domingo, 20 de dezembro de 2009

Atividade Paranormal: Nunca Mais Vou Dormir


Não consegui pensar em outro título para minha primeira crítica cinematográfica. E tampouco me agradaria fazê-la aqui, num espaço tão íntimo, no qual agrego minhas idéias e meus acontecimentos corriqueiros...

Mas quando me dei por conta, à 1:30h da madrugada, que o filme ao qual eu assistira havia mais de 3h AINDA ME CAUSAVA CALAFRIOS, percebi que merecia não só um lugar no meu blog, mas um blog inteiro para ele.

O maior problema do filme não é o fato de ele ter sido feito para parecer o mais realista possível. É o fato de ele SER o mais realista possível, ao ponto de considerarmo-nos parte deste, inclusive após chegarmos em casa, ou até pela manhã, ou em qualquer momento em que estejamos sozinhos...

Certa vez, acompanhando uma entrevista do famoso escritor contemporâneo Milton Hatoum, no Plaza Hotel, ouvi dizer de sua boca (obviamente, e não dos seus ouvidos) que o melhor livro de mistério é aquele que não revela ao leitor o que ele aguarda mais do que tudo, mas apenas sugere-lhe. O grande truque de Atividade Paranormal é a dispensa dos velhos e ultrapassados monstros-de-terror, aquelas criaturas que assustam mais pela cara do que pelo caráter. Se o teu conceito de terror é passar horas aguardando o personagem principal ser atacado fisicamente pelo "grande monstro", seja ele um mascarado rejeitado quando criança, ou um boneco falante mesmo-sem-pilha, é melhor assistir logo esta obra de arte. "Ah, Lucas, então se trata de fantasmas, é?". Quem dera, amigo, quem dera fosse um fantasma tosco o motivo de eu não dormir noite passada. Não, o segredo do filme é que nem mesmo a turma do Gasparzinho faz parte do elenco.

Quando eu assisti a "O Exorcista", lembro-me muito bem do medo que senti. É algo que cessa quando o padre chega, quando a porta do quarto se fecha, quando a cena muda. É algo que está direta e dependentemente ligado aos quilos de maquiagem despejados na cara da pobre menininha. Não é isso que verás em A.P. Também lembro-me de Sexto Sentido ("mas não é terror!"), é sim, seu hipócrita. Nem mesmo aquela parte da mulher de pulsos cortados perseguindo o piá, ou a vomitadeira na barraquinha, ou o guri sem cabeça mostrando o esconderijo da arma do pai, nem mesmo essas cenas podem fazer-nos sentir tanto pavor quanto o oculto e subentendido truque desta magnífica obra, cujos atores e diretor são TOTALMENTE inexperientes em se tratando de carreira cinematográfica, e cujo preço não passou de 11 MIL DÓLARES. Sabem o que isso significa? 11 MIL DÓLARES! É quase o preço de um Corsa velho! Não é à toa que aquela máxima sempre predomina: a maior beleza está nas coisas mais simples. Quando fores assistir, verás que não há de ser diferente.

Atividade Paranormal se destaca porque o quê de terror que sentimos se inicia nos primeiros minutos e não cessam após terminar o filme. E não precisaram de caretas, de máscaras, de serra-elétrica, de jovens bruxos alternativos ou de uma máscara do pânico para nos deixar em pânico (aliás, o próprio Jason se borraria nos cinemas do inferno). O medo está no simples fato de não haver algo para culparmos, não haver soluções para cessá-lo. É como penso sempre: basta um homem-bomba para mandar o menino Jason para o inferno de vez, ou para explodir a menina do exorcista... basta um facão de cozinha para arrebentar o focinho do Chucky, e uma arminha de chumbinho seria o suficiente para afastar os zumbis de Resident Evil (é assim até no vídeo game, pô!). Mas o que fazer quando o perigo não é palpável? Sequer mensurável? Eis o que sentirás no cinema nas próximas noites de dezembro.

A minha idéia brilhante foi a de ir acompanhado de minha namorada e de minha irmã. O que me fez parecer um covardão, porque, dos 5min iniciais do filme até eu pegar no sono, se alguém encostasse o dedo em mim eu ia sair gritando com as mãos para cima. E pela noite - até vergonha me dá -, quem me consolou antes de dormir? Bom, isso fica a critério de vocês.

