terça-feira, 12 de outubro de 2010

The Stalker (#3)

Disse um chinês num passado longínquo: "Lamentar o que não temos é desperdiçar o que possuímos".

Alertou também, o chinês, que se não leste as partes um e dois e por algum motivo desejas seguir, é recomendável que as busques nas postagens abaixo.


Parte 14: Para que um grande desejo se realize, é preciso ter um grande desejo

Hiperbólico? Reafirmo.
Não obstante, trata-se de um fato, e não de um argumento. Tanto ocorreu desde o último relato, que sequer recordo a ordem de los hechos; hei de organizá-los, pois, à minha maneira.


Parte 15: Nadie es imposible 

Nosso hermano Jorge Luís Borges já assim dizia: que ninguém é impossível. Até mesmo aqueles cuja árvore milagrosa é plantada no cume de uma montanha flutuante poderão, um dia, alcançar seus frutos. É o que me motivou nesses últimos dias. Há duas ou três semanas, creio, tivemos um singelo diálogo de três minutos - três séculos em meus olhos - no qual a avisei de uma futura aula extra. O sorriso recebido em troca desarmaria a Invencível Armada espanhola. Meu Deus, se eu lhe cresse, a ti abençoaria por tão bela arte ter-me criado. Digo "a mim", porque nadie es imposible, e já estou convencido de que o êxito é fruto do desejo, e basta.
Na ocasião, olhei em seus olhos - bicolores - mas não tive coragem de confirmar o fenômeno de perto. Quando os olhares se cruzam, sente-se a chama flamejante do "mistério inexplicável", o qual me nego a proferir para não corar. Em um paralelo racional, meu sistema simpático ativou-se diante de sua simpatia. Ah! Aguardei ansioso por um agradecimento especial por orkut. O que naturalmente não aconteceu.


Parte 16: Podemos nos defender de um ataque, mas somos indefesos a uma gentileza

Adaptada de um mestre psicopata, a frase remete-me ao dia em que estávamos na aula de história, cujo professor concentra uma entropia acima do comum. Por conseguinte, abusa das baixas temperaturas do ar condicionado. Conscientemente ou não, sentou-se à minha frente; vi-a tremer - quão bonito é o frio em sua pele! - e segurei-me para não oferecer o casaco. Voltando para casa, tomei um Nescau a mais para criar coragem: mandei-a um depoimento. Disse que lhe notei o frio - em eufêmicas palavras, por óbvio. Respondeu-me logo tão simpaticamente que desta vez fui o que tremeu. Repliquei: lhe ofereceria meu casaco, mas não saberia sua reação.
A despeito de não obter resposta desta vez, ambos os depoimentos foram mantidos intactos em seu perfil por 96 horas.


Parte 17: A primeira grande desilusão, tão dolorosa quanto resquícios flamejantes de um projétil metálico deformado


E após tal investida - que considerei a primeira relevante - senti a doce ilusão da esperança crescente, de forma semelhante à minguante pálida de nossas madrugadas, que, apesar de encher-se por completo, não tarda a regredir novamente. Não a vi por um bom tempo, o que não é novidade. Quando, porém, tive tal sorte, vi-a acompanhada. "Ora", perguntarás, "como não soubera de tal condição! Que lhe passou?"
É que foi a primeira vez, caro amigo, que a vi retribuindo, ainda que de leve, alguns gestos de afeto.


Parte 18: O inevitável sopro noturno de inspiração, gerador de obras inúteis e inexpressivas


Daí, procurei certa vez descansar. No entanto, algo me excitou deveras: uma melodia surgia em minha mente, sob a imagem de sua face. Era óbvio para mim que o sopro noturno de inspiração me viera visitar. Sentei à cama, puxei o piano elétrico pelas bordas and I played it by heart. Não fui eu quem a criara; pelo contrário. Basicamente renasço quando as pontas de meus gélidos dedos expressam, sem uma palavra, aquilo que meus lábios mórbidos e atravancados não conseguem proferir. Mais três pessoas ouviram a melodia quase completa, cujo nome não lhes será nenhuma surpresa. Algum palpite?
Ah! Desconsidera a conjunção vulgar que utilizei para abrir este capítulo.




