Quando eu abri os olhos, estava descendo uma escadaria de pedra escura junto de uma jovem e de um senhor. Eu estava de costas e, para não cair, tive de me virar com certa agilidade. Assim que o fiz, o senhor, nobremente trajado, estendeu-me a mão dizendo em palavras claras e decididas:
- Ok, aqui está o teu. E aqui o teu, minha filha.
Deu-nos um anel brilhante para cada. Pus no bolso sem compreender; fato: aquele sujeito não parecia ser qualquer plebeu. Logo que descemos até o último degrau, comecei a cogitar algum rascunho de ideia.
Um saguão em uma masmorra coberta de pedras antigas e iluminada por tochas - eis o ambiente em que nos encontrávamos. Por algum motivo, senti-me seguro por lá, apesar de desconfiado. Certamente era um engano: eu não sabia quem era a moça, tampouco seu pai; nem mesmo sabia o que era aquele lugar. O que imaginava é que estava sendo incorporado à nobreza, tratado como um membro da corte. Conquanto o desejo fosse semelhante à mentira de Encruzilhada - contar-lhes a verdade -, vi-me novamente no mesmo dilema: minha cabeça estava em jogo.
E assim fui seguindo o rei. Sim, não havia dúvidas: ele era o rei. Conforme íamos passando pela masmorra, dobrando num portal de pedras grandioso à esquerda - donde cuidavam dois guardas muito sérios - as pessoas daquele subterrâneo ambiente pedregoso iam nos admirando com o olhar. E cumprimentavam-nos como se fôssemos deuses: o rei, a jovem princesa e... eu. Sequer tive coragem de encará-la, mas sua expressão era conformada. Creio que o costume já não a assustava. Na certa, torceu para que eu tivesse dois braços, duas pernas e quem sabe um temperamento não muito agressivo. Ela tampouco olhava para mim.
Quando saímos daquele ambiente, entrando em uma nova passagem fortificada e de teto baixo e úmido, demos alguns passos até um novo local, desta vez aberto. Ao fim do corredor, via muita iluminação e uma arquibancada com inúmeras pessoas, apesar de o novo ambiente também ser fechado por longas paredes pedregosas. Notei algumas colunas redondas e uma escultura gigantesca de um velho barbudo imponente e nu. Quando entramos, logo o rei se desvencilhou de nós, e a jovem foi para junto das suas. Eu aproveitei o ensejo e senti-me no saboroso anonimato por alguns minutos, nos quais aproveitei para indagar um jovem tolo que admirava a cerimônia festiva e barulhenta com uma taça de vinho na mão. Ele, sozinho, sorria de prazer. Cheguei até o sujeito com o único propósito de extrair-lhe algumas informações acerca de meu paradeiro.
- Cara, em que ano estamos?
- Hã? - comecei a me apavorar. Veio-me uma nova ideia em mente.
- Tu conhece Jesus Cristo?
- Quem é esse? - disse o sujeito, sorrindo.
- Hmm... Alexandre Magno?
- Não conheço teus amigos, desculpa. - neste momento, resolvi apelar para a minha intuição.
- Cara, isso aqui é a Grécia?
- A Grécia? Ah, dizem que a Grécia é tudo isso aí fora...
- Ok, obrigado.
- Tudo bem. Mas não devia ligar pra esses estrangeiros.
Eu tinha certeza de que estava na Grécia antiga. Restava saber em que fase, e, se fosse o caso, em qual cidade. Rezava para mim mesmo: "não seja Esparta! Não seja Esparta!"
- Prezados cidadãos de Esparta! - dizia o Rei em voz alta e ameaçadora. Gelei. Se antes tive medo de ser descoberto, agora a chance de eu ser morto seria a mesma de eles ouvirem meu sotaque. Enquanto o Rei anunciava o casamento de sua filha, as pessoas riam admiradas e felizes na caverna, ou seja lá o que fosse aquilo. A palavra - por incrível que pareça - foi dada à moça, que começou um discurso nobre acerca de nosso matrimônio. Alguns me olharam, e logo o rei dirigiu-me um olhar de censura; então, resolvi ir até o lado da moça.
Enquanto ela falava algumas palavras de reflexão, percebi o quão improvável era aquela situação. Lembrei-me do anel e comecei a suar frio. Eu não sabia onde o havia posto. Cada palavra que ela dizia encaminhava-se ao final do discurso, e meu pescoço sentia-se decapitado aos poucos. Foi quando finalmente lembrei: está no bolso!
- Agora tu podes colocar o anel no dedo dela! - dizia o Rei para mim em voz alta, para que todos ouvissem. Ela esticou a mão. Eu coloquei a mão esquerda no bolso, mas... não tinha bolso...
Eu estava de cueca.
(Eis detalhadamente o sonho que me despertou hoje pela manhã)
8 comentários:
O pior de tudo é se ver de cueca no meio da cerimônia de casamento!
Acho que nossa conversa sobre o Aristóteles te transportou para a Grécia antiga...
hahahahahahahahahahahahahahahaha
Cara, que pavor. Imagina, ficar de cueca em Esparta. É praticamente clamar por ter uma relação homossexual.
Andou pensando em Atemporah antes de dormir?
Ando pensando muito em Atemporah cara. Acho que já é hora de retomarmos o posto...
Lucas, στέκεται μόνο στο εσώρουχο, ακριβώς στο μήνα του μέλιτος!
Que sonho doido! Heinhô, Batista?
que medo de casamento, hein Senhor Lucas!
bom final =P
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