Amigos, para quem quiser assistir ao filme, não se preocupem que não vou contar o fim, apenas uma síntese breve do enredo: um casal de namorados moram sozinhos, sendo que a mulher convive com uma entidade que a persegue desde criança. Para tanto, o namorado resolve comprar uma câmera (a mesma câmera usada no filme do início ao fim) e filma tudo que acontece, principalmente nas noites em seu quarto. O resultado disso é o medo mais ocultista e apavorante que já senti na minha vida, com o qual terei de aprender a conviver (esta noite, que será a primeira que passarei sozinho...)

Assim que o filme acabou, todos os 15 humanos dentro da sala estavam ainda trêmulos. Uma música estranha começou a tocar no cinema enquanto a tela escureceu, e as luzes acenderam normalmente... mas não totalmente. Logo começaram a piscar, e a música parou. Quando o telão obscuro, no silêncio mórbido, resolveu piscar também, todos nós quinze começamos a correr até a saída, numa corrida apavorante pela vida que jamais esquecerei. Ris? Quero vê-los rindo depois de assistir-lhe.

A única conclusão que posso extrair disso tudo é a seguinte: se tu já vivenciaste um incêndio no prédio em que moravas, tendo de se jogar numa rede de bombeiros para salvar a tua vida e a vida de teu filho e a de mais três filhotinhos de cachorro, NÃO TENS A MENOR IDÉIA DO QUE É SENTIR MEDO! O que sentirás nesta película não se baseia em medo ou susto - isto aliás se é dado em pouquíssimos momentos -, mas sim PAVOR, aquele que torna até tuas fantasias mais infantis em HORROR, em INFERNO, em TREMORES NEFASTOS.

E tenho dito, até porque uma lição é bem dada no filme, e pude finalmente entender o alívio que Harry Potter sentia ao dizer "Você-Sabe-Quem" no lugar do nome macabro. O meu quarto possui um teto de gesso que dilata durante o dia e retorna à noite, fazendo barulhos tão intensos e ocos que, até ontem, me pareciam tão naturais...

...ou sobrenaturais?

(droga, agora é que não durmo mesmo)

8 comentários:

:) disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
:) disse...

É, realmente mano. O filme foi tão assustador e tão bom, que até agora não paramos de falar nisso.
E eu me pergunto: POR QUE EU FIQUEI TÃO FELIZ DE TER IDADE SUFICIENTE DE ASSISTIR ESSE FILME NO CINEMA? eu reamente não sei, mas agora eu sei que estaria feliz de ter visto sozinha 'a princesa e o sapo' ao invéz de 'atividade paranormal',com vocês. Eu estaria feliz com o filmezinho infantil que me faria sonhar de noite com um romance tosco, e não ter que me preocupar em me tapar inteiramente com as cobertas até a cabeça e não acordar em 1 e 1 minuto para me certificar que estou sozinha no quarto sem ninguém me olhando ou fazendo barulhos estranhos. E SE FALTAR LUZ DE NOITE? eu vou sair correndo pro quarto mais próximo possivel onde tenha alguem que não me assuste.
O pior de tudo, é ter um irmão super querido do lado: se tu gritar eu nunca mais te levo pra lugar nenhum! Ou se eu começo a morder o canudo do refrigerante pra tentar não ter tanto medo(o que é realmente inpossivel nesse filme) : Para com esse barulho guria! o que tu ta fazendo? e eu só olhava desesperada querendo sair correndo. Eu fiquei muito, mas muito feliz quando acabou. Eu consegui fazer o que eu queria desde o início: sair correndo.

Marcelo disse...

Já tinha ouvido falar desse filme antes! O cara falo que 90% das gurias saíram do cinema chorando e mais da metade dos caras com cara de pavor... quando sair em DVD temos que combina de reunir todos na casa de alguém pra assistir :P

Paola disse...

