domingo, 5 de junho de 2011

Hacia Uruguay (Primer Día)

 Aí está o relato da viagem ao Uruguai, primeiro dia, escrita boa parte em tempo real. Abram aspas:

Acabamos de chegar em território uruguaio e as coisas já ficaram espertas: a senhora da imigração não foi com a minha cara e, uns 50km após, resolvemos dar uma paradinha na cidade de Vergara - basicamente um vilarejo acidental. Os habitantes são feios e tímidos, e não sabem dar muitas informações. Procurei ser bem claro e educado, como todo estrangeiro deve ser, e depois de algum tempo rondando a minúscula cidade encontramos o que bem poderia ser o único restaurante da cidade.
A senhora dona não parecia ser feliz. As duas mesas livres (não haviam nem dez no recinto) estavam sujas. Depois de rondarmos de pé esperando orientação, percebi que esta não viria, então tomei a frente e perguntei à senhora dona "como se fazia para... comer". Juro que essa foi a pergunta. Ela me olhou meio aborrecida e falou "só toma um assento e espera". Tomei aquilo como um conselho e orientei os companheiros a sentarem-se na maior mesa suja. Esperamos por volta de 15 minutos e ninguém veio nos atender, sendo que passavam por nós direto sem nos olhar. Até que tivemos a brilhante idéia de perguntar se eles aceitavam reais, já que não havíamos feito o câmbio ainda. E surpresa: não aceitavam. Até com a gerente falei (ou algo próximo disso). Atravessamos a rua e fomos numa venda na qual o senhor era mais simpático e de certa forma até meio gaudério; "buenas", me disse. E me ganhou aí. Então perguntei se aceitava reais e ele disse que sim. Até me informou do câmbio, o que me deixou muito feliz. Só não comprei nada porque não queria mesmo, mas os guris compraram alfajores. Por algum motivo, surgiu uma suspeita entre nós de que os cavalos é que dominam as pessoas nessa região, quando passamos por cavalos que usavam roupas. Isso explicaria a infelicidade da população em geral nesse vazio fronteirístico. E para a nossa felicidade, quando pegamos estrada novamente, vimos uma "carroça ao contrário" - um carro levando um cavalo muito robusto. Tirem suas próprias coclusões. Agora estamos esperando alguma outra cidadela surgir no mapa em direção a Montevidéo para comermos algo, mas pelo que calculo, não estamos nem perto do centro do país, cuja capital se situa na ponta oposta.
Após chegarmos na cidade Treinta y Tres, localizamos um restaurantezinho "loco de especial", que teoricamente vendia pancho e carnes. Nos atendeu um casal de velhinhos simpáticos e de aparência muito suja, tanto quanto o ambiente. Logo faziam graça por perceber nossa nacionalidade, e sugeriu que no lugar do pancho comêssemos uma de suas carnes; "que carnes o senhor tem?", disse eu, ignorando o frango sujo e rodeado de moscas no qual o homem tocava com as mãos nuas, dizendo "pollo!". Acabamos pedindo um pancho, mas mais uma vez lembramos do dinheiro, e ele não quis aceitar. Triste, mas verdadeiro. Ao sair, o Floriano comentou que tínhamos acabado de nos livrar de quatro doenças diferentes. Não sei se de quatro, mas com certeza não comer aquilo foi a coisa mais saudável que já fizemos no dia de hoje.
Chegamos em Montevidéo pela tardinha, já anoitecendo. Foi quando percebemos que não tínhamos o endereço do Hostel, tampouco uma idéia de onde consegui-lo; nas ruas, não conseguíamos encontrar wi-fi, e então paramos num posto para pedir informações. Depois de muito trabalho, meio sem saber como fazer, Pablo conseguiu um sinal wi-fi, e achou o endereço do hostel; com o GPS, chegamos lá em 20min.
O hostel era bem menos interessante do que parecia; o quarto continha cinco beliches, mas nessa noite de sexta a única pessoa que dormiu nele além de nós era uma uruguaia bem distante. Depois de testar os banhos, bem quentes por sinal, fomos todos fazer a primeira refeição decente do dia no coração de Montevidéu - la ciudad vieja, um local histórico cheio de prédios muito antigos e monumentos legais. Pedimos um bife à milanesa com batatas fritas que estava bem saboroso. Voltamos para o hostel e tocamos um pouco de violão, eu e o Lucas, e mais tarde resolvemos sair, lá pelas 23h, para conhecer a vida noturna uruguaia. "Bad mistake", como dizia o guia chileno de Santiago; as ruas estavam absolutamente desertas - e isso era na parte turística da cidade -, os prédios pareciam desabitados e os pontos comerciais estavam fechados. Sim, sexta de noite. Então começamos a andar. E andamos...
Após horas de caminhadas, conseguimos comprar uma cerveja muito além do Teatro Solis, depois de passar pela praça da Independência, cujo monumento é magnífico e gigantesco. Somente algumas horas depois é que dobramos na rua "certa" e encontramos meia dúzia de bares, dentre eles o famoso Ponei Pisador. Isto foi o máximo de gente que a gente viu: umas 50 pessoas. Meio decepcionados, entramos em cada um dos bares para verificar se não havia uma milagrosa reunião de uruguaios, e... não aconteceu.. Mais tarde, entramos no ponei. Algumas latinas dançavam loucamente uma mistura de cumbia com salsa, mas todas acompanhadas e a maioria das pessoas era mais velha. No pub irlandês, uma ótima trilha sonora nos pegou de surpresa: até eguinha pocotó, nos fazendo sentir orgulho de ser brasileiro. Depois, uma versão uruguaia de "Ilha do sol" (?) do Netinho nos fez sentir em casa. Quando demos uma voltinha, encontramos um outro pub no qual algumas uruguaias novas e feias nos orientaram a não entrar, indicando um que seria "mais a nossa cara", chamada La Bonita. Chegando lá, vimos que era uma casa noturna meio legal até, mas quando tentamos entrar, a surpresa: "levantem os sapatos por favor", disse o segurança careca e gordo. A gente ficou meio "que merda é essa?", e ele insistiu... no fim, barrou o Pablo porque ele estava de Nike Shox. No início pensamos ser piada, mas ele não sorriu por tempo o suficiente para mudarmos de ideia, e então nos explicou que lá quem usa este tênis é mal visto, e desde que proibiram o histórico de confusões foi reduzido; que entendia não sermos de lá, e que poderíamos ser boas pessoas, mas que não poderiam mudar as regras. Depois, trouxe uma loira explêndida para nos convencer a voltar lá no dia seguinte com outro sapato. De fato funcionou.
A noite meio que terminou conosco voltando ao hostel com um sentimento de esperança. Pelo dia seguinte, porque este noite foi meio desestimulante...

Um comentário:

Liliane disse...

Quando se iria imaginar que um Nike iria barrar a entrada de alguém em algum lugar!
E a noite de Montevidéu realmente parece muito frustrante, especialmente em se tratando de uma capital federal...