segunda-feira, 15 de março de 2010

A (Des)Ilusão

Um sonho com o Alemão e com o Paulo me fez acordar rindo alto às 5 da manhã durante a semana passada. Ou o bloqueio na transmissão da serotonina entre os neurônios, mas e daí? O fato é que acordei feliz. Não tive tanta sorte nos últimos dias, porque desrespeitei uma orientação crucial e acabei bebendo alguns goles de cerveja. Meus rins pregaram-me uma peça. Meus neurônios voltaram a respirar normalmente, e uma nostalgia atacou meu mundo fechado e cá estou, destratado e perdido de tanto ver Lost ontem à tarde. Vi uns bons 5 episódios.

Porém, não vim aqui para me lamentar, e sim para contar um delírio que tive enquanto mergulhava na banheira lá de baixo - algo que não fazia há muitos meses.

Como vocês bem sabem, o som se propaga melhor embaixo d'água, e lá estavam meus ouvidos, cumprindo seu papel sensitivo enquanto minha mente dizia descansar. Não tardou para que criasse algumas vozes. Uma delas era suave, doce e feminina. Como uma sereia, apesar de utilizar um tom maternal, protetor: "vem, me segue". Eu estava agora no meu quarto; levantei de minha cama e a segui. Só podia ver seu contorno; ela brilhava sobrenaturalmente. Deveria ser madrugada.
Ela me levou para baixo do toldo, entre as duas casas. Olhamos para a lua. Ela pediu para que eu não sentasse, mas não entendi por quê. Passamos muito tempo contemplando a luz branca no céu escuro. Ela começou a dançar, sempre sorrindo. Convidou-me com o olhar, mas eu lhe disse que não sabia. No entanto, disse isso já dançando, e também sorri. Ela segurava minhas mãos com muita leveza; cheguei a sentir medo que as largasse. Mas a despeito do medo, o sorriso. A alegria que invadia meu peito. Eu não pude deixar de perguntar quem era ela, mas sabia que não me responderia. E dançávamos como crianças sob a luz da lua, sob a valsa noturna.
Ela parou, mas não largou minhas mãos. Voltamos a contemplar o céu. Foi neste momento, entre tantas estrelas, que ouvi sua voz doce sussurrar palavras melancólicas. Enquanto se pronunciava, calei-me. Ela me contou que iria embora, mais cedo ou mais tarde, e que eu deveria estar preparado. Disse que o que sinto é ilusório, que não posso deixar-me enganar; que ela não durará para sempre, e que eu preciso aprender a me virar sozinho. Disse que iria soltar minha mão, mas não agora. Eu a olhei sinceramente. Sabia que tudo aquilo era verdade. Sabia antes mesmo de ela me dizer.

Voltamos a dançar, desta vez mais rápido. Ríamos sem razão aparente. Nossas mãos entrelaçadas flutuavam pela madrugada, e eu ousei perguntar-lhe quem era ela novamente. Mas ela nada falou. Então eu lhe disse: "tenho sede", e ela respondeu: "não tens, não". Eu lhe confirmei que tinha, e ela largou minhas mãos. O frio da madrugada invadiu meu corpo e tomou-me de surpresa, e, com a sede saciada, perdi-a de vista. Desesperei-me; entretanto, estava totalmente conformado. Ainda de pé, aguardei-a observando a lua novamente, com a certeza de que, apesar de meus deslizes, voltaria em breve. E, consciente, torci para que a próxima despedida fosse menos dolorosa.

Abri os olhos e observei a água da banheira esvair-se pelo ralo. O dia seguinte seria uma incógnita; bastava aguardar e enfrentá-lo sem receio.

6 comentários:

Liliane disse...

É bom nos deixar levar... A imaginação nos apresenta a coisas fantásticas e belas. Espero que a encontres novamente em breve.
E a vida é sempre uma incógnita, só precisamos seguir sem medo para vivermos bem.
Beijos.

Max disse...

Na real acho que tu dormiu de boca aberta e engoliu muita água da banheira, uhsauhshuhusahhuas
Belíssimo texto caro amigo!
Abraços.

TAWANE disse...

Linda(des)ilusão,lucas.

- As vezes acontecem coisas que ficam fora do nosso controle
( Michael Scofield)

Anônimo disse...

É o bloqueio na recaptação de serotonina. Assim ela fica mais tempo na fenda sináptica, te dando prazer irracional. Cousa boa.

Belo textículo. Admiro-me com tua produtividade.

Diogo disse...

O mais interessante é que o delírio foi sobre sua prória causa.

Sergio Trentini disse...

uma noite longa pra uma vida curta, mas ja nao me importa, basta poder te ajudar.. e são tantas marcas que ja fazem parte do que sou agora, mas ainda sei me virar.

nao me pergunte porque lanterna dos afogados seria um comentário