domingo, 5 de abril de 2009

Aventuras Sanitárias


Devido ao pertinente fracasso dos posts educativos, resolvi retornar àqueles que, por decreto, agradam mais.

Depois de um ano lesionado, devidamente curado, resolvi aceitar uma pelada na PUC (me refiro a um jogo de futebol), e chegando na manhã de sábado por lá, percebi que teria de me trocar em algum banheiro. Com preguiça de procurar, entrei na primeira porta que se parecia com um banheiro (péssimo hábito meu, como verão na segunda parte deste post), já que sempre me dou mal. Desta vez foi mais ameno: percebi que algo estava estranho quando avistei um pedaço considerável de plástico em cima do trono e muitas barras de metal pelas paredes. Pensei "hum, que chique esse lugar", mas logo me dei conta do erro quando notei que a lixeira tinha quase a minha altura (ok, não é lá muito grande, mas para uma lixeira...) Sim, era um banheiro de deficientes. Envergonhado, troquei-me rápido para que ninguém me pegasse lá; porém, se isso não tivesse acontecido, não o estarias lendo aqui: ouvi batidas na porta. Gelei, mas como nas outras situações em que me ferrei no banheiro (não pensem besteira) dei um jeito de me virar passando o mínimo de vergonha possível. Como este não é o foco da postagem, acabarei logo com o sofrimento: falei "tem gente" e me troquei com muita cautela. Quando acabei, esperei até não ouvir muito barulho perto da porta, destranquei-a e saí. Ao sair, percebi que era apenas um faxineiro; ainda assim, fingi mancar um pouco até dobrar o corredor (uma cena lastimável e vergonhosa). Ele sequer percebeu meu esforço.

No entanto, a situação a que isso me remete é muito mais humilhante do que se imagina. Todos os meus amigos devem lembrar dela, mas vá lá...

No início de 2008, estava num hotel daqueles bem estruturados do centro de POA. Não, eu não era hóspede; apenas assistia a uma aula extra de um curso qualquer. Era manhã bem cedo, e quando cheguei, como de costume, fui lavar as mãos pós-ônibus - uma das minhas mais graves frescuras higiênicas. Perguntei onde era o banheiro para uma funcionária, enquanto a sala LOTAVA no saguão em que seria dada a aula. A moça me disse a direção, e lá fui eu, evitando encostar as mãos no resto do corpo. Quando suspeitei ter chegado onde ela havia dito, notei que havia um símbolo completamente extravagante na porta, sobre o qual não fazia a menor ideia. "Deve ser o banheiro", pensei, e acertei: de fato era o banheiro. Estava vazio.

Quando entrei, tive a incrível sensação de estar no primeiro mundo. As patentes brilhavam junto dos azulejos e das paredes; era tudo muito limpo e bonito, incluindo o chão. Eu lavei as mãos como calculado, mas não me contive em só fazê-lo: tive de estrear a patente mais límpida que já havia visto. Como não havia nenhuma vontade sólida, optei por, ao menos, urinar ali e acompanhar com os olhos o trajeto e o som metálico da urina descendo em movimentos circulares até o contato indispensável com a água transparente daquele trono de rei europeu. Em outras palavras, mijei de porta aberta. Havia apenas dois boxes, o que eu usava e mais um ao lado. Quando terminada a emissão, ia apertando a descarga - para dar continuidade à tradição de limpeza daquele lugar - quando, antes de chegar ao botão, ouvi entrarem pela porta principal do banheiro duas pessoas, que, graças ao bom Deus, conversavam entre si. As vozes eram femininas.

Não demorei mais de meio segundo para perceber a imensa cagada que, por ironia, mesmo sem vontade, acabei fazendo. Em um ARCO reflexo, dei um bico na porta do boxe e a tranquei com precisão. A partir daí, foi terrorismo.

As vozes nunca paravam, e cada vez mais mulheres entravam naquela budega brilhosa. Comecei a suar frio e, confesso, até dor de barriga me deu, o que pelo menos poderia ser resolvido no caso de piora. Estava eu e a patente dentro daquele cubículo cerrado, e as vozes do lado de fora nunca paravam. O mais incrível é quando as batidas do coração foram ficando mais amenas e comecei a perceber o quão importante era aquele momento em minha vida: eu estava penetrando o ambiente mais íntimo das mulheres (já disse para pararem), e nenhum homem que eu conheça jamais conseguiu essa façanha. No boxe ao lado, ouvia aquele barulho de expulsão ríspida e veloz da urina feminina através dos devidos mecanismos, e isso até me assustou. O que elas fariam se imaginassem que havia um homem ouvindo-as falando e fazendo coisas tão íntimas? Ótimo, eu era O espião. Mas como faria para sair de lá?

Bom, para aqueles que ainda não sabem como funciona o banheiro feminino, posso dizer que aprendi bastante com aquela experiência. Elas conversam o dobro do que na rua, e sobre os mais variados temas; dão as mais excêntricas gargalhadas, usam palavras como "guria" e "menina" com muita frequência para se direcionar à outra, e o mais estranho em seu comportamento: elas se revezam. "Ah, que retardado", devem estar pensando as acompanhantes femininas, mas por favor, não há quem se reveze no banheiro masculino. Nunca vi alguém urinar no mesmo lugar que o outro urinou no mictório coletivo, a menos que haja apenas aquele lugar, ou uma fila quilométrica. Não há razão para arriscar um resquício de mijo alheio retornando do local para sua cara. E vasos sanitários? Olha, é preciso estar MUITO necessitado para utilizar um, ainda mais após ver um semelhante saindo de lá. Eu mesmo já passei por contorcionismos até então inacreditáveis para mim por conta de não poder usar a patente mijada por outrem. Mas não: as meninas revezam o buraco com prazer (EU DISSE CHEGA!). Mas como eu saí de lá?