Parte 19: Momentos especiais de uma história especial


Mas apesar das desilusões, houve também momentos especiais, nos quais pude me certificar de que o jogo de fato está em andamento. Não, jogo não; o "concerto" soa melhor.
Lembra-me a aula de literatura, há umas duas semanas, à qual foi acompanhada do afortunado rival. Não é comum tal conjunção; no entanto, creio que é a arma que este tem contra a incerteza da investida cega de um outro semelhante. Que não me vai atacar, é fato: poria tudo a perder, qualquer que fosse o resultado, além de estar reafirmando o perigo que, até então, é tão sutil quanto fora a Guerra Fria aos olhares soviéticos. Mas voltando ao assunto axial, nesta aula literária sentei-me no canto esquerdo da enorme sala, protegido por uma muralha feminina ao redor - em especial uma peculiar jovenzinha do interior gaúcho que me persegue declaradamente. Ela e o sujeito chegaram bem atrasados, sentando no canto inverso da sala, também rodeado de pessoas. Havia um ínfimo ângulo ligando nossos olhos através de uma distância razoável. Ademais, para que nos víssemos seria preciso desviar o olhar da aula em si em um ângulo de, no mínimo, 80º. Não se satisfazendo, ainda teríamos ambos de cuidar o asqueroso olhar rival, um para evitar conflito, e a outra para evitar... conflito também. Confesso ter sido uma surpresa agradável quando, em um determinado momento da aula, nossos campos visuais se cruzaram em uma linha paralela, diretamente, e o que de mais improvável havia de acontecer, de fato ocorreu. Gelei; mas satisfiz-me.
Em outras ocasiões, notei que procurava sentar sempre ao meu redor. Volto a dizer - não duvido da inconsciência, porém há uma chance, e quaisquer possibilidades de cura abrem um horizonte infinito a um enfermo.




Parte 20: a tática indiscreta do duelo de belezas e, por que não, de vaidades


Não fora de todo proposital, mas confesso que rendeu bons frutos. Minha belíssima amiga T. acompanhou-me em uma tarde de quarta-feira, entre as aulas. Sentamos em um dos bancos da varanda do curso. Não me era surpresa que a veríamos em breve, e de fato passou por nós. Senti diretamente seu olhar de incoerência. Não digo que lhe despertou qualquer sentimento eufórico; no entanto, a incerteza de seu olhar a fez sentar num banco muito próximo, de frente a nós, junto de uma amiga. Não fora uma só vez que trocamos os mesmos raios visuais; aliás, cheguei a contar alguns segundos em uma destas ocasiões.


Parte 21: não desejo falar de hoje

Porque não ainda me certifico do que de fato sucedeu. Ando visivelmente tocado pela situação, e é de tamanha intensidade, que até mesmo quem não suspeitava, agora é dono de maquinações maléficas. Não lhes tiro a razão: está escrito em meus olhos. Eis o grande defeito do vaso transparente: pode-se enxergar através dele. Dirás: "ora, mas que grande redundância!", do que, aliás, discordarei com muito rigor.

Tem sido difícil lidar com isso como quem lida com um cadáver sob o formol. Observá-los, analisá-la, evitar o contato apesar do imenso desejo... ontem mesmo, nas primeiras horas da madrugada, voltávamos eu e Jonas da noite porto-alegrense, quando me deparei com uma mudança drástica em seu perfil. Seu e-mail, que antes nos era oculto, fora revelado; um texto indecifrável fora adicionado; a frase de liberdade foi reconstituída.
Consultei o Jonas, que, a essas alturas, divertia-se jogando WII sozinho, às 6h da manhã, na minha sala de estar (jamais questione costumes germânicos). Ele me mandou adicioná-la. Eu refleti por tantos minutos que sequer lembro de quando tomei a corajosa decisão. O fato é que a tenho, pois, teoricamente, nos meus contatos de MSN. O problema é como agir quando tal diálogo for inevitável. Diante desses fatos, encerro o terceiro volume com as sábias palavras de meu amigo Marcos, que descobriu-se talentoso em comparações insólitas:
"Marcos diz: quest difícil essa, cara..."

6 comentários:

Liliane disse...

É melhor ser transparente que um vaso turvo!
Lindo texto, como os anteriores. É impossível, após lê-los, não torcer e esperar por um feliz desenlace.

Marcos disse...

A cada post teu fica mais evidente o quão importante é essa menina pra ti.Agora com o msn dela as coisas facilitam , creio eu.Continue firme rapaz!
Abraço

Diogo disse...

Agora que ela está no msn, falta apenas um passo para que leia o blog e talvez ligue os pontinhos, o que deve ser algo bom. Apesar da tua psicopatia, a coisa toda é muito bonita.

Lucas Di Marco disse...

ich denke dass, werde ich nicht ihr online sehen.

Sergio Trentini disse...

nao fica braboooo

Senhorita Rosa disse...

Nosso plano deu certo, então? \o/