, mas em vez de resolver meu problema, ficou uns dez minutos no telefone. "Bicha maldita", pensava, mas nada dizia ao lado da minha namorada, que me convencia, impaciente, a ir falar com ele. Também ela me lembrara que o canhoto tinha ficado comigo. Como eles saberiam qual era o envelope certo?

Com preguiça e muita impaciência, fui obrigado por ela a ir atrás da bicha (no bom sentido). Ao me ver chegando, dispensou quem quer que fosse do telefone e veio até minha direção, passando pela porta giratória e dando a notícia que a moça já viria. Tão rápido dizia isso, a porta giratória o fez saltar uns dois passos quando bateu com força em suas costas - ele havia parado na frente dela, já que eu estava indo ao seu encontro. Tentei conter o riso ao ver uma bicha loira e arrumada sendo lançada para frente com muita dor, mas então ele conseguiu me extrair gargalhadas ao dizer "Ok, ok, eu sou burro; fui atacado por por uma porta!". Cara, isso parecia um filme americano, tipo Gaiola das Loucas, mas um pouco menos Glam. Após esse acontecimento ilustre, apareceu uma mulher tão simpática quanto a bicha importante - velha tática dos bancos privados - com uma pilha de envelopes na mão. Sem questionar nada, localizei o envelope pelo nome e agradeci em voz baixa. Retirei a porcaria do dinheiro lá de dentro e a bicha já vinha me dando informações. Ao retirar o envelope correto (que se encontrava na máquina), lembrei que tinha devolvido a caneta para o segurança. Que preguiça de viver.

Quando ia atravessar mais uma vez a maldita porta giratória, a bicha perguntou o que era, falei sobre a caneta e ele me deu a primeira notícia boa do dia: "não precisa, pode fazer tudinho pela máquina!" e sorriu alegremente. Agradeci e fui ter com a máquina. Puxei o papel do bolso e, junto de minha namorada, tentei desvendar o mistério dela; e após concluir (muito tempo depois) todas as operações, o barulho e uma informação na tela me fizeram crer que era hora de depositar o dinheiro em algum dos 50 orifícios daquele gabinetezinho mal-feito. Tentamos em todos, com muita calma, até que... "OPERAÇÃO CANCELADA. FAVOR TENTAR NOVAMENTE".

Não gritei; apenas obedeci. E com muita raiva, repeti tudo com rapidez, e levei pouco menos tempo para achar o buraco certo e finalmente depositar aquele pacote de papel moeda que tanto me envergonhou. Quando acabamos, a fila ao lado era imensa e a minha estava vazia - prova de que demorei tanto, que as pessoas optaram por esperar os outros. Para finalizar minha saga, me despedi da bicha, do segurança e de algumas pessoas que já acompanhavam minha epopeia de perto. A bicha falou de longe e bem alto "Eu sei que isso tudo foi só para vocês curtirem o arzinho gelado daqui de dentro!" e eu respondi algo simpático, apertando o passo até a porta de saída. Nunca me senti tão bem ao receber o bafo fervente e úmido do centro de Poa no mais quente verão sulino.

PS: eu nunca mais volto lá.

5 comentários:

Paola disse...

Nesse eu posso comentar! Sério, essa história foi muito engraçada, mas tá ainda mais engraçada por aqui! Eu ri MUITO lembrando dos detalhes que, surpreendentemente, tu lembrou! Um mais perdido que o outro, e não foi nossa culpa, o banco que era horrível... 8) Um dia interminável e muuuuuito engraçado! Te amo, Luga, tu me diverte... x) ;@@@

Anônimo disse...

Fica de olho nesse teu cú

Paola disse...

cu não tem acento! 8)

Lucas Di Marco disse...

de fato, cu não tem acento.

Anônimo disse...

Ai volte logo