Com certeza eu não escolheria a minha casa pra assistir!
A Thays além de falar bem em público tá escrevendo bem também? Mas que coisa!
Hoje acordei sozinha, 4 da manhã, e assim fiquei até minha mãe acordar, haha... E ainda ri de ti quando acordei e vi dois olhos gigantes abertos.
"Você-Sabe-Quem", muito verdadeiro isso.
Nem sei qual parte foi melhor... a Thays gritando "acabou?!", as cenas macabras das noites ou a corrida desesperada, até dos homens, de encontro a porta. Muito bom, mas não pra ver na minha casa!

:) disse...

hahahahah , ai obrigada cunhada!
Vocês tem problemas, ver de novo? tudo bem que eu sou um pouco cagona (ok, ok muito!) mas eu fiquei com tanto medo, que ontem eu fiz de tudo pro Lucas dormi comigo. Cunhada eu vi até a metade do filme que tu não queria ve! e é muito troxa, realmente ! hahahah eu acho que o lucas aceito tão fácil dormi no meu quarto, porque também não queria dormir sozinho, no quarto que o teto faz barulhos ! *-*
O pior foi que bem na hora que eu fui botar o copo de refri no lixo, a tela pisco, sim eu dei um pulo seguido por uma corrida pela sobrevivencia ! hahahaha e eu só fiz a pergunta em voz alta. Garanto que todo mundo penso 'acabou' ! Mas ninguém me entende ¬¬ e eu tenho uma pergunta , o que acontenceu no final, quando a camera não mostro? aaai minha imaginação ! hahahahaha

Liliane disse...

Pelos comentários, não sei se EU quero ver este filme?!?!?!? E olha que eu não sou de sentir medo, muito menos de filmes de terror.
Na verdade, eu costumo rir muito nestas ocasiões, por mais estranho que possa parecer. Mas depois de ler o teu texto Lucas e os comentários das meninas, não sei se vou arriscar! hahahahahaha
Espero que já estejam todos dormindo bem, em seus próprios quartos e sem sobressaltos...

Jonas Kloeckner disse...

Lucas, percebo, assim, que cometi uma bela gafe ao assistir tal filme na tela de um computador à tarde. Tentarei de novo no cinema com minha namorada enquanto há tempo! hasuhas
Penso que em minha casa seria o "melhor" lugar para expressarmos nossos mais profundos temores sem sermos julgados pelos gritos aviadados que daremos apreciando A.P.
Abracitos!

Fátima disse...

Ah, mas que agradável surpresa ao me deparar com tua primeira crítica de cinema. Sou cinéfila e li o resultado que o filme provocou em ti.Se pesquisares sobre listas de filme desse gênero,encontrarás outros que te causariam a mesma sensação ou até pior.Mas com relação ao pavor sugerido através da personagem e não aquele que visualizamos na forma seja lá do que for, realmente esse é sempre maior.Crescemos com ele Lucas, assim como humanidade desde seus primórdios, ele toca a nossa mente justamente no ponto onde reside todos os nossos medos. E o maior de todos, na minha forma de ver, é o Grande Medo, ou seja, o medo do próprio medo, porque esse toma proporções inimáginaveis quando nos rendemos a ele.Desde quando tinha 9 anos, percebo (vamos usar essa palavra) que possuo acompanhantes , hum... vamos usar o termo, de outra dimensão.Naquela época meu pavor era grande, mas a medida que crescia e ia perdendo o medo, comecei a estabalecer limites para que esses visitantes não criassem o hábito de invadir minha dimensão.Quando sinto-os próximos de outras pessoas e que sua vibração não é boa, mentalizo um mantra poderoso, aqueles que não sintonizam com uma boa energia vão embora.O cinema se encarrega através desse tipo de filme, de cutucar esse medo e transformá-lo em terror. É uma pena, pois perdem a oportunidade de abordar o tema de outra forma, não tão sensacionalista. Mas existem filmes que trabalham esse tema, mostrando uma outra forma de encararmos essas possibilidades que nos amedontram tanto e que estão ligadas a uma grande questão: Existe outra dimensão? como ela é?... e por aí vai.Hoje, moro sozinha em uma casa grande e já aprendi a lidar com a maior parte dos meus medos, aprendi que quase a totalidade deles nunca se tornam realidades concretas. Um abraço.