Bom, de algum modo eu sobrevivi para contar essa história (espero que alguma representante não me elimine antes de postar, já que contei tantos segredos do universo frágil). Eu esperei cerca de 15 minutos, os mais assustadores da minha vida. Pensei: "vou perder a maldita aula, mas antes isso do que ir para a cadeia", sim, a gente pensa cada coisa quando se está numa jaula sem nada mais a fazer... e no primeiro silêncio que se fez, destranquei a porta e dei um passo para fora do boxe, mas logo ouvi a porta do banheiro abrindo-se novamente e recuei. Grrr. Sem mais paciência, pensei em tudo que poderia fazer. As chances de sair de lá sem um escândalo daqueles eram muito remotas. E se eu me fingisse de gay? Bom, teria que ser muito bem feito, mas ainda assim era bem pouco provável que acreditassem, tendo em vista minha forte masculinidade (ok, forcei a barra, eu sei) e meu péssimo talento em interpretação. Poderia também tentar explicar a história, mas antes disso teria que ter a atenção de muitas mulheres, e como fazer isso se estava vestido? (forcei de novo?) Poderia ser engraçada qualquer uma dessas opções, mas na vida real é apavorante, acredite. Então me ocorreu esperar mesmo. E quando ouvi a última voz saindo pela porta, mesmo sabendo que ainda havia uma mijona no boxe ao lado, abri a porta com muita voracidade e sai correndo até a porta do banheiro, por onde entravam duas mulheres - que me olharam com muita surpresa - mas a merda já estava quase que literalmente feita e ignorei-as. Ora, quanta putaria não acontece nesse mundo; mas quando se trata de um erro...

"OOOOH!"
"O quê foi, Dona Gertrudes?"
"O menino entrou no banheiro feminino!"

E no banheiro da sua casa, Dona Gertrudes, na certa deve haver três divisórias: masculino, faminino, e Dragões, sua suíte exclusiva. Faça-me o favor.

12 comentários:

Paola disse...

oeaiaepoieaopaeieapo

gurias conversam em qualquer lugar e o tempo todo. eu falo muito a palavra "guria" :(

começo a me identificar com teus posts :P

nhamo tu ;@@@

Ana Letícia disse...

Eu já passei por essa fase: coisas educativas não atraem as pessoas [ou pelo menos a maioria]. Mudei e voltei para o mundo educativo de novo.
Gosto de escrever informalidades, mas o mundo informativo sempre me puxa de volta.

Essas histórias aí são reais? :P
Vai usar o banheiro preferencial pra ver no que dá.
Se eu fosse você falaria que era analfabeto e dislexo [não entender os sinais indicativos :3]... viva a Joselitagem!

;*

Ana Letícia disse...

Eu já passei por essa fase: coisas educativas não atraem as pessoas [ou pelo menos a maioria]. Mudei e voltei para o mundo educativo de novo.
Gosto de escrever informalidades, mas o mundo informativo sempre me puxa de volta.

Essas histórias aí são reais? :P
Vai usar o banheiro preferencial pra ver no que dá.
Se eu fosse você falaria que era analfabeto e dislexo [não entender os sinais indicativos :3]... viva a Joselitagem!

;*

Unknown disse...

Ok, vamos esclarecer uma coisinha:
as indicações que tinha na porta eram COMPLETAMENTE ESTRANHAS! Era impossível entender se era masculino ou feminino, me admira não ter encontrado outros homens lá.

felipesfr disse...

hahahahaahah

cara... está sublimemente perfeito..

além de estar engraçado você escreve muito bem..

seu blog está de parábens

haahhaahhahahahah

mas.. de tudo. foi uma experiencia boa.. agora já sabemos que elas compartilham a privada

hahhahhah

Unknown disse...

Cara, o pior é entrar no lugar errado na hora errada e não ter como fugir... Acredite, eu sei...

Vi seu blog numa comu do orkut!
Passa lá no meu tb:
http://blogdapattyandrea.blogspot.com

Marcos disse...

Bom post!

*Cah Simon* disse...

nossa! que aventuraa!!

hahahhaa!!

uma vez eu e minhas amigas, de um curso que faziamos, resolvemos ver como era o vestiario masculino, entramos em oito no vestiario, xeretamos e sentamos nos bancos pra conversar, dai vieram os meninos da Ed. Física...nussa, eles ficaraam em choque de nos ver lah dentro e tomamos uma advertencia verbal!hahahhaa!
mas foi divertido ver a cara deles pensando: invadiram ateh nosso espaço!

gostei do blog!

achei no orkut!!

eh isso ai!!

ateh!!

Beta disse...

Hahahahahaha... você tem é história para contar em banheiros, heim?

Adorei!!!

Beijos
http://janeladecima.wordpress.com/

Patrícia Andréa disse...

Ah, mas uma coisinha: linkei seu bog=)
Bjus!

Anônimo disse...

hauhauahauahauahauahuahauahauahaua...
cara.. que hilário... o q os homens conversam no banheiro masculino, ou será q conversam?


huahauahauahau..

adoro lavar as mãos!

^^

Lucas Di Marco disse...

O que nós conversamos? HAHAHAHAHA

Acompanhe o próximo post