quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O Pomo de Ouro

Há dez meses, subi à mais alta montanha, estendi os braços em maior amplitude e lancei-me ao vento, por horas - oito horas diárias -, por dias - seis dias semanais - e, principalmente, com obsessiva dedicação.

Quão forte deve ser o impulso, para que o vôo valha a pena? Quantas pessoas precisamos deixar? Quantos planos, quantos sonhos abandonar?

Eu estendi meu corpo em arco e ergui-me, e voei. Subi tantos pés que os meus gelaram; e após, fechei os olhos - sempre alerta! -, sentindo a brisa, brincando com o tempo, que comigo brincava: claro, escuro; quente, frio... muito frio.

Eu percorri todos os cantos que precisavam ser percorridos, fotografei cada um de seus detalhes e anotei-os. Eu aprendi todos os segredos que julguei secretos; dos pássaros estudei o corpo e até a alma - e o coração; os homens lá debaixo, enxerguei-os por dentro, compreendendo-os como organismos, como atores, como agricultores, imperadores, presidentes, assassinos, libaneses, pensadores, estrangeiros e até alquimistas. Eu os admirei e os odiei por cada dia dos últimos meses, sempre perguntando-me o motivo. No entanto, qual deles me estudou? Qual deles me admirou?

Quando a noite caiu, pousei. Em partes. Em meus sonhos, sobrevoava a Amazônia (e também Manaus), via dezessete árvores densas e as chuvas de verão, além de irmãos brigando por causa de vinte e um problemas de relacionamento. Descia a serra e via a acidez que caía em mais de vinte e uma gotículas de solução aquosa. Na velocidade da luz, percorri dezenove quilômetros retilíneos e uniformes. Li, pois, outras vinte e uma placas de "No Stress", e fui-me acalmando. Lembrei-me dos primeiros que naquele solo raso pisaram, e vinte perguntas me ocorreram. Dentre elas, dezenove me interpretaram corretamente. E uma onda de pavor me tomou; mas apenas onze interpretavam os outros viajantes. O calafrio forçou-me a olhar as mãos, que, trêmulas, somavam dezoito dedos. Foi então que me deparei com um monstro. Um monstro de dezesseis longos tentáculos articulados que me imobilizaram cruelmente, impedindo qualquer reação.

Ao acordar, assustado, percebi o peso que é cometer um erro que compromete oito acertos. Deprimi-me de instantâneo, joguei-me com ferocidade contra o abismo que me esperava e mal pude abrir os braços novamente. Mas em vez de subir, inclinei-me para baixo. Os olhos, abertos, secos, cansados, traíam-me perante o ímpeto de esperança que um ou outro suspiro causava ao meu machucado pulmão saudável.

Como saber, em cinco chances, qual é o erro que me corroeu as entranhas? Qual dia, qual vôo, qual memorização foi falha em minhas viagens aéreas? Qual bosque me faltou? Qual olhar me fugiu? Que paisagem me ignorou?

Em um declive depressivo, mas esperançoso, vi um pomo metálico, alado e dourado, cruzando o caminho oposto. Que cor! Que brilho! Perguntei-lhe: no que, afinal, errei? Ele não me deu resposta; não obstante, estendeu-me uma de suas lindas asas até a altura de meus dedos.

Leva-me, pomo de ouro! Eu ainda os tenho estendidos.


12 comentários:

Liliane disse...

Querido, teu texto é brilhante. Quem conseguiria escrever sobre o vestibular e a experiência de passar por ele de forma tão poética, intrigante e inteligente?
Na verdade, o mais importante é que tiveste a coragem para subir na mais alta montanha e lançar-te ao vento! Quantas pessoas passam pela vida sem voar? E o pomo de ouro sempre estará ao teu alcance! Tens a coragem e a capacidade de buscá-lo.
Beijos.

Liliane disse...

E eu sempre vou te admirar!

Marcelo disse...

Não saquei...
e a propósito, como foi no vestibular?

Paola disse...

foi um dos anos mais difíceis e de alguns sacrifícios que tenho certeza que serão recompensados! sempre soube que tu era capaz disso e muito mais... agora é só esperar, amor! não sei o que os outros sentiram, mas eu me emocionei lendo isso... como se fosse passando um filme! parabéns por ter chegado até aqui, amorzão!!! te amo muito!

Max disse...

Não desanime meu amigo, pois como já dizia o gaudério "Não tá morto quem peleia!"

Jonas Kloeckner disse...

Foi a descrição mais linda que já li a respeito de uma batalha épica! Tinha que mostrar esse texto para os corretores de redação! Tenho certeza de que não deixariam escapar uma mente tão brilhante de sua universidade!
Tu, de fato, surpreendeste todo mundo - não duvido que até a ti mesmo - quando mostrou tua real capacidade, a qual se mostrou ilimitada. Independente do que aconteça, tu mereces todo respeito do mundo por tal feito. Admiro-te do fundo do meu coração rapaz! Esteja certo de que tudo acabará bem no final!
Beijos na alma.

Jonas Kloeckner disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lucas disse...

obrigado a todos vocês, os meus verdadeiros amigos :) vocês fazem tudo valer a pena!

Diogo disse...

Sem dúvida, teu melhor texto. Impecável, como certamente foi tua redação. Eu não ficaria surpreso se tu gabaritasse a porcaria.
Vai dar certo, amigão.

Sergio Trentini disse...

Tu é demais, luke. Vai conseguir! tô torcendo por isso de verdade! Um beijo no coração, laranja suada.

Sergio Trentini disse...

Aliás, baita texto. Consegue ser genial mesmo agoniado.

francielle disse...

Inacreditável como tu escreve bem...quase chorei lendo esse post...mas o importante agora é tentar relaxar e esperar pra ver teu nome no listão!!!To torcendo MMMMUUUUIITOOOO por ti, gurizinhuuu!!!!Bjjuuuuu