sábado, 29 de maio de 2010

Casamento Arranjado

Quando eu abri os olhos, estava descendo uma escadaria de pedra escura junto de uma jovem e de um senhor. Eu estava de costas e, para não cair, tive de me virar com certa agilidade. Assim que o fiz, o senhor, nobremente trajado, estendeu-me a mão dizendo em palavras claras e decididas:
- Ok, aqui está o teu. E aqui o teu, minha filha.
Deu-nos um anel brilhante para cada. Pus no bolso sem compreender; fato: aquele sujeito não parecia ser qualquer plebeu. Logo que descemos até o último degrau, comecei a cogitar algum rascunho de ideia.

Um saguão em uma masmorra coberta de pedras antigas e iluminada por tochas - eis o ambiente em que nos encontrávamos. Por algum motivo, senti-me seguro por lá, apesar de desconfiado. Certamente era um engano: eu não sabia quem era a moça, tampouco seu pai; nem mesmo sabia o que era aquele lugar. O que imaginava é que estava sendo incorporado à nobreza, tratado como um membro da corte. Conquanto o desejo fosse semelhante à mentira de Encruzilhada - contar-lhes a verdade -, vi-me novamente no mesmo dilema: minha cabeça estava em jogo.

E assim fui seguindo o rei. Sim, não havia dúvidas: ele era o rei. Conforme íamos passando pela masmorra, dobrando num portal de pedras grandioso à esquerda - donde cuidavam dois guardas muito sérios - as pessoas daquele subterrâneo ambiente pedregoso iam nos admirando com o olhar. E cumprimentavam-nos como se fôssemos deuses: o rei, a jovem princesa e... eu. Sequer tive coragem de encará-la, mas sua expressão era conformada. Creio que o costume já não a assustava. Na certa, torceu para que eu tivesse dois braços, duas pernas e quem sabe um temperamento não muito agressivo. Ela tampouco olhava para mim.

Quando saímos daquele ambiente, entrando em uma nova passagem fortificada e de teto baixo e úmido, demos alguns passos até um novo local, desta vez aberto. Ao fim do corredor, via muita iluminação e uma arquibancada com inúmeras pessoas, apesar de o novo ambiente também ser fechado por longas paredes pedregosas. Notei algumas colunas redondas e uma escultura gigantesca de um velho barbudo imponente e nu. Quando entramos, logo o rei se desvencilhou de nós, e a jovem foi para junto das suas. Eu aproveitei o ensejo e senti-me no saboroso anonimato por alguns minutos, nos quais aproveitei para indagar um jovem tolo que admirava a cerimônia festiva e barulhenta com uma taça de vinho na mão. Ele, sozinho, sorria de prazer. Cheguei até o sujeito com o único propósito de extrair-lhe algumas informações acerca de meu paradeiro.

- Cara, em que ano estamos?
- Hã? - comecei a me apavorar. Veio-me uma nova ideia em mente.
- Tu conhece Jesus Cristo?
- Quem é esse? - disse o sujeito, sorrindo.
- Hmm... Alexandre Magno?
- Não conheço teus amigos, desculpa. - neste momento, resolvi apelar para a minha intuição.
- Cara, isso aqui é a Grécia?
- A Grécia? Ah, dizem que a Grécia é tudo isso aí fora...
- Ok, obrigado.
- Tudo bem. Mas não devia ligar pra esses estrangeiros.

Eu tinha certeza de que estava na Grécia antiga. Restava saber em que fase, e, se fosse o caso, em qual cidade. Rezava para mim mesmo: "não seja Esparta! Não seja Esparta!"

- Prezados cidadãos de Esparta! - dizia o Rei em voz alta e ameaçadora. Gelei. Se antes tive medo de ser descoberto, agora a chance de eu ser morto seria a mesma de eles ouvirem meu sotaque. Enquanto o Rei anunciava o casamento de sua filha, as pessoas riam admiradas e felizes na caverna, ou seja lá o que fosse aquilo. A palavra - por incrível que pareça - foi dada à moça, que começou um discurso nobre acerca de nosso matrimônio. Alguns me olharam, e logo o rei dirigiu-me um olhar de censura; então, resolvi ir até o lado da moça.

Enquanto ela falava algumas palavras de reflexão, percebi o quão improvável era aquela situação. Lembrei-me do anel e comecei a suar frio. Eu não sabia onde o havia posto. Cada palavra que ela dizia encaminhava-se ao final do discurso, e meu pescoço sentia-se decapitado aos poucos. Foi quando finalmente lembrei: está no bolso!

- Agora tu podes colocar o anel no dedo dela! - dizia o Rei para mim em voz alta, para que todos ouvissem. Ela esticou a mão. Eu coloquei a mão esquerda no bolso, mas... não tinha bolso...

Eu estava de cueca.

(Eis detalhadamente o sonho que me despertou hoje pela manhã)

8 comentários:

Liliane disse...

O pior de tudo é se ver de cueca no meio da cerimônia de casamento!
Acho que nossa conversa sobre o Aristóteles te transportou para a Grécia antiga...
hahahahahahahahahahahahahahahaha

Anônimo disse...

Cara, que pavor. Imagina, ficar de cueca em Esparta. É praticamente clamar por ter uma relação homossexual.

Diogo disse...

Andou pensando em Atemporah antes de dormir?

Lucas Di Marco disse...

Ando pensando muito em Atemporah cara. Acho que já é hora de retomarmos o posto...

Unknown disse...

Lucas, στέκεται μόνο στο εσώρουχο, ακριβώς στο μήνα του μέλιτος!

Marcelo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marcelo disse...

Que sonho doido! Heinhô, Batista?

Unknown disse...

que medo de casamento, hein Senhor Lucas!

bom final =P